Por Luiz Eduardo Cani e Juan Manuel P. Domínguez

No filme “The Pervert’s Guide to Ideology” (2012), Slavoj Zizek diz o fascismo é, na sua essência, uma “revolução conservadora” que visa manter as hierarquias da sociedade tradicional. Uma sociedade moderna e dinâmica, porém, controlada por valores hierárquicos que não aceitam distinção de classes ou de qualquer tipo. O fascismo então precisa criar uma narrativa ideológica que explique o fracasso dessa sociedade, não como o resultado das tensões entre classes, próprias de uma sociedade hierárquica e excludente, e sim como a consequência de um intruso, um inimigo interno ou externo. Nesta narrativa, cria-se um momento histórico ideal, um momento em que “tudo estava bem”, momento que foi bruscamente interrompido por uma aparição perversa, que veio poluir aquele modelo “tradicional” de sociedade nacional.

Tanto o fascismo alemão quanto o fascismo italiano, nasceram como movimentos com discursos extremistas contra minorias e contra o avanço do comunismo. Hitler e Mussolini diziam defender os interesses das suas respectivas nações, contrários aos interesses dos comunistas, que queriam perverter as famílias, as crianças e as mulheres. O nazi fascismo teve um discurso homofóbico muito forte, porém, não foram somente os homossexuais os únicos alvos de propaganda fascista de ódio. Ciganos, negros, judeus, toda  minoria que não obedecesse ao padrão alemão tradicional era alvo dos discursos beligerantes de Hitler, e coisa similar aconteceu com Benito Mussolini.

No livro “Marcados pelo triângulo rosa” de Ken Setterington, conta-se a história da tortura sofrida por homossexuais durante o holocausto (Foto: USHMM)

Bolsonaro arrebanhou seguidores desde o impeachment de Dilma. Surfou na onda provocada pelos discursos de combate à corrupção, de ódio ao PT, de luta contra o comunismo, etc. Um trabalho similar ao feito na Itália de Mussolini e na Alemanha nazista. As jornadas de junho de 2013, instauradas a partir da multiplicidade de reivindicações das esquerdas, muitas das quais eram críticas ao neoliberalismo vigente, foram, em parte, sabotadas, inundadas por um ambivalente discurso pseudo-nacionalista (defesa de uma contraditória concepção europeia-estadunidense de direito, política e economia, excludente da maioria dos brasileiros que sobrevivem em precárias condições, mas só para preservar um “direito” que pensam ter, direito a passear na Europa e nos EUA tantas vezes quantas conseguirem; portanto, viralatismo, travestido de nacionalismo, afirmação da cultura estrangeira, como se brasileira fosse[1]).

As manifestações que começaram contra o aumento das passagens de ônibus, foram deturpadas por bandeiras de combate à corrupção (mas só a de alguns), de demonização das esquerdas e outras pautas das direitas (variáveis desde o tradicional kit neoliberal – sapatênis + camisa gola polo + defesa da liberdade para ser escravo das grandes empresas – até o extermínio dos comunistas). As eleições de 2018 não são a-históricas. Há, em junho de 2013, um evento importante – e inacabado. As tensões discursivas atravessaram aquele período e ainda estão presentes em 2020. Este artigo é prova disso.

Muito pode (e deve!) ser dito sobre Bolsonaro e o bolsonarismo[2]. Os anais da história do Brasil estarão prenhes das arbitrariedades desse período, mas, para isso, precisamos dizer. Os judeus sobreviventes dos campos de concentração ensinaram uma lição importante: é preciso que os sobreviventes testemunhem; é preciso denunciar[3]. Interessa-nos, neste artigo, denunciar que o bolsonarismo é a expressão mais acabada, até o momento, do fascismo brasileiro.

Mas o que é fascismo? Edda Saccomani, autora do verbete Fascismo no Dicionário de política, organizado por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, apontou três sentidos frequentes: (1) Núcleo histórico original: fascismo italiano; (2) Dimensão internacional: equiparação entre fascismo e nazismo pela “comunidade internacional”; (3) Movimentos ou regimes que compartilham características ideológicas, critérios de organização e/ou finalidades políticas do fascismo italiano[4].

A compreensão correta do que pretendemos dizer passa por duas observações. Primeiro, neste texto, trabalhamos com o terceiro sentido – único compatível com nosso objetivo. Segundo, não estamos ignorando a distinção proposta por Gilles Deleuze e Félix Guattari entre fascismo molar (institucional) e fascismo molecular (pessoal)[5], apenas pensando o bolsonarismo como fruto da articulação, da ressonância entre ambos.

Nesse sentido, Gilles Deleuze e Félix Guattari pensaram o fascismo como um movimento perpétuo, sem objeto e sem fim. É uma linha de fuga, um processo de criação de algo durante uma fuga por uma trajetória nova (um “espaço liso”, sem traços pré-existentes), que vira uma linha de morte dos outros e de si mesmo, ocorrida quando uma linha de criação cessa de criar para girar em círculos[6]. Portanto, o fascismo visa à morte, dos opositores, mas também dos partidários. Essa lógica pode ser resumida numa frase curta: “hoje eles, amanhã nós”[7]. A perpetuação do movimento se dá pela constante reciclagem do líder e dos apoiadores, pela substituição das “engrenagens” da máquina fascista.

Para explicar o elemento de ligação, o que faz com que as pessoas adiram ao fascismo, socorremo-nos de estudos de Theodor W. Adorno.

Em 1950, Adorno, junto com Else Frenkel-Brunswik, Daniel Levinson e Nevitt Sanford, publicou o livro The authoritarian personality a partir de estudos realizados por eles na Universidade da Califórnia, Berkeley. No decurso da pesquisa, os autores desenvolveram um questionário chamado “Escala F”[8] para auferir traços autoritários de personalidade dos entrevistados[9]. O questionário foi desenvolvido para identificar traços latentes, pois o fascismo acabara de ser exposto e, por isso, os autores consideraram ser pouco provável que alguém declarasse abertamente ser fascista.

No ano seguinte, Adorno publicou A teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista,[10] no qual partiu da Psicologia das massas, de Sigmund Freud, e de estudos sobre a natureza e o conteúdo dos discursos de agitadores fascistas estadunidenses, para aprofundar os estudos sobre a personalidade autoritária e compreender a adesão ao fascismo. Nos estudos sobre os discursos dos agitadores foram localizados dois traços principais: (1) não há preocupação com questões políticas concretas e tangíveis no material de propaganda fascista, com algumas exceções por conta de recomendações bizarras e negativas (expatriação ou internação, em campos de concentração, de estrangeiros); (2) “o método dos agitadores é verdadeiramente sistemático e segue um padrão rigidamente estabelecido de ‘dispositivos’ definidos” vinculados tanto ao propósito político de abolição da democracia quanto à natureza fascista do conteúdo e da apresentação do conteúdo fascista.

Adorno notou, ainda, que a associação do fascismo à paranoia não pode ser “inteiramente acidental”. O material de propaganda fascista forma uma unidade estruturada a partir da concepção compartilhada entre os fascistas – talvez um delírio persecutório coletivo… Cada palavra dita é determinada, consciente ou inconscientemente. De acordo com Freud, o vínculo entre os sujeitos que compõe a massa tem conteúdo libidinal. Nesse sentido, a concepção compartilhada entre os sujeitos, estrutural da propaganda fascista, tem também conteúdo libidinal. Adorno chamou atenção para a consequência principal da introdução da libido na psicologia da massa: o peculiar às massas é a manifestação de qualidades antigas que permaneciam ocultas antes da formação da massa. Nas palavras do filósofo: “aqueles que acabam por submergir nas massas não são homens primitivos, mas exibem atitudes primitivas contraditórias com seu comportamento racional normal.”[11]

Freud notou que em grupos organizados (p. ex. exército e igreja) não há menção ao amor ou há apenas referência indireta e sublimada, mediada por alguma imagem religiosa. Adornou notou que também o fascismo opera de acordo com essa lógica a fim de manter a energia libidinal no inconsciente e desviar as manifestações para atingir fins políticos (destruição da democracia). Para que o amor desinibido seja reprimido e moldado em obediência, é necessário que nenhum ideal de salvação desempenhe papel na formação da massa e que a manipulação da massa seja o único fim pretendido[12].

Esses aportes permitem constatar as simetrias centrais, traçar linhas paralelas de comparação entre o fascismo e o bolsonarismo. Os dois traços principais do fascismo podem ser resumidos desta forma: (1) propaganda política de um fantasioso resgate econômico e contrária a uma ameaça comunista que só existe nas ideias paranoicas que expressam; (2) o método antidemocrático segue propagado sistematicamente, a pretexto da necessidade de resgate da economia e de luta contra o comunismo.

Ilustração: Cris Vector

Ademais, o líder se apresenta de modo ambíguo. Algumas vezes, aparece como homem comum em lives nas quais toma café da manhã, encena uma falsa prestação de contas com a sociedade, etc. Noutras vezes, afirma a própria força, vitalidade, saúde e masculinidade (histórico de atleta, resfriadinho, gripezinha, etc.)[13]. O amor só aparece sublimado, mediado por objetos militares/fálicos: armas, munições, número do partido (38), insígnias, uniformes, bandeiras, rosto do ídolo estampado em camisas, canecas, adesivos e così via… Em nome do líder, que simboliza os preconceitos e as pulsões ocultas dos seguidores, esses estão dispostos a prejudicar as pessoas.

Submissão ao líder e destruição dos opositores (considerados inferiores) – eis a fórmula que resume o fascismo; e o bolsonarismo. A propaganda sem ideias objetivas ajuda a deturpar e controlar a massa de seguidores: ameaças constantes (comunismo, declínio da economia, conspirações globais contra o Messias, torcida contrária por parte do PT, etc.) justificam o alinhamento em torno de ideias simples, embrutecidas e emburrecedoras: propor o tratamento do coronavírus com cloroquina e ivermectina (circula a mentira propagada num suposto grupo de ZAP composto por mais de 4 mil médicos – apesar de os grupos suportarem no máximo 256 participantes -, de que bastaria tomar 3 comprimidos de ivermectina para adquirir imunidade contra o coronavírus), amordaçar a mídia, ameaçar os ministros do STF, tentar fechar o STF, incitar os seguidores contra a democracia e assim por diante… Esse é modus operandi do bolsonarismo[14].

LUIZ EDUARDO CANI é advogado e doutorando em Ciências Criminais pela PUC/RS, bolsista da CAPES.


[1] “Trump, aqui, não interessa. Entrou na história por ser o modelo de que Bolsonaro se pretende imitador. Gripezinha, vírus chinês, cloroquina – o presidente brasileiro não foi capaz sequer de inventar as próprias fábulas. A coisa é trazida de Washington e aqui piora um pouco mais, como a má tradução de um livro ruim. O que não significa que Bolsonaro seja apenas uma versão abastardada de Trump. Uma das diferenças entre os dois é que a ausência de empatia no norte-americano está associada ao solipsismo radical de seu narcisismo, ao passo que em Bolsonaro ela tem uma origem mais perigosa. É algo anterior a toda convenção, um impulso que corre por baixo, mais primitivo, mais perturbador, e que no entanto, quando se manifesta, parece lógico: a morte o excita.” SALLES, João Moreira. A morte e a morte. Revista Piauí, Edição 166, jul. 2020. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-morte-no-governo-bolsonaro/. Acesso em: 07 jul. 2020.

[2] Discorda-se da afirmação de que inexiste um conjunto de ideias coerentes que sustente o bolsonarismo: “Não existe bolsonarismo, apenas bolsonaristas. Bolsonarismo implicaria um conjunto coerente de ideias e uma visão de mundo articulada, elementos que faltam à pregação política de Bolsonaro. Chega a ser desconcertante, mas conceitualmente o presidente é uma degradação do regime militar que ele gostaria de reimpor aos brasileiros. Os generais que tomaram o poder em 1964 tinham uma proposta para o país. À sua maneira, queriam modernizá-lo para superar o subdesenvolvimento e sabiam o que pôr no lugar do que estavam destruindo.” SALLES, João Moreira. A morte e a morte.

[3] Eis a importante lição aprendida em Monowitz-Buna (o campo de concentração Auschwitz III) e transcrita por Primo Levi: “Já esqueci, e o lamento, suas palavras diretas e claras, as palavras do ex-sargento Steinlauf do exército austro-húngaro, Cruz de Ferro da Primeira Guerra Mundial. É uma pena: vou ter que traduzir seu incerto italiano e sua fala simples de bom soldado em minha linguagem de homem cético. Seu sentido, porém, que não esqueci nunca mais, era esse: justamente porque o Campo é uma grande engrenagem para nos transformar em animais, não devemos nos transformar em animais; até num lugar como este, pode-se sobreviver, para relatar a verdade, para dar nosso depoimento; e, para viver, é essencial esforçar-nos por salvar ao menos a estrutura, a forma da civilização. Sim, somos escravos, despojados de qualquer direito, expostos a qualquer injúria, destinados a uma morte quase certa, mas ainda nos resta uma opção. Devemos nos esforçar por defendê-la a todo custo, justamente porque é a última: a opção de recusar nosso consentimento. Portanto, devemos nos lavar, sim; ainda que sem sabão, com essa água suja e usando o casaco como toalha. Devemos engraxar os sapatos, não porque assim reza o regulamento, e sim por dignidade e alinho. Devemos marchar eretos, sem arrastar os pés, não em homenagem à disciplina prussiana, e sim para continuarmos vivos, para não começarmos a morrer.” LEVI, Primo. É isto um homem?. Trad. Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1988, p. 39.

[4] SACCOMANI, Edda. Fascismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 466.

[5] Sobre: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 1933 – Micropolítica e segmentaridade. In: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Capitalismo e esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra Neto et al. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2012, v. 3.

[6] “Por que a linha de fuga é uma guerra na qual há tanto risco de se sair desfeito, destruído, depois de se ter destruído tudo o que se podia? Eis precisamente o quarto perigo: que alinha de fuga atravesse o muro, que ela saia dos buracos negros, mas que, ao invés de se conectar com outras linhas e aumentar suas valências a cada vez, ela se transforme em destruição, abolição pura e simples, paixão de abolição. Tal como a linha de fuga de Kleist, a estranha guerra que ele trava e o suicídio, o duplo suicídio como saída que faz da linha de fuga uma linha de morte.” DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 1933 – Micropolítica e segmentaridade. In: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Capitalismo e esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra Neto et al. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2012, v. 3, p. 112.

[7] “certas formas de morrer o excitam [a Bolsonaro], enquanto outras o deixam frio. Qualquer antologia das frases que notabilizaram Bolsonaro terá cheiro de sangue e morte. Estupro, tortura, fuzil, exterminou, morra, morrido, matando, pavor, Ustra. Essas são algumas palavras-chave que dão sentido às citações mais conhecidas do presidente. Sem elas, as frases se desfariam. É o sofrimento do outro que as organiza.” SALLES, João Moreira. A morte e a morte.

[8] O questionário digitalizado está disponível em: https://www.anesi.com/fscale.htm

[9] “Por mais que certas questões de método possam atualmente ser revistas, o projeto do qual Adorno fazia parte tinha o mérito de mostrar como vários traços do indivíduo liberal tinham profundo potencial autoritário. O que explicava porque tais sociedades entravam periodicamente em ondas de histeria coletiva xenófoba, securitária e em perseguições contra minorias. […]  Tais pesquisas demonstram como a idealização da força é uma fantasia fundamental que parece guiar populações marcadas por uma cultura contínua do medo.  É preferível acreditar que há uma força capaz de “colocar tudo em ordem”, mesmo que por meio da violência cega, do que admitir que a vida social não comporta paraísos de condomínio fechado.” SAFATLE, Vladimir. Escala F. Folha, São Paulo, 31 jan. 2012. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/23105-escala-f.shtml. Acesso em: 07 jun. 2020.

[10] ADORNO, Theodor W.. A teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista. Trad. Gustavo Pedroso. Blog da Boitempo, São Paulo, 25 out. 2018. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2018/10/25/adorno-a-psicanalise-da-adesao-ao-fascismo/. Acesso em: 07 jul. 2020.

[11] ADORNO, Theodor W.. A teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista.

[12] “A agitação fascista está centrada na idéia do líder, não importando se ele lidera de fato ou se é apenas o mandatário de interesses do grupo, porque apenas a imagem psicológica do líder é apta a reanimar a idéia do todo-poderoso e ameaçador pai primitivo. Essa é a raiz da – de outro modo enigmática – personalização da propaganda fascista, seu incessante propagandear de nomes e supostos grandes homens, em lugar da discussão de causas objetivas. A formação da imagem de uma figura paterna onipotente e não controlada, transcendendo em muito o pai individual e com isso apta a ser ampliada em um ‘eu do grupo’, é a única maneira de disseminar a ‘atitude passivo-masoquista […] à qual a vontade tem de se render’, uma atitude tanto mais exigida do seguidor fascista quanto mais seu comportamento político se torna irreconciliável com seus próprios interesses racionais como pessoa privada, bem como com os do grupo ou classe ao qual pertence de fato. A irracionalidade redespertada do seguidor é bastante racional do ponto de vista do líder: ela necessariamente tem de ser ‘uma convicção que não é baseada em percepções e raciocínios, mas em um vínculo erótico’.” ADORNO, Theodor W.. A teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista.

[13] “Freud está atento a outro aspecto da imagem do líder que aparentemente contradiz o primeiro. Mostrando-se como um super-homem, o líder deve ao mesmo tempo realizar o milagre de aparecer como uma pessoa comum, da mesma maneira como Hitler se apresentou como uma mistura de King Kong e barbeiro de subúrbio. Também isso Freud explica em sua teoria do narcisismo. […] Mesmo os impressionantes sintomas de inferioridade do líder fascista, sua semelhança com atores canastrões e psicopatas insociais são assim antecipados pela teoria de Freud. Por causa daquelas partes da libido narcisista do seguidor que não foram investidas na imagem do líder, mas permanecem ligadas ao próprio eu do seguidor, o super-homem deve ainda se assemelhar ao seguidor e aparecer como sua ‘ampliação’. Em acordo com isso, um dos dispositivos básicos da propaganda fascista personalizada é o conceito do ‘grande homem comum’ (great little man), alguém que sugere tanto onipotência quanto a idéia de que é apenas um de nós, um americano simples, saudável, não conspurcado por riqueza material ou espiritual. A ambivalência psicológica ajuda um milagre social a se realizar. A imagem do líder satisfaz o duplo desejo do seguidor de se submeter à autoridade e de ser ele próprio a autoridade. Isso corresponde a um mundo no qual o controle irracional é exercido, apesar de ter perdido sua convicção interna em função do esclarecimento universal. As pessoas que obedecem aos ditadores sentem que eles são supérfluos. Elas se reconciliam com essa contradição por meio da presunção de que elas próprias são o opressor cruel.” ADORNO, Theodor W.. A teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista.

[14] “Esse é o componente verdadeiramente monstruoso. Se parece quase inevitável que a violência venha, não é apenas por ela se constituir como instrumento de tomada de poder, mas por ser desejável e prazerosa. ‘Para mim, para o senhor e para os nossos pares, a paz é hoje uma desgraça’, disse um líder fascista na Itália de Mussolini. Para bolsonaristas, é pior do que isso: a paz é assexuada. Quando Silveira finalmente estiver liberado para bater, avançará para dentro do inimigo e, amparado pelo poder, por sua arma e pelos policiais, ficará maravilhado com a facilidade com que espanca. A amoralidade é libertadora.” SALLES, João Moreira. A morte e a morte.

 

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