Moda é essencialmente um instrumento político, que pode tornar o mundo melhor. Como sociedade, estamos sempre em transição, construindo caminhos.

Momento maravilhoso do final do desfile do estilista Ronaldo Fraga na SPFW46, que propõe o amor como base pra relações humanas bem construídas [Imagem Renan Gaspar]

Hoje mesmo, um consumidor pra ser considerado antenado/moderno, tem que ter consciência dos valores agregados a um produto e saber apreciar a sua história e o conceito da sua criação. Um criador de moda contemporâneo pra ser “vendável”, tem que desenvolver a sua marca com identidade.

Isso quer dizer que o seu trabalho deve conter sua história, sua cultura, sua relação com o meio ambiente e as cores dos seus sonhos.

Criação politizada da marca LED, do estilista Célio Dias, desfilada na SPFW46 [Imagem Marcelo Soubhia/Fotosite]

E por falar em cores, tem gente por aí achando que a cor vermelha será oficialmente banida do Brasil. Grito que nunca!!!!!! E sabe por quê?

O vermelho é a cor da nossa devoção; é exatamente o significado do nome do Brasil, que vem da brasa, do Pau-brasil. O mundo da moda retrata a evolução de um povo. Somos vermelhos na nossa essência, e verdes e amarelos, e azuis, e pretos, amarelos, rosas e todas as cores e tons que quisermos. Usamos e usaremos vermelho em nossos corpos e criações. Ontem, hoje e sempre.

Nós brasileiros somos gigantes, criativos. Temos a capacidade de reinventar nossa própria sobrevivência, reaprender a subsistir. Mas contra leis que regem nosso País não fomos, não podemos, não queremos, e não seremos.

Somos vermelhos. E multicolores. Criação com pegada sustentável da marca Osklen, desfilada na SPFW46 [Imagem Zé Takahashi/Fotosite]

Já reparou que quando o País se apresenta no exterior, o principal chamariz “marketeiro” é sua cultura popular? Sim, a cadeia criativa é o que nos movimenta economicamente. Nos anúncios vendem também a nossa natureza “exuberante”. E o que seria do Brasil sem o poder da sua natureza? Andam matando nossos ativistas, e andam dizendo que nossos índios não terão mais suas poucas terras, e que nossos negros não valem nada. Os heróis ativistas ambientais são os que nos defendem de nós mesmos, porque uma grande parcela de nós acha que é superior à natureza, e a despreza, e a consome absurdamente, sem se dar conta de que somos totalmente dependentes dela, e que somos todos uma mesma estrutura viva, dividindo o mesmo espaço, finito.

Nossos indígenas são os verdadeiros donos do Brasil. Os negros do Brasil construíram com suas mãos tudo o que existe de melhor na nossa terra. Mulheres devem ser totalmente respeitadas, pessoas indefesas protegidas, doentes assessorados e necessitados acolhidos. Isso sim é legítimo. E também é legítimo o acesso irrestrito a informações verdadeiras, e a liberdade de escolhas. Trocas sociais humanizadas são indispensáveis à vida.

Liberdade de expressão é legítima, mas não existe justiça na intolerância, no sexismo, na xenofobia, na violência física e emocional, na ruptura de direitos humanos, na incitação à homofobia, no racismo.

Vermelho é a cor da nossa pátria. Criação trabalhada com bordados feitos à mão, da marca Patricia Viera, desfilada na SPFW46 [Imagem Zé Takahashi/Fotosite]

Nós todos temos que ter a responsabilidade de conhecer de onde vêm os nossos sentimentos. Vivemos um momento político gravíssimo, e eu te pergunto: com qual mundo você está conectado? Qual é o seu estilo? Quem e o que você defende? O que você quer encontrar/deixar no seu caminho, flores ou sangue?

Na boa, te convido a seguirmos juntos e fortes nessa fascinante busca por nós mesmos, concentrados em nossos próprios pensamentos, conhecedores do passado e voltados pro futuro livre e democrático.

Que o nosso amor grite mais alto nas urnas no próximo dia 28, pois ou avançamos como um todo, ou ninguém existirá verdadeiramente. Somos um.

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