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Numa das últimas aulas da pós-graduação, sobre a teoria dos dispositivos, lembrei da arquitetura das igrejas góticas como dispositivos de produção de crença. E como a simples experiência de entrar em um das catedrais góticas como Notre Dame de Paris, com seus vitrais coloridos, com aqueles gigantescos arcos nas alturas, a abóboda cruzada levantando o olhar para um céu arquitetônico, a penumbra, as torres, as rosáceas, o uso extraordinário da luz, fazia com que toda espiritualidade se materializasse, em uma experiência de uma beleza avassaladora.

Mesmo os que não crêem são tomados por esse dispositivo, a arquitetura gótica e Notre Dame é uma de suas obras-primas e produz aquela sensação de conexão entre o humano e o divino. Tetos côncavos, ogivas, arcadas! Quanta beleza!

A arte é a minha religião e talvez por ter estudado em vários colégios católicos, por ser apaixonada pela história da arte e toda a iconografia católica e não católica, pintura, escultura, arquitetura, a estética das igrejas, templos, terreiros, espaços do sagrado são para mim uma experiência possível de crenças sem dogmas.

As igrejas são lugares de poder e também de opressão, mas suas arquiteturas e suas estéticas produzem experiências de libertação. Não é a toa que os templos evangélicos tem aquelas escadarias monumentais e espaços gigantescos, ou que se apropriaram da tecnologia do transe das culturas de matriz africanas nos seus dispositivos de conversão! o problema é quando julgam o transe no candomblé como coisa do diabo e o transe no monumental Templo de Salomão como manifestação do Espírito Santo! Transe é tecnologia, arte e arquitetura!

A arquitetura converte um ateu! Notre Dame não é mais um templo religioso é uma conexão com um outro mundo, uma outra história, com outros espaços e tempos. Literalmente uma nave de decolagem.

Um lindo trecho de Victor Hugo sobre essa ideia da catedral-mundo, na história (livro, filmes, musicais) do Corcunda de Notre Dame: “E a catedral não era só companhia para ele, era o universo. Mais ainda, era a própria Natureza. Nunca sonhava que houvesse outras sebes que os vitrais em perpetua flor; Outra sombra que a da folhagem de pedra sempre brotando, carregada de pássaros nos bosques de capitais saxões; Outras montanhas do que as colossais torres da igreja; Ou outros oceanos do que Paris rugindo aos seus pés”. (Victor Hugo, Notre Dame de Paris, 1831).

Que imagem terrível a da queda da primeira torre de Notre Dame. Quantos séculos caíram com ela! #NotreDame

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