Foto: arquivo pessoal

Primeiro, qualquer pessoa branca sugerindo que pessoas negras são segregacionistas é ignorante ou só desonesta mesmo. Há uma falsa simetria em dizer que pretos fazem o mesmo que brancos, quando sugerem espaços, ações e relações só para pessoas pretas.

Brancos fazem no sentido de exclusão racial. A essência do racismo. A história prova. Nós, pretos e pretas quando propomos esses espaços, fazendo em legítima defesa, e como estratégias de proteção contra as ações de sociedade que são hierarquizados por raça. Nos juntamos inclusive para traçar formas de enfrentar esse sistema organizado para excluir pessoas pretas. Isso é sobre preservação, para que o racismo não nos violente mais. É sobreviver em meio a uma guerra silenciosa que pessoas brancas fingem não existir. Na verdade, hoje, penso que “fingir” é estratégico para não se responsabilizar por isso. E como o título sugere pensar amizades, quero dizer que não pode ser meu amigo quem finge que o racismo não define a minha existência subalternizada e produz minha sorte.

Gente preta quando se junta não desumaniza branco. Já o outro lado… A história está aí. E eu nem precisaria explicar essas coisas, se houvesse honestidade para lidar com as complexidades e tensões provocadas nessa sociedade.

Há alguns anos, percebi que à medida que tomava consciência real do que o racismo significa e como se articula, eu tinha menos amigos brancos. A consciência crítica sobre como as relações sociais são balizadas pelo racismo.

Não pode ser meu amigo quem compactua com um sistema que propõe a minha desumanização e que, na prática, me violenta de diferentes formas. Não pode ser meu amigo quem não compreende tais contextos, ou simplesmente não se interessa.

Eu rompi com todas as pessoas que banalizaram minhas críticas ao racismo em seus comportamentos, pois se não podem ouvir o que eu tenho a falar sobre, não se importam com o tipo de violência que recai sobre meu corpo preto, não podem ser amizades, e mais, escolhem o lugar da manutenção dessas opressões.

É justamente isso que a consciência racial faz: evidencia o abismo.

É o racismo que nos separa, e isso não é de interesse da maioria das pessoas brancas, pois não se trata de cerceamentos impostos a elas.

Eu poderia passar horas falando sobre isso, mas eu me bastarei em dizer que se as pessoas brancas à sua volta não se incomodam e não se mobilizam contra as diferentes formas de violência que você, pessoa preta, sofre, elas são racistas sim. Fazem parte de uma estrutura que se retroalimenta com ações, omissões e conivências.

Se não se autocriticam para lidar com uma educação pautada na sua desumanização, são racistas sim.
Se você é a única pessoa negra do rolê, há racismo por aí.

Se usam a amizade contigo para dizer que não são racistas ou para ensinar pessoas negras sobre o que racismo é… Cuidado.

Mas também é importante pensar no seu nível de coerência e consciência.

E eu não quero acabar com amizades de ninguém, mas veja por aí onde aquele amigo e aquela amiga guarda o racismo. Está lá, em algum lugar.

Ruim é dizer que não existe.

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