Basta, não queremos mais sangue negro banhando o chão em busca da justiça. É chegada a hora de nos levantarmos!

Cariocas pedem justiça para o assassinato de Marielle Franco e Anderson Pedro. Foto: Mídia NINJA

Por Macaé Evaristo, que foi Secretária de Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação de 2013 a 2014 e de 2015 a 2018, assumiu a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais.

Mulheres negras sempre resistiram e se rebelaram contra os sofrimentos impostos. No período escravagista, se rebelaram contra os açoites em público, contra os castigos, mutilações, como o corte dos tendões das fujonas, a jornada ininterrupta de trabalho nas lavouras, a extração e quebra de dentes a frio e o corte de orelhas e da língua daquelas consideradas desaforadas. Sem falar dos abusos sexuais sofridos por essas mulheres.

É fato também que mulheres negras sempre se organizaram politicamente, quer sob a forma de irmandades religiosas ou não, guardas, coletivos, movimentos. Uma das mais antigas organizações de mulheres de que se tem notícia em nosso país é a Irmandade da Boa Morte. Um grupo de mulheres na faixa etária de 50 a 70 anos que, em 1820, já se organizava no território baiano, para vender seus quitutes e comprar a alforria de negros cativos. Elas oravam a Nossa Senhora para libertar os escravizados, mas também fundaram o que se pode conceber como um dos primeiros fundos previdenciários, para garantir uma boa morte, um descanso digno para os negros falecidos, ou seja, um lugar para repousar os corpos negros após a morte.

Infelizmente, ainda hoje, mulheres negras têm de se rebelar para garantir uma boa morte para a população negra em nosso país.

É que para se ter uma boa morte é preciso se ter uma boa vida, em que os direitos humanos fundamentais sejam garantidos. E foi por não abrir mão dessa luta, por não se calar diante da mortandade de jovens negros, ao que tudo indica, pela milícia no Rio de Janeiro que Marielle e Anderson foram assassinados. Os poderosos, aqueles que por usura são capazes de tudo, aqueles mesmos que não importam se teremos ou não uma previdência social, afinal sempre foram eugenistas, escravocratas e detestam nossa Constituição cidadã, aqueles que objetificam as mulheres para garantir a supremacia do patriarcado, aqueles mesmo que querem com a reforma trabalhista e a reforma da previdência explorar a última gota de sangue dos nossos corpos negros para se locupletarem, aqueles que temem Lula livre, não tiveram nenhuma hesitação em destruir a vida de Marielle.

Assassinaram Marielle e Anderson e já tendo passado um ano, nossa indignação permanece sem respostas.

Quem mandou matar Marielle? Até quando ficaremos sem respostas das muitas Marielles e Andersons que continuam assassinados todos os dias? Basta, não queremos mais sangue negro banhando o chão em busca da justiça. É chegada a hora de nos levantarmos! Assim como nos ensinou Maya Angelou, “deixando para trás noites de terror e atrocidade”.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Márcio Santilli

‘Caminho do meio’ para a demarcação de Terras Indígenas

NINJA

24 de Março na Argentina: Tristeza não tem fim

Renata Souza

Um março de lutas pelo clima e pela vida do povo negro

Marielle Ramires

Ecoturismo de Novo Airão ensina soluções possíveis para a economia da floresta em pé

Articulação Nacional de Agroecologia

Organizações de mulheres estimulam diversificação de cultivos

Dríade Aguiar

Não existe 'Duna B'

Movimento Sem Terra

O Caso Marielle e a contaminação das instituições do RJ

Andréia de Jesus

Feministas e Antirracistas: a voz da mulher negra periférica

André Menezes

Pega a visão: Um papo com Edi Rock, dos Racionais MC’s

FODA

A potência da Cannabis Medicinal no Sertão do Vale do São Francisco

Movimento Sem Terra

É problema de governo, camarada