Professores assediados, campos invadidos sem mandado, cancelamento de atividades e censura de documentos aconteceram em diversas universidades

Divulgação UFRJ

O clima de ansiedade e disputa estão altos às vésperas do segundo turno das eleições, que tomou tons de medo e censura oficial esta semana, após uma série de investida de militares, com e sem mandado, censurando documentos antifascistas de universidades públicas em todo o país.

De acordo com o Intercept Brasil, cerca de 20 universidades já foram alvo das ações, que supostamente tem o objetivo de retirar qualquer material que faça campanha eleitoral nos prédios públicos. Apesar disso, os casos em que houve recolhimento de folhetos não faziam menção à qualquer candidato.

É o caso da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que na manhã de ontem, 25, recebeu a visita inesperada da Polícia Militar em sua Associação Docente. Após denúncia realizada por integrante do Movimento Brasil Livre da Paraíba, o juiz eleitoral Horário Ferreira de Melo Júnior determinou a apreensão do material intitulado “Manifesto em defesa da democracia e da Universidade Pública”.

Além de recolher o material, foi levado o HD externo utilizado pela assessoria de imprensa da Associação. O documento foi produzido e assinado pela própria organização sindical.

“Esse manifesto tem esse teor, [e repercute] a defesa irrestrita do nosso sindicato, o Andes, da democracia, das liberdades democráticas, da defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, laica, socialmente referenciada. Não é um material ou manifesto que faz menção à defesa de uma candidatura ou de outra”, afirmou Tiago Neves, professor de psicologia e diretor social da ADUFCG, para o Brasil de Fato.

Outro caso que chamou atenção acontece na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói/RJ, em que a juíza Maria Aparecida da Costa Barros determinou a retirada da faixa com os dizeres “Direto UFF Antifascista”, que caso não acontecesse, levaria o diretor da faculdade, Wilson Madeira Filho, a responder criminalmente.

Na Universidade Estadual do Pará um professor que dava aula sobre fake news, recebeu a visita de dois policiais militares, chamados pelo pai de uma aluna que se sentiu ofendida com uma fala do docente, em que disse brincando para os alunos que não fizessem fake news com as fotos dos slides em que passava o conteúdo.

“Policiais abordaram o docente inquirindo-o e coagindo-o a se deslocar à delegacia para prestar esclarecimentos. O professor sabiamente se recusou e informou que somente compareceria acompanhado do seu sindicato e advogados e buscou o diálogo entre os presentes. Neste momento, os policiais desistiram da ação”, pontuou em nota o sindicato de docentes da universidade.

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) determinaram que a faixa com os escritos “Marielle Franco Presente”, em homenagem à vereadora assassinada, e “Luiz Paulo Vive, Ditadura Nunca Mais”, que lembra a memória do jovem assassinado há 50 anos pela ditadura, e ocupam a fachada do prédio principal da instituição, também fossem retiradas.

Em protesto, universitários colocaram no topo da fachada principal da faculdade uma nova faixa com a palavra “censurado”.

Foram registradas ações semelhantes em todo o país, UFGD (Dourados), UEPA (Iguarapé-Açu), UFCG (Campina Grande), UEPB, UFMG, UNILAB (Palmares), Cepe-RJ, Unilab-Fortaleza, UNEB (Serrinha), UFU (Uberlândia), UFRGS, UCP (Petrópolis), UFSJ, UERJ, UFERSA, UFAM, UFFS, UNESP (Bauru), UFRJ e IFB.

Com informações de Intercept Brasil e Brasil de Fato.