Foto: Science in HD / Unsplash

Para quem não sabe, no dia de 11 de fevereiro se comemorou o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi escolhida pela Assembleia das Nações Unidas em 22 de dezembro de 2015. A comemoração é uma maneira de ONU incentivar as mulheres e meninas a terem plena participação na ciência. Para além disso, e fundamentalmente, para que se concretizem as oportunidades e condições necessárias para alcançar a igualdade de gênero.

Contudo, o dia 11 de fevereiro já acabou. As comemorações e lembranças de que mulheres produzem ciência, tecnologia e inovação já ficaram para trás. Claro, não podemos viver apenas de comemorações. Mas, o que me chama a atenção é se continuaremos, realmente, incentivando meninas e mulheres a adensar a ciência brasileira. No restante do ano iremos nos lembrar de incentivar as mulheres a produzirem ciência? Vamos lembrar que infelizmente as mulheres começam essa trajetória em pé de desigualdade com os homens? Professores, os senhores vão parar de sexualizar as estudantes? De não desmerecer ou subjugar nossos trabalhos? Vão parar de fazer piadinhas que incluam nossos corpos ou que nos tragam constrangimento? Os senhores irão parar de nos assediar? Será que finalmente iremos nos debruçar em efetivar políticas publicas que auxiliem as cientistas que também são mães? Para começar, seria bom se tivéssemos diferentes parâmetros para avaliar os currículos dessas mulheres. Um bom exemplo é deixar de avaliar o período de afastamento após o parto como queda de produção científica.

A participação das meninas e mulheres na ciência ainda enfrentam problemas muito maiores quando estas são trabalhadoras, são pobres, são negras ou são transexuais. Não por acaso, mas muitas vezes, todos esses adjetivos incorporam a mesma mulher. O obstáculo, então, não é apenas para poder produzir ciência e conhecimento, mas também de ter direito à educação e possuir a real oportunidade de acesso à universidade. É dever de todos que acreditam na igualdade de gênero também atentarem seus olhares a estas mulheres, de maneira a procurar entender suas particularidades, os incentivos e apoios que precisam para produzirem com qualidade, ciência, tecnologia e inovação.

Brevemente quero homenagear duas grandes mulheres cientistas e pesquisadoras. A primeira é a minha prima Jéssica, oriunda da terra vermelha do interior do Paraná, filha de metalúrgico e de secretária, fruto das escolas públicas chateubriandenses. Ela foi a primeira da minha família a conquistar a tão sonhada vaga numa universidade pública. Também foi a primeira a provar que todos nós podemos. Atualmente atua como médica veterinária, tendo sido a primeira da família a conquistar um mestrado. Conhecedora de sua garra e dedicação, sei que também será a primeira doutora. Obrigada Jéssica por abrir as portas das universidades públicas para nós.

A segunda, infelizmente eu não conheço pessoalmente, mas além de ser uma inspiração a todas as mulheres, abrange uma imensa coletividade. Seu nome é Megg Rayara Gomes de Oliveira, mulher negra e travesti, a primeira a conquistar o título de doutora na UFPR, onde hoje também é uma impressionante professora. Obrigada Megg por nos ensinar todos os dias.

Saliento que nós mulheres já tivemos muitas conquistas, mas elas ainda são poucas e poderiam ser muito maiores. Assim, penso que nesta contemporaneidade, devemos também lutar e defender a ciência que sofre com a política de sucateamento. Nesta batalha, será necessário irrestritamente pautar a igualdade de gênero, mas sobretudo pautar a igualdade para as mulheres que ainda não foram incluídas.

Por mais mulheres na ciência. Mulheres trabalhadoras. Mulheres pobres. Mulheres negras. Mulheres transexuais e travestis.

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