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Mesmo que o jogo da Baleia Azul possa ser apenas um boato, o fato é que ele está gerando um efeito de imitação que tem preocupado mães, pais e especialistas. O jogo da Baleia Lilás é uma proposta de 50 desafios para que mães e pais levem a sério o problema da depressão na infância e na adolescência. Antes de jogar o jogo da Baleia Lilás, é preciso compreender que em algumas vezes é a incapacidade de criar vínculos de afeto e proximidade com nossos próprios filhos que os tornam mais vulneráveis à depressão.

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No mês de abril, as redes sociais brasileiras foram invadidas pela preocupação com o chamado jogo da Baleia Azul, que teria surgido na Rússia e levado centenas de adolescentes a cometer suicídio.

O jogo teria ressurgido em meio a polêmicas sobre a série da Netflix 13 Reasons Why, que trata do suicídio juvenil e que recebeu críticas de alguns psiquiatras por desrespeitar as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre prevenção de suicídio.

Várias têm sido as denúncias de que o jogo seria na verdade um hoax, um boato criado na internet e que não teria havido nenhuma comprovação de que os casos de suicídio juvenil teriam qualquer ligação com o jogo, que não passaria de farsa.

Em tese, o jogo teria 50 desafios para estimular os adolescentes a cometerem o suicídio. Os desafios vão desde ouvir músicas depressivas, acordar de madrugada para assistir a filmes de terror ou subir em telhados altos, bem como desafios de automutilação cada vez mais perversos. A automutilação teria por finalidade fazer com que o adolescente se acostumasse progressivamente à dor e ao sofrimento, a fim de ganhar coragem para realizar o último desafio, que seria a morte. O jogo teria ainda um moderador responsável por fiscalizar as tarefas e ameaçar a família de quem viesse a desistir do jogo.

Mesmo que o jogo possa ser um boato, o fato é que ele está gerando um efeito de imitação que tem preocupado mães e pais, professores, psiquiatras, polícia e o poder público de várias cidades, que têm emitido alertas, como Curitiba. Em Pernambuco, já foi solicitada a quebra de sigilo telefônico de pessoas do interior de São Paulo e de Minas Gerais que estariam ameaçando uma jovem que desistiu do jogo. Em todo o Brasil há relatos de adolescentes que teriam se deixado seduzir pela curiosidade de entrar no jogo.

Sendo ou não o jogo da Baleia Azul um boato, o fenômeno que ele levantou nas redes sociais não é. A depressão entre crianças e jovens, vulneráveis ao suicídio, é uma realidade bastante preocupante. Dados da OMS, publicados em fevereiro de 2017, apontam que 5,8% da população brasileira é afetada pela depressão. O Brasil lidera os números da população com algum tipo de transtorno de ansiedade na América Latina. Segundo a OMS, o índice de crianças entre 6 e 12 anos diagnosticadas com o distúrbio saltou de 4,5% para 8% na última década. A previsão da OMS é de que nas próximas duas décadas a depressão ultrapassará o número de indivíduos com câncer ou que sofrem de problemas cardíacos.

Assim, mesmo que o jogo da Baleia Azul venha a ser um boato, seus efeitos perversos não são, seja pelo efeito de imitação ou contágio, seja porque a depressão e o suicídio de jovens já era um problema real antes do jogo.

Cientes disso, mães e pais têm se preocupado em como evitar que seus filhos e filhas fiquem reféns desse tipo de jogo ou de qualquer outra forma de estímulo ao suicídio.

Uma iniciativa nas redes sociais criou o jogo da Baleia Rosa, em que estão sendo criados desafios saudáveis para crianças e adolescentes. Dentre os desafios, estão escrever com canetinha uma frase motivadora, criar uma playlist animada, postar uma foto vestindo uma roupa que te faz bem, etc.

A enorme adesão que o jogo está tendo mostra a importância de responder aos desafios depressivos com desafios saudáveis.

Por outro lado, qual é o desafio para mães e pais que estão preocupados com o fenômeno da depressão entre crianças e jovens? O que fazer quando nos sentimos distantes de nossos filhos e filhas? Quando percebemos que estão passando por problemas, mas que não os deixam ajudá-los? Pior. O que fazer quando sentimos que nós, mães e pais, somos parte do problema?

Pensando nisso, segue uma proposta de 50 desafios para mães e pais.

Chamei esses desafios de JOGO DA BALEIA LILÁS porque se diz que o lilás é usado para aliviar a melancolia e os estados depressivos e ajuda a neutralizar as energias de um ambiente e promover limpeza e elevação astral.

O jogo da Baleia Lilás: 50 Desafios para Mães e Pais

1. Saia do celular e converse com seu filho/a.

2. Converse de verdade. Se interesse de verdade pelas coisas que são importantes para ele/a.

3. Beije e abrace.

4. Não use a crítica como forma de incentivo. Por exemplo: se seu filho/a estiver acima do peso, não faça críticas demeritórias como forma de incentivá-lo/a a reduzir o peso. Ajude-o/a a aceitar-se e elevar sua autoestima. Mude a dieta da casa para outra mais saudável.

5. Elogie. E não apenas as notas, mas tudo que você achar bacana. Elogie uma boa ação. Elogie o bom gosto para se vestir. Elogie uma música que ele/a está ouvindo e que você gostar. Um filme que ele/a indicou.

6. Não se limite a perguntar como foi a aula hoje. Pergunte o que ele/a aprendeu, se sentiu alguma dificuldade, se teve alguma matéria mais interessante, se rolou algum babado na aula.

7. Se ele/a estiver passando por dificuldades nos estudos, faça o possível para ajudar. Busque aulas gratuitas online sobre o conteúdo. Ajude a buscar o lado interessante da matéria ou admita que aquilo é mesmo uma chatice, mas que tem que ser aprendido. Lembre do desafio n. 4: não xingue seu filho/a de burro/a ou preguiçoso.

8. Junto com ele/a, estabeleça um calendário de estudos. Imponha limites de horário ao acesso à internet, games e televisão. Mas isso só vale se você também tiver limites. Se você passa as refeições ou qualquer outro tempo que deveria ser de convivência familiar grudado/a no facebook, instagram ou twitter, você não tem moral para impor limites ao seu filho/a.

9. Disponha de tempo para seu filho/a. Para além das responsabilidades (levar para o colégio, para o inglês, etc). Disponha de tempo para fruir e curtir.

10. Passeie. Mas não numa porcaria de shopping. Shoppings são deprimentes. Procure junto com ele/a programas legais para fazer.

11. Divida atividades: assistam a uma série juntos, leiam um livro juntos.

12. Assista os clássicos da sua infância ou adolescência com ele/a. Vale ET, Caça-Fantasmas, De Volta para o Futuro, Indiana Jones, Star Wars e o que você quiser.

13. Aceite que seu filho/a está crescendo e que tem opiniões próprias diferentes das suas. Aprenda com seu filho/a. Ele tem coisas interessantes pra ensinar a você.

14. Respeite essas opiniões. Você criou um filho, um ser humano, e não um clone.

15. Discorde de seu filho/a se for o caso, mas não o trate como idiota ou inferior.

16. Aceite a orientação sexual dele/a. Se seu filho/a for gay ou lésbica, ele/a já tem um mundo homofóbico para lidar. Já vai ser agredido e ofendido e já corre risco à integridade física e à vida. Não seja você mais um agressor. Acolha e apoie.

17. Crianças transgênero reconhecem sua identidade sexual com a mesma idade que uma criança cisgênero reconhece. Enquanto crianças cis ficarão confortáveis com o gênero que lhes foi identificado ao nascer (associado ao sexo biológico), crianças com transtorno de identidade de gênero se reconhecerão com gênero distinto do sexo biológico. Crianças transgênero não sofrem de transtorno de identidade por falta de amor. E muito menos por falta de surra ou castigo. Pais e mães de crianças trans devem acolher seus filhos/as e ajudá-los a enfrentar o enorme preconceito e desconhecimento que ainda existe.

18. Saiba o que ele/a acompanha no youtube e nas redes sociais e converse sobre esses conteúdos.

19. Restrinja sites e páginas com conteúdos inapropriados. E converse com ele/a sobre isso. O ideal é que ele/a concorde com essa restrição.

20. Castigo é uma forma de expressão de cuidado. Desde que seja razoável e proporcional à atitude que se quer corrigir.

21. Não diminua o sofrimento do seu filho/a porque “não é nada” comparado ao que você passa no trabalho etc.

22. Se você quer que seu filho/a confie em você para contar seus problemas e tristezas, seja merecedor dessa confiança.

23. Pagar as contas não faz de você a melhor mãe ou o melhor pai. Esse título vem do afeto, e não do cumprimento das responsabilidades.

24. Inspire seu filho/a. Faça ele ver que você é uma pessoa legal. E lembre-se que ser importante ou respeitado no trabalho não faz de você uma pessoa legal em casa.

25. Aceite que você não é perfeito. Não tente esconder e não tente reprimir a percepção de que tem em coisas em você que não são legais.

26. Quando receber uma crítica do seu filho/a, converse sobre isso e tente melhorar, se você concordar com a crítica.

27. Se seu filho/a confiar um segredo somente a você, guarde o segredo.

28. Não fofoque os problemas do seu filho/a para toda a família. Isso só aumenta o problema.

29. Se seu filho/a contar um problema que você não possa resolver sozinho, peça autorização para buscar ajuda.

30. Jamais ridicularize o sofrimento pelo qual ele/a está passando.

31. Jamais ignore um pedido de ajuda.

32. Conheça os amigos e amigas com quem seu filho/a anda.

33. Procure saber do que ele/a gosta. Um bom desafio é procurar sempre saber qual seria o presente que ele/a gostaria de ganhar.

34. Divida tarefas domésticas igualmente entre filhos e filhas (e entre pai e mãe).

35. Se você é casado/a, divida igualmente as tarefas domésticas entre pai e mãe. Não deixe seu filho/a crescer achando natural que a mulher tenha sobrecarga de trabalho.

36. Se você é divorciado/a e tem uma família recomposta, não trate de modo diferente os filhos que moram com você e os que não moram. Não dê tudo aos filhos que moram com você enquanto os filhos que moram em outra casa passam por necessidades.

37. Se você é divorciado/a e não está com a guarda dos filhos, telefone todos os dias. Envolva-se com a rotina deles. Apoie o genitor que está com a guarda (e consequentemente com todo (ou a maior parte) do trabalho de educar). Quem faz visita é encanador ou a tia que mora no interior.

38. Deixe seu filho/a namorar. Impedir apenas vai fazer com que ele/a namore escondido de você.

39. Não censure o/a namorado/a com apreciações pejorativas: “não vale nada”, “você merece coisa melhor”, “não está à tua altura”. Aliás, isso só vai aumentar a paixão.

40. Converse sobre sexualidade sem tabu. Converse sobre a importância de utilizar camisinha. Se seu filho/a for muito jovem para ter uma vida sexual, converse também, inclusive sobre isso. Fale sobre dignidade sexual. Ensine seu filho/a a se respeitar e se amar em primeiro lugar. Isso vai fazer com que ele/a não admita ser desrespeitado.

41. Converse sobre filmagens de atos sexuais e nudes. Fale sobre o pornrevenge, que é uma das causas de suicídio de jovens mulheres.

42. Oriente sobre relações abusivas. Mas lembre que para isso você não pode estar em uma.

43. Se ele/a estiver distante, não desista de tentar se reaproximar.

44. Não force a barra para forçar uma reaproximação. Vá devagar.

45. Se for o caso, tente perguntar: Estou me sentindo distante de você, o que posso fazer para me reaproximar? Peça ajuda a ele/a.

46. Peça ajuda para outras coisas também. Seu filho/a pode ajudar mais do que muita gente. Ele/a te ama sinceramente.

47. Não compre o afeto do seu filho/a. Não compense sua ausência com bens materiais. [isso é feio pra caramba, hein?]

48. Não se obrigue a dar o que você não pode. Converse com ele sobre as condições econômicas da família. Afinal, ele/a é parte dela.

49. Abrace e beije de novo.

50. Ame e dê vexame. Diga que ama. Declarar amor pelos filhos e filhas não tem contraindicação.

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