Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

A primeira imersão ao Acre Profundo desse nosso segundo mandato de deputado estadual aconteceu nesse final de semana, com início na quinta-feira, 04/04, e término no domingo, 07/04.

Saímos de Rio Branco na manhã de quinta-feira, de carro, pela BR-317, com destino ao município de Assis Brasil, na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia. De lá, embarcamos em uma caminhonete L-200, daquelas bem antigas, equipada com pneus militares e carroceria de madeira, conduzida pelo Nascimento, para enfrentar lamacentos 32km no Ramal do Icuriã, até a margem do Igarapé Balseirão.

Chegando às suas margens, embarcamos na canoa tripulada pelo nosso bom amigo e companheiro Francisco Rodrigues da Silva (o Tereré), experiente piloto das redondezas. Foram 09h30min de viagem: 4h00 horas pela BR-317; 3h30min de ramal; e 2h00 até a desembocadura do Balseirão com o Rio Iaco, afluente do majestoso Rio Purus, por sua vez, terceiro principal afluente do Rio Amazonas. Da saída de Rio Branco até nosso destino final, contando com as paradas técnicas (abastecimentos, baldeações…) demoramos exatas 12 horas.

Já andei em muitas comunidades da zona rural do Acre, chegando até elas tanto por ramais e varadouros quanto pelos nossos rios e igarapés. Já havia subido o Rio Iaco, de Sena Madureira até o Oriente; o Purus, de Manoel Urbano até a comunidade Balbina, acima da foz do Rio Chandless, a meio caminho de Santa Rosa; o Muru, de Tarauacá até o Lago Novo; já havia subido e descido o Juruá por diversas vezes, de Marechal Thaumaturgo ao Triunfo, de Cruzeiro do Sul a Porto Walter e vice-e-versa; já havia subido o Rio Amônia, até a Aldeia Ashaninka, na fronteira com o Peru. E assim por diante.

Mas, essa viagem pelo Balseirão e pelo Iaco até bem próximo da sede do Icuriã teve um gosto especial: o sabor da gratidão.

Tive uma expressiva votação nessas comunidades, sem nunca ter podido estar lá antes. E isso só aconteceu graças ao trabalho de apoiadores que divulgaram e levaram até eles as realizações do nosso mandato. Agora era a vez de manifestar essa gratidão presencialmente, além de fortalecer nossos laços com a comunidade.

Para quem já navegou pelo Croa, um dos rios de maior beleza cênica de todo o Acre, localizado na região da bacia hidrográfica do Vale do Rio Juruá, é difícil impactar-se com a beleza de outros cursos d’água. Mas, o Balseirão impressiona pelo seu estado bruto e selvagem. Situado no interior da Reserva Extrativista Chico Mendes, tem o seu leito em pedra, com fortes corredeiras e pequenas quedas d’água – característica rara na bacia hidrográfica do Vale do Rio Iaco. Ele mantém uma vegetação peculiar, com tabocas que atravessam de margem à margem, bancos de areia com espécies nativas de grama e exóticas samambaias de longas folhas escuras, cujas pontas pendem, barranco abaixo, até tocar a água.

Nas cercanias da sede do Icuriã, visitamos diversos companheiros que, além de eleitores, a partir de agora, passam a ser amigos. Seo Nonato, Seo Lourimar, Davi (irmão do Tereré) foram algumas das pessoas que nos receberam em suas casas.

No campo de futebol da propriedade do Seo Dotimar (o Dote), fizemos uma ampla reunião, onde pude ouvir os principais anseios e demandas coletivas da comunidade.

Nossa conversa – e os compromissos dela oriundos – foi selada com uma partida de futebol.

No sábado, nosso destino seria a aldeia Jatobá dos índios manchineri, à 1h30min à jusante (subindo, rio acima) de onde nos encontrávamos. Mas, uma típica e torrencial chuva amazônica, seguida da primeira friagem do ano, nos impediu de navegar por um rio que subiu mais de 4 metros em questão de 3 horas. Correnteza forte e muitos balseiros não são boa companhia para os navegantes, além da baixa visibilidade durante a chuva.

Além de agradecer os votos e fortalecer nossos laços de amizade, companheirismo e solidariedade, um dos resultados práticos dessa nossa visita será a destinação de uma emenda parlamentar para a recuperação do ramal do Icuriã. Assegurar condições de trafegabilidade em nossas estradas e ramais é algo essencial para garantir o exercício do direito de ir e vir e, via de conseqüência, dos demais direitos, tais como acesso aos serviços de saúde e o escoamento da produção. Da maneira como está, o ramal é um entrave para o transporte de mercadorias e víveres. O compromisso firmado será cumprido.

Esse é o sentido das nossas imersões: acredito que para fazer mais e melhor representar as pessoas, é preciso ter empatia e alteridade: se colocar no lugar do outro, sentir a dor que o outro está sentindo, conhecer a realidade alheia presencialmente – sobretudo de nossos povos da floresta – enfim, “ver de perto, para dizer de certo.”

Nos dedicaremos a essa tarefa, com todo afinco e intensidade, nesse segundo mandato.

Espero que tenham gostado do nosso breve relato. Até a próxima imersão!

 

Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

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Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

Foto: Ramon Aquim / Mídia NINJA

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