Desde que iniciou o período de isolamento social no país, pudemos notar uma série de reportagens indicando caminhos para lidarmos com a impossibilidade de sair de casa. Diversas dicas de como organizar a rotina de trabalho home office, exercícios físicos para manter a forma física em dia. Teve também sugestões de atividades para manter as crianças distraídas (sem colocar a casa abaixo).

A medida em que as notícias indicavam um aumento no número de casos infectados, outras questões começaram a entrar em pauta. Alguns grupos de maior vulnerabilidade traziam outras realidades bem diferentes, mais duras e precárias, do que as apresentadas pela imensa classe média. Aqui é onde pretendo começar a minha conversa com você.

Nas redes sociais algumas pessoas com deficiência trouxeram suas histórias pessoais marcadas pelo isolamento social provocado pela falta de acessibilidade na sociedade. Muitos compartilharam o mesmo desconforto com a privação de mobilidade cotidiana, mas ignorada por não afetarem a maioria da população. A intenção dessas mensagens era propor uma reflexão a partir desta atual experiência em comum, bem como sugerir algumas ideias de como enfrentar uma realidade como esta.

Compartilho a mesma ideia dos meus colegas com deficiência: em especial aquelas pessoas que vivem com algum tipo de deficiência que limita fortemente as condições de mobilidade ou cria alto grau de dependência. Realmente estamos habituados a uma vida com muitos limites para nossos movimentos. Seja para sair fisicamente, seja para conviver socialmente. São dificuldades que muitas vezes nos trazem uma sensação grande de solidão. Um sentimento que não se resolve com uma chamada por vídeo.

Isso porque a maioria de vocês, sem deficiência, experimenta uma realidade com prazo. Por mais que ainda não saibamos quando essa pandemia vai acabar, vocês têm a esperança de um amanhã onde tudo voltará ao normal. Porém, a normalidade de vocês, como sempre, permanece inacessível para nós.

Porém hoje estamos em casa. Todos nós.

Presos, dividindo o mesmo espaço, tempo e tendo de enfrentar o peso do confinamento nas relações pessoais. A tensão provocada pelo medo do contágio com o coronavírus, o receio de perder o emprego, assim como a atual crise política pioram a situação de vulnerabilidade de muitas pessoas com deficiências severas. São relações de extrema dependência, onde o cuidador e aquele que recebe o cuidado estão ligados a todo momento. É uma sensação de ansiedade constante, mas como sempre: completamente ignorada.

Não sei o que vocês, sem deficiência, vão aprender com essa experiência. Realmente espero que consigam refletir como a falta de mobilidade é difícil, principalmente para pessoas que são forçadas a vivenciá-la pela ausência de políticas verdadeiramente inclusivas.

Às pessoas com deficiência que me leem: dizer que essa fase vai passar, não é suficiente. Eu sei, até porque infelizmente ainda não sabemos o que virá após tudo isso, porém saiba que não está sozinha(o). Tudo isso está sendo muito duro para nós, por isso vamos resistir como podemos.

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