Temos um presidente, infelizmente. Quem acha que é desgoverno menospreza a potência do mal do detentor do cargo. Não se trata também de doença mental, mas de concepção, de projeto. Este governo tem um rumo: atender interesses dos seus seguidores, das elites, dialogar com os setores mais conservadores da sociedade que se incomodaram com algum avanço social.

No último domingo o ocupante do mais alto cargo da república passeou por comunidades da capital federal desprezando, como tem feito, todas as recomendações técnicas. O mundo todo sabe que o isolamento social é essencial para evitar centenas de milhares de mortes no Brasil. Quem diz é a Organização Mundial da Saúde e outros órgãos de renome internacional. Mas o presidente opta por discursar para sua torcida. Se ele não tivesse o cargo que tem poderia continuar dizendo bobagens, mas é o presidente e, quem tem mais poder deveria ter mais responsabilidade.

Suas ideias, embora infundadas, equivocadas e/ou mal intencionadas impactam negativamente na possibilidade de pouparmos vidas. Vidas severinas, ele diria, de pessoas idosas ou com alguma doença anterior. Senhor presidente, todas são vidas e todas importam.

Nisso também confunde mais do que esclarece, uma vez que, aproximadamente metade dos casos graves no Brasil são de pessoas com menos de 60 anos. Não conhecemos esse vírus, não temos remédio para combatê-lo, não temos leitos nos hospitais, não temos equipamentos de proteção para os/as trabalhadores/as da saúde, não temos respiradores para todas as pessoas que poderão precisar. O vírus tem comportamento diferente em cada país. Tudo que podemos fazer agora é o isolamento social para ganharmos tempo para avanços científicos e melhor preparação do Sistema Único de Saúde.

Por isso foi tão triste o domingo, quando Bolsonaro comparou o Covid-19 com “gripezinhas” e “resfriadinhos”. São vidas a menos por ignorância a mais.

O governo nega a gravidade do problema mas pede e a Câmara aprova, estado de calamidade pública. Estamos em uma situação gravíssima. Por isso foi aprovada a renda emergencial no Congresso Nacional para atender a população que mais precisa neste momento. São necessárias políticas públicas para que a maior parte da população possa ficar em casa, como tem sido feito nos países mais atingidos pelo Covid. Já quem não adotou essa medida está pagando um alto preço: milhares de pessoas mortas.

Os próximos dias serão decisivos na guerra que vivemos. Não está na hora de bravatas. E Bolsonaro fez bravata no domingo, conclamando a população a enfrentar o vírus como homem. Assim, ele rebaixa o que é ser homem, já que, dessa forma, diz que é pra enfrentar sem pensar, sem considerar a realidade, a ciência e a experiência.

Mesmo se fosse em outros termos o melhor é enfrentarmos essa pandemia como mulheres. Somos nós quem, em regra, acompanhamos as pessoas adoecidas e delas cuidamos. Nós marcamos as consultas e acompanhamos nos exames. Somos companhia nas internações. Tomamos também as providências que evitam o adoecimento com nossos chás, caldos e produção de alimentos saudáveis.

É hora de ouvir as mulheres. É hora de ouvir as mães e as avós – e elas nos dizem que canja e precaução não fazem mal a ninguém. É hora do Estado assumir a proteção dos setores mais fragilizados pelo capital. É hora de pressionar para a saída de Bolsonaro. É hora de salvar vidas. Teremos tempos tenebrosos: a economia vai regredir, negócios fecharão e poderão se recuperar, mas vidas não. A política de homens feito Bolsonaro nós já vimos no que vai dar. Enfrentemos o coronavírus como mulheres de luta.

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