É pior do que parece…

Já está na hora de entendermos que a política adotada pelo governo Bolsonaro em relação ao combate a pandemia não é fruto apenas de despreparo e incompetência. 

Ela faz parte do seu projeto político. 

Bolsonaro está aproveitando a pandemia para tirar proveito da situação, alimentando-se da tragédia para testar as instituições e os limites da democracia brasileira.

Alguém dúvida que em condições normais não teríamos milhões de pessoas nas ruas pressionando o Congresso pelo impeachment? Que uma vigília infinitamente maior que a bolsonarista estaria em Brasília cercando presidente e Congresso? Eu aposto que sim, e o que vivemos no país na última década comprova isso. 

Estas mobilizações inclusive seriam importantes para a costura política de uma frente democrática ampla. Afinal, na rua e na ação, todos se encontrariam e teriam que conviver. E a própria força coletiva destravaria os obstáculos, pois o inimigo e a luta são maiores e mais perigoso do que qualquer diferença. O palanque seria o mesmo, e todo mundo ia querer aproveitá-lo e teria que fazê-lo respeitando os demais que ali estivessem. 

Possivelmente uma parte da mídia também se envolveria na cobertura das manifestações. E isso ajudaria a colocar mais lenha na fogueira. E teríamos inclusive um fato histórico novo, porque pólos até então antagônicos, como MBL e Vem pra rua, estariam juntos com movimentos de esquerda, como MST e MTST, além de indígenas, feministas, coletivos de periferia, LGBTQI+ e todos democratas unidos.

Caso houvesse repressão por parte do governo é provável, que como em 2013, que isso ajudaria a aumentar ainda mais a adesão e as mobilizações por todo o país.

Por isso, a pandemia não é um problema para o governo. Ao contrário, ela é uma oportunidade. Quanto mais tempo durar, melhor. Sem pressão popular como contrapeso democrático, o governo testa os limites das instituições e faz suas negociatas com o Centrão sem pudor algum. Assim ganha tempo para armar suas milícias, e dividir o botim entre os mercenários políticos que tomaram de assalto o Planalto.

É por este motivo que estamos há 10 dias sem Ministro da Saúde. Por isso, insistência sem comprovação científica no uso da cloroquina. A carência de testes. A não participação em consórcios internacionais para a produção da vacina, a ausência completa de planejamento para combater a Covid-19. 

E neste sentido a fala do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que aparece no video divulgado na última sexta-feira, 22/05,  escancara isso e expõe a crueldade do governo. “A pandemia é uma oportunidade”. Deve-se aproveitá-la para tocar o projeto político entreguista e autoritário de Bolsonaro e Paulo Guedes. No caso específico e gravíssimo de Salles, ele se referia ao ataque a Amazônia, uma das fixações deste governo, mas de forma geral, cabe para tudo, independente das consequências. É hora de passar a boiada por cima dos corpos. 

Assim, se depender deles, a pandemia deve durar, independente dos estragos na economia e das mortes causadas. Como todos sabemos, ela vai atingir os mais pobres, e eles não se preocupam com isso. 

Se fosse incompetência, ainda podíamos esperar uma solução. Mas é pior do que isso. É um projeto de extermínio e caos consciente, com fins e cálculos políticos e eleitorais, que tem que ser detido o mais rápido possível. 

Dar um basta a esta política da morte é urgente. Só assim poderemos salvar vidas e tratar as feridas abertas em nossa democracia.

Congresso, STF, Polícia Federal e Ministério Público tem que cumprir seu papel com coragem. A sociedade, consciente que não pode ir às ruas, tem feito sua parte nas redes sociais, e tenho certeza que buscará novas formas para pressioná-los. Não esperem o julgamento da história, pois ele será implacável. 

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