Por Marta Carvalho

Seis e meia da tarde e é fim de expediente.

Nesse Home Office que confunde meu espaço, meu tempo, meu lar, eu ligo a TV, sedenta pra assistir o mais novo filme de Spike Lee (Da Five Blood). Ao final do filme eu caio em um choro profundo, tão cheio de dor e de mágoa por ter a certeza de que a representação de passado, presente e futuro de Spike Lee é atual e se manterá atual por mais algum tempo. Para além do choro, houveram muitos momentos de identificação do racismo e seu corpo mais “sutil” de virótico.

Nos ambientes que se apresentam para criação, ideias, trocas e trabalho, é possível identificar atitudes que atrasam seu desenvolvimento, e atitudes que te trazem dúvidas em relação a sua competência.

Segue o meu exemplo mais doloroso:

Quando criança eu tinha o sonho de ser bailarina clássica e comecei a estudar logo cedo. Sempre que possível a professora justificativa minhas ausências nas apresentações dizendo que eu não tinha figurino e meu cabelo não era adequado pra fazer o coque. Só consegui subir na sapatilha de ponta aos 14 anos.

E eu te pergunto: 
Quantas vezes você, mulher preta e produtora teve que contratar uma pessoa branca para captar seu projeto porque se sentia insegura?

Quantas vezes um superior branco fez doublecheck no seu trabalho, por duvidar da sua competência?

Quantas vezes você teve que dividir protagonismo de sua ideia para que ela pudesse ir para frente?

Quantas vezes você sentiu o “racismo sutil” minando a sua confiança?

O que fica após uma noite de insônia, pensando sobre essa perspectiva, é de que, dos meus trinta anos de profissão, eu perdi uns quinze anos em desenvolvimento, por ser protelada por pessoas brancas.

Força versus Insegurança.

Essa é a balança que guia a vida das Pretas Mulheres em suas profissões.

Atenta, Marta Carvalho