Começaram nessa sexta-feira as atividades da Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, que ocorrerá em Brasília até dia 14 de agosto e reunirá cerca de 2 mil guerreiras de todo Brasil.

Foto: Mídia NINJA

Por Mahe Maia, para cobertura especial da Marcha das Mulheres Indígenas

Começaram nessa sexta-feira, 9 de agosto, as atividades da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, que acontece em Brasília até o dia 14. Os objetivos da Marcha são resgatar, conscientizar e consolidar o protagonismo das mulheres indígenas, dando visibilidade às lutas enfrentadas tanto nos territórios quanto na política. O movimento busca empoderar a mulher indígena para que tenha seus direitos respeitados, seus territórios protegidos e para garantir que ocupem os diversos espaços para além do chão da aldeia. “O momento é de fazer com que a voz da mulher indígena ecoe em todo mundo”, reforçou Sônia Guajajara hoje pela manhã em coletiva de imprensa de abertura da programação da Marcha.

Lideranças representando povos de diversas regiões do país também participaram da coletiva apresentando suas expectativas para os próximos dias. “Agora somos nós, mulheres indígenas, acadêmicas indígenas, mulheres de territórios, nossas ancestrais, nossas mães velhas que são guardiãs dos conhecimentos dos povos indígenas, que vamos romper com esse estereótipo que a sociedade tem com relação aos povos e mulheres indígenas”, afirmou Nyg Kaingang.

Por meio da Marcha, pretende-se desmistificar que a não-participação das mulheres se dá por uma questão cultural, rompendo essa ideia imposta desde o colonialismo, retirando o machismo das aldeias, e mostrando que a violência não é cultura, a submissão não é cultura, colocar as mulheres indígenas em papel secundário não é cultura. O Brasil não tem como avançar sem o respeito por seus povos originários, e concretização dos direito dos povos indígenas.

“As mulheres indígenas estão aqui para romper essa violência e lembrar que estão preparadas para assumir qualquer espaço”, reforçou Célia Xakriabá de Minas Gerais.

Para a liderança mineira, a Marcha vem para denunciar o genocídio, etnocício e ecocídio, entendendo a responsabilidade das mulheres indígenas no movimento de cura de uma sociedade que se encontra doente.

Durante a coletiva, reforçaram que a Marcha vem sendo articulada há três anos e a definição do tema do encontro tem a ver com questões fundamentais para as mulheres indígenas. “Quando tentam negociar uma educação indígena diferenciada, quando tentam negociar o direito à saúde indígena diferenciada, estão tentando negociar os nossos direitos. Mas quando tentam arrancar e amputar o direito ao território, estão tentando negociar as nossas vidas”, relembra a liderança Xakriabá.

A Marcha visa, portanto, fortalecer as mulheres indígenas enquanto protagonistas das próprias histórias, por serem condutoras de suas formas de existir e garantir a luta pelos territórios indígenas. Vem, especialmente, para que as meninas indígenas se fortaleçam e se encorajarem para ocupar os espaços que são delas de direito.

“Nós, mulheres indígenas, existimos porque somos desobedientes. Nós acreditamos que a nossa desobediência faz parte da revolução”.

A coletiva encerra com um importante alerta à sociedade: “A luta indígena deixou de ser responsabilidade só nossa. A luta pelo meio ambiente, pela terra, pelos indígenas passou a ser de toda sociedade. O que está em jogo não é apenas o desmonte das políticas sociais e ambientais, é também o seu futuro. Por isso, contamos com vocês para seguir nessa luta”, reforçou Sônia Guajajara.

Depois dessa atividade de abertura, aconteceu uma cerimônia de comemoração do dia mundial dos povos indígenas, realizada no Memorial dos Povos Indígenas e também atividades na Câmara dos Deputados em defesa dos povos indígenas contra a mineração e uma audiência pública no Senado.

Nos dias que se sucedem, as mulheres indígenas também se somam às mobilizações pela saúde indígena, à greve nacional, ao Tsunami da Educação e à Marcha das Margaridas.