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É foda, papo reto.

Entrada da BR, podia ser eu, tá ligado? Minha companheira e meus filhos, já que ela paga as contas ali na loteria da BR de vez em quando. Podia ser minha mãe ou meu pai, um parente ou amigo, mas sabe o que é foda? É QUE FOI COMIGO.

Mais uma vez alguém de nós, ali, caído no meio da rua aos pés de outros irmãos e irmãs que indignados/as xingam, outro/as pedem socorro, outros/os choram. É sinistro, mano. É surreal, assustador, um horror. Ficar no meio de tiroteios é algo horroroso demais. E a gente vive isso todo dia. Morremos todo dia. Recomeçamos com um a menos todo dia, esperando para não sermos nós o segundo. Só que hoje, foram 3 pessoas, de uma vez. O que tá acontecendo? Isso serve pra que?

Sei lá, sei nem mais o que pensar ou escrever. Só to desabafando um pouco mesmo, porque não dá pra ser forte toda hora, no meio de tanto sangue, que cada vez se aproxima mais e mais da sua casa. Isso é horrível. E é nosso dia a dia.

Não entendo como tem gente que apoia tanto gasto público com isso. Não entendo como chamam moradores e moradoras de favela de bandidos, ou todo aquela ou aquela que luta por mudança, de defensores e defensoras de bandidos.

Cês sabem o que é conhecer cada disparo de arma, pelo som? Sabem o que é saber onde está dando tiro, pelo som? Sabe o que é acompanhar isso quando ainda não chegou na sua porta, mas saber que está se aproximando, aproximando e que chegou, então pega as crianças e vai para a parte da casa onde tem mais paredes e fica ali, abaixado, tremendo, mas tentando confortar as crianças.

Sabem o que é ouvir um tiro pegando na parede, depois o farelo da parede caindo nas coisas? Sabem o que é ouvir um tiro e no segundo depois uma explosão elétrica e acabar a luz, no meio de um tiroteio?

Quando eu vejo um carro blindado da PM “caveirão”, meu coração gela, pô. Pois seus significados são os piores possíveis e nenhum deles jamais construiu nada de positivo, pelo contrario, só alimentou o terror, o medo.

Guerra as drogas o quê, vocês ou são loucos, ou estão do lado de quem lucra com esse falso discurso, pois em nome da guerra as drogas, nos assassinam todos os dias, como hoje, onde nenhuma droga, por exemplo, foi apreendida, mas vários corpos foram atingidos.

Koé mano, o bagulho é loucão. A realidade é complexa e as consequências doem demais e não tem remédio que amenize. Apontam o fuzil e disparam, sem pena, como política pública para dentro da favela. Segurança pública, ainda dizem.

Só esqueceram de dizer que nesse “público” não estamos inseridos como quem deve ser assegurado, mas estrategicamente desenharam em nós, no nosso corpo, na nossa cor, no nosso endereço, o esteriótipo do matável, do inferior, do inimigo, de quem pode ser abatido/a como bicho.

Só que isso não vai ser para sempre, não mesmo. Em meio ao caos, ainda tenho esperança no levante do meu povo. Meu agarro as utopias, enquanto enfrentamos as dores da realidade.

Aqui ninguém quer ser lenda, muito menos mito. A luta que acontece diariamente é o nosso dia a dia, na tentativa de vencer, que aqui, diante de 3 pessoas mortas, vencer algo, significa ficar vivo.”

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