Foto: Divulgação / SOS Sarzedo

Por Frei Gilvander Moreira e Comissão Pastoral da Terra

Os moradores de Sarzedo (MG) têm denunciado a instalação da empresa de incineração de resíduos tóxicos Ecovital Central de Gerenciamento Ambiental, criada em 2014, no pequeno distrito industrial da cidade. O Conselho de Política Ambiental (COPAM) concedeu a licença à empresa sem sequer uma audiência pública para esclarecimentos e orientações à população local e região. O Conselho é um órgão colegiado, normativo, consultivo e deliberativo, subordinado administrativamente à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), cujo secretário é seu presidente.

A Ecovital é uma empresa oriunda do estado de São Paulo e associada ao Grupo Queiroz Galvão. Sua instalação ocorreu no bairro Cachoeira, nas dependências da antiga Ecobras, empresa de menor porte que se destinava à incineração de resíduos. Não se sabe a data certa do início da sua operação em Sarzedo, já que os moradores nem tiveram ciência.

No entorno desta indústria de incineração de lixo tóxico industrial – não se sabe se lixo hospitalar também – há uma Área de Proteção Permanente (APP), pista de cooper, academia a céu aberto, campo de futebol, e não se sabe ao certo o grande risco que corre a comunidade local. As localidades mais penalizadas vêm sendo os bairros vizinhos Imaculada Conceição e Riacho da Mata.

Muitos moradores já abandonaram as suas casas, sobretudo no Riacho da Mata, pois, segundo os entrevistados desta reportagem, o mau cheiro, sobretudo à noite, final de semana e feriado chega a níveis insuportáveis. “É catinga muito forte!”. De fato, mesmo durante o dia, a fetidez do ar era evidente. Parte destes bairros também se encontra na rota da lama tóxica e estão sob risco grave no caso de as barragens de rejeitos da mineração Itaminas, situadas na parte alta de uma das serras do município de Sarzedo, se romperem.

Esse é outro grande temor e preocupação de ordem socioambiental. As pressões por parte de empreendimentos econômicos degradantes na região chegam a níveis alarmantes e inaceitáveis, causando muito desconforto, desinformação e sofrimento à população.

Conforme Gilberto Chagas, representante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável (MNCR), afirmou em TV comunitária, a Associação de Combate aos Poluentes e a Associação de Consciência e Prevenção Ocupacional fez uma representação junto ao Ministério Público Federal (MPF). A denúncia apontava os graves riscos para a saúde pública com a chegada de remessas de material químico tóxico de alta periculosidade da empresa francesa Rhodia para incineração na Ecovital em Sarzedo.

A cortina de fumaça com fedor que por vezes esmaece a paisagem de Sarzedo pode velar muitas outras informações sobre o processo de instalação, a origem e o tipo de resíduos ali incinerados. Infelizmente tudo foi operado com a conivência e a inoperância dos órgãos ambientais e suas várias instâncias, o poder público.

A indústria Ecovital está solicitando a sua renovação de licença de operação por mais dez anos.

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição: Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.