Por Jamerson Silva

O Atlas da violência 2020, divulgado nesta quinta (27), choveu no molhado e continua escancarando o que já sabemos: A máquina de moer gente preta do Estado brasileiro segue ativa, triunfante e aumentando sua capacidade de letalidade todos os dias. Neste último levantamento, a taxa de negros assassinados no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, um aumento de 11,5% no período. Entretanto, os homicídios entre os não negros no mesmo estudo registraram uma diminuição de 12,9% (de uma taxa de 15,9 para 13,9 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes).

Na frieza dos números, o levantamento indica que para cada indivíduo não negro morto em 2018, 2,7 negros foram mortos. Há estados em que essa diferença é ainda maior. Em Alagoas, para cada não negro vítima de homicídio, morreram 17 negros. O Atlas da Violência nos diz o que toda e qualquer pessoa negra deste país sabe: somos alvos ambulantes, as balas tem nossos corpos como endereço preferencial e toda a estrutura conspira e opera para erradicar nossa existência.

É necessário deixar explicito em qualquer conversa que tenhamos sobre este assunto que, apesar de o bolsonarismo ter dado condição de boa parte da sociedade brasileira tirar a máscara e tornar público o desejo de nos matar, isso não começa agora e nem as políticas de reparação e inclusão dos últimos anos, apesar de ter ajudando criando algumas oportunidades, tiveram qualquer efeito em suprir a necessidade mais básica para qualquer pessoa negra que é ter o direito de não ter sua vida ceifada a troco de nada.

A interrupção do funcionamento desta moenda macabra e perversa não é fácil e não tem fórmula mágica. O caminho é um só e é mesmo o indicado por Malcolm X, citado pelo Érico Brás num papo que tive com ele esta semana e que me foi dado como régua e compasso há anos atrás, na luta da vida real, sob o comando vital de Doutora Andreia Beatriz e Hamilton Borges. Precisamos garantir nossas vidas e liberdade “por todos os meios necessários”.

*Jamerson Silva é soteropolitano, morador de Cajazeiras. Militante do Movimento Negro. Publicitário, músico e produtor cultural com mais de 15 anos de experiência em produção de eventos. Ele é idealizador e administrador da casa de shows Jam Music & Bar e trabalhou em diversos projetos de formação para a cadeia produtiva da música baiana e brasileira e é pré-candidato a vereador na candidatura coletiva da Bancada de Todas as Lutas