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A execução de Anderson Carmo, articulador político e marido da Deputada Federal Flordelis precisa ser investigada com cuidado e veemência pelo poder do Estado do Rio de Janeiro. As indicações de assalto e desavença familiar devem sim ser investigadas, mas há uma possibilidade em especial que também deve figurar no hall de possibilidades: a de crime político.

Além de execução bárbara e caso essa hipótese se concretize, seria mais um caso a se somar a tantos outros crimes políticos realizados no Estado nos últimos tempos, sendo necessária a investigação profunda da relação de criminosos narco-milicianos nesses crimes.

As recentes prisões em São Gonçalo e as recentes movimentações no território demostram a grande instabilidade de segurança na região e a acintosa disputa por território. Os grupos de milicianos atuam de forma consorciada, agindo inclusive com quadrilhas de outros territórios como o já conhecido Escritório do Crime, com forte atuação na zona oeste do Rio de Janeiro.

Os dois principais grupos narco-milicianos da região – Quadrilha do Engenho Velho e Porto Pequeno – objetivamente pretendem ampliar sua atuação e pra isso é necessário o alinhamento das forças políticas na região, por isso é fundamental avaliar a execução de Anderson tendo essa disputa como contexto.

Uma execução por no mínimo 15 tiros não pode ser tipificada como crime banal, sem motivação ou intenções claras. Nesse sentido, é importante avaliar a dimensão de intimidação à ação política dessa família, que se mostrava claramente na disputa eleitoral ao cargo majoritário da cidade em 2020.

Com base política na Câmara de Vereadores, Anderson Carmo e o vereador Misael, seu filho, articulavam a pré-candidatura de Flordelis à Prefeitura e tal fato deve sim ser levado em consideração na apuração do crime, uma vez que é fundamental para a sobrevivência da natureza da ação desses grupos a penetração na vida pública.

O mapa de figuras públicas executadas publicado em 2016 pelo El Pais Brasil retrata o cenário de violência e atuação da “nova” política fluminense. No período pré-eleitoral foram assassinadas 11 figuras políticas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A partir da CPI das milícias na Assembleia Legislativa do Rio em 2008, presidida por Marcelo Freixo e com relatoria de Gilberto Palmares, uma nova dimensão é descortinada no Rio, o aparelhamento do Estado por milicianos, associações de moradores e executivo do Rio de Janeiro. Tanto Câmara de Deputados quanto Câmaras de Vereadores. Há milicianos eleitos em todo o Estado do Rio de Janeiro.

Mas por que o interesse em assumir cargos legislativos e no executivo?

Além do aparato de cargos e benefícios do Estado, a milícia opera em atividades econômicas ilegais (tráfico de drogas e armas, roubo de carros, venda de proteção policial, exploração de jogos ilegais, cafetinagem, tráfico de influência, construção civil, contrabando e outros) e precisam objetivamente do braço do Estado para se profissionalizarem e não sofrer retaliações em suas operações. A milícia precisa do Estado (Exército, polícia militar, casas legislativas, etc) para funcionar.

Somado a isso, há de ser perceber que há em Gonçalo outras dimensões da disputa, que inserem inclusive os últimos prefeitos e a disputa por terra, interesses locais, principalmente entre famílias tradicionais, que giram ao redor do nome municipal em 2020.

Nesse sentido, é fundamental a avaliação da dimensão dos interesses políticos em questão e a garantia absoluta dos direitos políticos de qualquer cidadão.

Sem dúvida o Governador Wilson Witzel é figura central na apuração não só desse caso, mas em todos os últimos crimes políticos recentes no Estado do Rio de Janeiro. Ao invés de criar um inimigo abstrato que deve ser exterminado, o então governador tem algumas respostas a dar nesse momento, respostas estas que podem ser o limiar entre o Estado democrático de direito e a completa barbárie: quem mandou matar Anderson Carmo? Quem mandou matar Marielle Franco? Patrícia Accioli?

O Estado do Rio submerso em sangue.

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