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Me lembro quando era adolescente um dos maiores desafios entre o grupo, de classe média de condomínio, era assistir os filmes “faces da morte” – onde na tela apareciam diversos tipos reais de mortes: assassinatos, acidentes, suicídios, torturas, todos expostos de uma maneira crua e chocante.

Era uma série de fitas que poderiam ser alugadas nas locadores de vídeos da época. Não cheguei a concluir a primeira fita, mas as imagens estão na minha cabeça até hoje. Nas favelas as “faces da morte” sempre existiram ao vivo e a cores diante dos jovens e crianças que sofreram e sofrem até hoje com essa guerra inútil entre policiais e traficantes, banalizando desde sempre os corpos sem cabeça, mutilados, os tiros nas paredes das casas e as conversas sobre fulano que foi jogado na vala ou que foi queimado vivo.

Quando os programas “policiais” de TV começaram a pipocar com seus conteúdos repletos de violência, os expectadores passaram a desenvolver uma relação diária com a narrativa escandalosa e teatral dos apresentadores, que não precisavam de muitos esforços para conseguir casos e mais casos que prendessem a atenção das pessoas em suas apresentações.

O ser humano tem esse lado mórbido muito aguçado. Adora ver sangue e desgraça.

Mas foi a internet que naturalizou de vez a violência como algo banal para qualquer um de qualquer idade, a qualquer momento possa assistir. Crianças, adolescentes, adultos, gente de todas as idades seguem páginas, postam vídeos, compartilham cenas que nos anos 80 e 90 causariam pesadelos eternos em qualquer ser humano.

Isso vai se tornando tão comum, tão normal, que passa a não gerar nenhum sentimento nas pessoas e logo também acabam com qualquer tipo de reflexão e empatia. É assim e pronto. Sendo assim e pronto, todo este conteúdo não causa mais nenhum medo ou constrangimento, logo assumimos comportamentos sociais ultra violentos como algo factível, ou seja, não está assim tão distante de mim e nem da minha prática. Passamos a adotar comportamentos agressivos perigosos que possam descambar para atos altamente violentos sem percebermos.

Criamos uma espécie de casca que retira uma sensibilidade mínima, fazendo com que nossos impulsos mais primitivos ganhem vida.

Essa equação aplicada aos mais jovens que não tem maturidade suficiente para ponderar suas ações, vai gerando um ambiente perverso e perigoso.

Não por acaso que observamos o crescimento de casos de violência urbana, como brigas que antes terminavam com feridos e hoje constantemente acabam com mortos. O mesmo para conflitos domésticos. Quantos casos não acompanhamos de jovens que se matam nas ruas em saídas de bares, boates ou bailes, de maridos que assassinam suas mulheres, pais que espancam seus filhos até a morte, confusões de trânsito que acabam de formas trágicas.

Acontecimentos onde os envolvidos passam a ignorar a possibilidade de matar uns aos outros, porque já estão tão inseridos nesse contexto de violência que se perdem no limite completo de suas ações.

Nas comunidades vai aumentando a crueldade dos crimes, porque a violência já é tão banal que não existem mais parâmetros. Qualquer um pode se tornar um criminoso em potencial sem se dar conta.

Em mais alguns poucos anos, estaremos vivendo como nos filmes de Mad Max.

E ainda tem gente querendo legalizar o porte de armas, como se isso fosse intimidar a violência e não jogar mais gasolina nesse incêndio.

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