O Brasil utilizou pouco o fato da pandemia ter chegado aqui quase 2 meses depois dos primeiros casos confirmados na China e Europa para aprender e se planejar. Ainda olhávamos, entre comovidos e chocados, as medidas adotadas pelos países atingidos e reconhecíamos que o isolamento era fundamental para evitar um índice alto de transmissão. Em 26 de fevereiro foi confirmado o primeiro caso no Brasil. De lá para cá, à exceção de esforços de vários governadores e prefeitos, o governo federal, na figura do chefe de Estado, afirmou medidas e protocolos contra todas as recomendações da OMS, aprofundou a dependência de insumos e equipamentos, desagregou esforços, e deixou órfã a população brasileira de proteção econômico-social.

Se, ao nível federal, prevaleceu a ausência de campanhas de orientação à população e medidas efetivas para socorrer estados e municípios, no Rio de Janeiro, vemos com muita preocupação um plano de reabertura sem amparo em dados confiáveis. Todos queremos voltar à normalidade. Todos tememos pelos empregos e pela falta de alternativa dos que não podem ficar em suas casas. Todos sabemos as dificuldades que as pequenas e médias empresas enfrentam. Mas, nada disso pode estar acima da vida das pessoas.

A prefeitura do Rio não trabalha com base de dados suficiente para saber o melhor momento de afrouxar o isolamento. Isso é claro para todos que se dispõem a verificar o Painel Rio Covid-19. Por lá somos informados que o bairro com mais casos é Copacabana com 2.017 confirmados até 16 de junho. Se buscamos pelo Complexo do Alemão são 13 casos confirmados e Cidade de Deus, 146. Esses números, obviamente não refletem a realidade. Eles são fruto de uma política que falha na testagem da população. Que não investiu na atenção primária e que não tem as equipes de saúde da família na linha de frente de atuação para identificar, isolar e encaminhar para a rede de saúde os casos que dela necessitam.

Antes de colocar a população carioca em risco, a gestão municipal deveria buscar subsídios para conhecer a situação atual da pandemia no Rio de Janeiro. Várias outras administrações espalhadas pelo país investiram em conselhos de especialistas, comitês científicos, no aumento estratégico dos testes, em ampliar sua rede de atendimento, em descobrir mais cedo para tratar mais cedo e salvar mais vidas. Apostaram em acompanhar a curva e apenas relaxar as medidas de isolamento caso esta se comprovasse em declínio sustentado.

No Rio, ao contrário, vamos para a abertura das atividades econômicas completamente às cegas. O prefeito atende às pressões de mercado pela reabertura e põe em risco a vida das pessoas. Ninguém defende um isolamento eterno. Mas, o mínimo que se espera é uma base tecnicamente segura para que um plano seja apresentado à população. Que haja transparência nos dados. Que tenhamos segurança para afirmar que o Rio não seguirá o exemplo de Milão, onde o caos se instalou pelo menosprezo à dimensão da doença.

Do início de março, data do primeiro caso confirmado no Rio, até hoje, temos mais dúvidas que certezas. A certeza é que as medidas de higiene e de isolamento são fundamentais. Que os profissionais de saúde precisam de proteção. Que a população precisa ser informada, testada, protegida. Nada disso vemos no Rio de Janeiro. E enquanto não temos essas medidas, não há que se falar em reabertura irresponsável das atividades.

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