Fotos: Ju Ribeiro/ Mídia NINJA e Mídia NINJA

Por Juliana Ribeiro

Em tempos de violência estimulada por novos ditames governamentais fundados em falso-conservadorismo, armamento e misoginia, eis que neste carnaval as mulheres se empoderaram e se sentiram mais livres para aproveitarem a folia.

O que se viu nas ruas foi um carnaval repleto de mulheres cis e trans se divertindo em um ambiente em que se sentiam mais seguras do que em anos anteriores. De modo geral, é possível dizer que tivemos um carnaval em que as foliãs tiveram consciência de que suas vozes deveriam se fazer ouvir. Neste carnaval foi a vez de ouvirmos as Marias, Mahins, Marielles e malês.

Campanhas como “Não é Não”, enfrentamento sociopolítico de violência contra a mulher, constantes anúncios nos blocos relembrando o público da importância de se combater assédios foram fundamentais para que agressores e assediadores entendessem que a vigília estava montada. Desta vez, a raba que estava na mira era a do agressor.

Entre amigos, é possível notar que os tempos são outros e certamente você já ouviu aquele seu amigo reclamar que “não pode fazer mais nada que se é tachado de machista ou assediador”. Sinto muito [só que não], rapazes! Estamos marchando diariamente para derrubar seu reinado-macho, o patriarcado e inverter os padrões de normalização da violência contra a mulher.

Peitos de fora, gorduras saltando, muito glitter e celulites reinaram com toda sua beleza pelas ruas do Brasil. Carnaval em que as mais variadas formas de corpo impuseram o respeito que merecem. Liberdade, Liberdade. Foi a festa em que iniciamos o capítulo da liberdade de corpo definida por nós, de ser e estar, ir e vir, de rebolar bem na sua cara e dizer “não quero, sai fora”. Entretanto, ainda há um grito que precisamos entoar com a força que tivermos: HOMENS, PAREM DE NOS MATAR.

Em contrapartida ao cenário de maior respeito entre foliões desconhecidos, a violência doméstica triunfou, até o momento, sobre a vida de oito mulheres em cinco dias de festa. Feminicídios ou tentativas que se dizem motivados por ciúmes, são na realidade reflexos diretos do machismo que por séculos é praticado em nossa sociedade. Verdadeiro circo de horrores, a normalização de absurdos dá sustentação a relações em que o sujeito-machista entende que o corpo e vida de sua companheira pertencem à ele, de forma que a vida dela está sujeita aos desígnios dele mesmo. Temos aí o surgimento da figura “O Mestre do Destino Dela”. Figurinha carimbada de outros carnavais, mas que graças à luta e, infelizmente, às custas das vidas de muitas mulheres, está sendo cercada, exposta e apedrejada publicamente. Nós sobreviveremos.

Silêncio e violência contra mulher estão cada vez se tornando termos mais distantes um do outro.

Para que caminhemos rumo ao fim à brutalidade misógina que nos cerca, nós devemos nos unir cada vez mais. Manifeste-se. Palavras de ordem, movimentos sociais, engajamento em redes sociais, artivismo feminista, conversas em mesas de bar, em jantares familiares. Ocupemos todos os espaços públicos e privados para que eles entendam de uma vez por todas que nossas vidas não pertencem à eles, que somos donas de nossos corpos, mentes, desejos e caminhos.

Acima de tudo, ocupe a rua. Ocupe seu espaço. Dê você mesma lugar à sua voz. Seja parte da luta para que crimes de violência contra a mulher praticados ao longo do carnaval contra Maikelly, Jane, Thais, Débora, Maria, Isabela e tantas outras não se repitam. Lute por você, por elas, por nós. Ocupe o espaço que elas não poderão ocupar hoje, seja a voz delas.

Faça isso. Você Presente. Hoje. Sempre