Bolsonaro já pode se candidatar ao título de campeão mundial da morte em 2020. Dados objetivos corroboram essa postulação em relação a pessoas e a todas as formas de vida que possam existir numa exuberante floresta.

Os alertas de desmatamento na Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta semana, apontam um aumento de mais de 63% em abril, em comparação com o mesmo mês de 2019. Com isso, as estimativas acumuladas nos últimos nove meses quase já alcançam o total desmatado nos 12 meses anteriores, que compuseram a última taxa anual de desmatamento divulgada pelo Inpe. Significa dizer que, ainda durante este mês de maio, estaremos superando a taxa anual anterior e que um novo crescimento da já escandalosa taxa anual de desmatamento na Amazônia é praticamente inevitável. Ou seja, há um novo escândalo ambiental planetário marcado para o início do próximo semestre.

Há vários outros indicadores coerentes com essa sinistra expectativa. Nos três primeiros meses do ano, houve um novo fluxo de expansão dos garimpos ilegais na Amazônia, impulsionado pelo contínuo aumento do preço do ouro no mercado internacional e da disponibilidade de mão de obra desesperada diante do desemprego crescente. Não faltou o apoio direto do presidente Jair Bolsonaro aos predadores, ao exigir do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, a exoneração imediata dos coordenadores das operações de fiscalização realizadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), amplamente comemorada pelos garimpeiros. E botem na conta também a Medida Provisória 910/2019, de incentivo aos grandes grileiros, que já está em vigor há vários meses e deve caducar ou ser convertida em lei até 19 de maio.

Agrava ainda mais o cenário alarmante a intensificação do desmatamento já no período de isolamento social e de paralisação da economia em consequência da epidemia do novo coronavírus. Fica evidente que a destruição da floresta não tem a ver com desenvolvimento, mas com fracasso econômico e que decorre de ação criminosa impune.

Com a pandemia, estima-se uma queda de até 5% no PIB mundial e é provável que ocorra em 2020 uma redução das emissões globais de gases do efeito estufa, após uma sequência ininterrupta de crescimento. Ainda é cedo para se calcular isso tudo, mas pode ser que o aumento de emissões decorrentes do desmatamento suplante a redução esperada nos setores paralisados da economia. Essa circunstância poderá fazer do provável aumento do desmatamento o pior destaque negativo no planeta em 2020.

Mas não é só o recorde de destruição da biodiversidade que Bolsonaro deve conquistar. Projeções de epidemiologistas a partir do agravamento recente da curva epidêmica no Brasil, indicam que o país vai se tornar o próximo epicentro mundial da pandemia, superando os Estados Unidos no total de doentes e de óbitos.

A Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto divulgou um estudo que já coloca o Brasil como o novo epicentro global da crise de saúde. Como o país está entre os que menos realizou testes de detecção do coronavírus na população, os números oficiais de contágios e de óbitos são subestimados, sendo que os números reais vão de cinco a 15 vezes mais. Essas estimativas se sustentam na considerável estabilidade da taxa de letalidade do novo coronavírus em todo o mundo. Aplicando-se ao número oficial de óbitos no Brasil a taxa de letalidade da Coréia, país que mais testou a sua população, o total de infectados por coronavírus no Brasil poderia ser de 1.657.752, numa variação que vai de 1.345.034 casos, no melhor cenário, e 2.021.177, no pior, números muitíssimo superiores aos 114.715 casos oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde em 05/05.

Esses números também já superam os equivalentes reconhecidos oficialmente nos EUA, onde há algum grau de subnotificação de casos, mas bem menor do que o daqui. A equipe de Ribeirão Preto atualiza regularmente essas projeções e projeta números muito mais estarrecedores que as 10 mil mortes admitidas pelo governo.

A evolução da curva epidemiológica no Brasil retrata a involução na taxa de isolamento social, que caiu de 70% para menos de 50%, em média, desde o início da crise. O mau exemplo do boicote militante do Bolsonaro ao isolamento social está contribuindo para agravar o problema. Está dando certo a aposta de Donald Trump de que Bolsonaro vai livrá-lo da humilhante posição de campeão mundial da morte.

Em vista disso, a equipe médica do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto divulgou uma nota em que expressa preocupação com o comportamento do presidente Jair Bolsonaro “com suas repetidas ações de desrespeito às recomendações de distanciamento social do próprio Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS)”. O grupo repudiou a participação do presidente na manifestação “de afronta à Constituição e à democracia no último 19 de abril”. Porém, ontem ainda, Bolsonaro valeu-se de uma visita de lobistas da indústria para levá-los, sem aviso prévio, mas com cobertura de mídia, para pressionar o presidente do STF para abolir o isolamento…

Bolsonaro está sendo internacionalmente acusado como tendo o pior desempenho entre os chefes de estado no enfrentamento da pandemia. Todos os principais órgãos da imprensa mundial o apontam como tal. Uma das mais reconhecidas revistas médicas do mundo, a Lancet afirmou em seu editorial desta semana que Jair Bolsonaro é a maior ameaça ao combate à Covid-19 no Brasil. É um reconhecimento unânime, da esquerda à direita, do governo da China ao dos EUA, uma gigantesca vergonha global.

Antes mesmo da epidemia, Bolsonaro já havia consolidado sua imagem como predador e defensor da tortura. Mas o desdém com que trata publicamente a multiplicação de mortes entre os próprios brasileiros, o projeta como maior pária planetário da atualidade.

 

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