Rapper da periferia do DF apresenta trabalho com sete faixas imprimindo sua identidade

Foto: @portelaxphotos

 

Quando empoderamento ainda era um conceito recém aplicado ao léxico brasileiro, Rebeca Realleza crescia aprendendo na prática a conquistar seu espaço no RAP. Cria do Sol Nascente, uma das maiores favelas da América Latina a 40 minutos do Palácio do Planalto em Brasília, a rimadora começou a compor aos 10 anos. Aos 13 criou o primeiro grupo Colisão de Ideias pra cantar na escola e antes de lançar sua carreira solo participou do Sobreviventes de Rua. A ligação com o RAP começou na porta de casa, pra onde ia ouvir o grave dos carros que passavam tocando os clássicos do DF Viela 17, Guindart 121 e DJ Jamaika.

Agora, prestes a concluir seu curso de Direito pesquisando feminicídio e a cultura Hip Hop, Realleza entrega um trabalho feito com muito esforço, resultado de quase dois anos de ensaios, produções e shows, dividindo palco com grandes nomes como GOG, Karol Conká, Djonga Tássia Reis. AFRONTOSA mistura músicas dançantes e letras reflexivas aos beats poderosos que carregam a estética do RAP original da Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, com muita feminilidade.

Realleza mostra sua versatilidade colocando em pauta o poder negro sem deixar de ser sexy e envolvente. Nas sete faixas do EP a rapper transita por sons mais conscientes e “de balada”, desconstruindo padrões racistas e sexistas impostos às mulheres pretas. A faixa título frustra quem tenta baixar a auto estima de mulheres como Rebeca.

“Não sou a globeleza, tô mais pra realeza/ Pantera negra, então ser braba é de natureza/ Eu sou dessas firmeza, a dona da destreza/ E tô passando com meu bonde, a cara da riqueza”

 

Afrontando o patriarcado e o conservadorismo as músicas dão papo reto, como em ‘Sou Dessas’ que retrata o assédio sexual pedindo respeito e dando um aviso “Sou predadora e não presa”. A romântica ‘Vem me Amar’ com participação de LP D’Doctor fala sobre o reencontro do amor após enfrentar a solidão, outra pauta cara para a artista que é presença frequente em debates sobre violência contra mulheres nas diferentes instâncias do poder público.

‘Escolhas’ com o parceiro Gibesom traz suas inspirações que vem da força de sua mãe e de encarar a vida a partir da perspectiva de uma jovem mulher negra criada na periferia. ‘Tempo’ foi seu primeiro single com um início poderoso “Hora de lembrar quem eu sou” contando a história de uma mulher que resgata sua identidade ao se encontrar dentro de um relacionamento abusivo.

O hit ‘Lua da Night’ completa o EP em clima de liberdade e afronte com clipe foda da BoomClap. Acumulando mais de 15 mil visualizações no Youtube o som já toca em rádios pelo Brasil e foi o passaporte de Realleza para circular entre palcos e festivais, incluindo CoMA, Favela Sounds, Elemento em Movimento e Bananada.

— Felipe Qualquer
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