Aviso de gatilho: depressão e suicídio

Hoje não vim falar de corpos dissidentes, enquanto processo de socialização e inserção na sociedade. Mas do quanto nós, pessoas trans e travestis, temos que lidar com certas guerras internas que nos perpassam em nossa trajetória, nossa vivência, potências e até mesmo descrença.

Atualmente, o número de casos de suicídio por pessoas trans tem aumentado drasticamente. E a grande maioria ocorre por não suportar tanta transfobia, seja por parte da família ou sociedade – não que a família não pertença ao meio social, mas sim, deixar claro que a família, a rede que mais deveria nos apoiar e amar, são os primeiros a nos apontar e nos matar. Isso acarreta vários problemas psicológicos, tornando a nossa vontade de existir ainda mais difícil.

Já pensou ser expulsa de casa aos 14 anos, só por ser uma pessoa trans? Ser vista e entendida como uma abominação, como algo errado dentro do seio familiar? É aí que a grande avalanche começa. Primeiro vem o sentimento de abandono, nenhuma rede de apoio, ter que amadurecer drasticamente. Ser forçada a abandonar todos os sonhos, objetivos e desejos, pois a necessidade de sobrevivência é maior.

Depois de um tempo, essa luta diária vai cansando, de ter sempre que bater na mesma tecla, ouvir a cada dia uma agressão, uma deslegitimação de quem somos: “Você é homem, olhe para o que você tem entre suas pernas”; “Mas como assim você é um homem se nasceu com uma vagina? Isso não tá certo”; e essa grande avalanche de palavras, nos atravessam como balas de diamante, nos perfurando a carne, se alojando em nosso psíquico, até um ponto em que acreditamos de fato nessas palavras.

Quando menos esperamos, estamos jogados dentro de um mar de solidão, incompreensão e questionamento sobre quem somos. É todo santo dia, deitar a cabeça no travesseiro e não saber o que é de fato relaxar, uma onda de pensamentos invade nossa cabeça, como uma tempestade em meio ao oceano. Um grande buraco se abre no peito, dar lugar a uma névoa, densa, pesada. O próprio corpo se torna pesado. E por não aguentar mais, acabamos sucumbindo ao suicídio crendo piamente que isso irá tirar todo o peso e sofrimento que temos que aguentar caladas. Pois embora gritemos alto, no fim do dia, seremos sozinhas.

Nota da editoria:

Está passando por um momento difícil e precisa de ajuda? Você não está sozinha/o. Em parceria com o SUS, o CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional, prevenção do suicídio e atende voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24h todos os dias. Ligue 188 ou acesse: www.cvv.org.br

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Márcio Santilli

‘Caminho do meio’ para a demarcação de Terras Indígenas

NINJA

24 de Março na Argentina: Tristeza não tem fim

Renata Souza

Um março de lutas pelo clima e pela vida do povo negro

Marielle Ramires

Ecoturismo de Novo Airão ensina soluções possíveis para a economia da floresta em pé

Articulação Nacional de Agroecologia

Organizações de mulheres estimulam diversificação de cultivos

Dríade Aguiar

Não existe 'Duna B'

Movimento Sem Terra

O Caso Marielle e a contaminação das instituições do RJ

Andréia de Jesus

Feministas e Antirracistas: a voz da mulher negra periférica

André Menezes

Pega a visão: Um papo com Edi Rock, dos Racionais MC’s

FODA

A potência da Cannabis Medicinal no Sertão do Vale do São Francisco

Movimento Sem Terra

É problema de governo, camarada