Foto: Cobertura Colaborativa Congresso Fora do Eixo

Texto traduzido de Emergentes 

No 6º Congresso Fora do Eixo – 1º Congresso Mídia Ninja ocorrido em Belo Horizonte foram amparadas, nas diagonais de uma das cúpulas do prédio, mulheres de diferentes latitudes da América Latina reunidas entre o acolhimento e os possíveis desgostos da meia sanção na Argentina. A rede territorial se preparou para marchar em Belo Horizonte pela legalização do Aborto no Brasil.

Foto: Cobertura Colaborativa Congresso Fora do Eixo

Como preâmbulo foi colocado sobre a mesa de debate as conjunturas políticas de seus respectivos países, refinaram-se as escutas e se misturaram as línguas para poder traduzir a luta em cada território: Brasil, Venezuela, Bolívia, Colômbia e Argentina. O ponto comum foram as estratégias de ocupação das ruas, o tema das mais jovens e as maneiras de construir transversalmente uma nova forma de fazer política. O que acontece de norte a sul da América Latina é que legal ou não as mulheres e seus corpos gestantes abortam.
Na Venezuela há 7 anos funciona a Rede de informação ao aborto seguro, informando àquelas que querem abortar através da medicação, não oferecendo a medicação mas a articulação para que até elas possa chegar. Nesse país o aborto somente é legal atrelado a um motivo: risco de vida da mulher, e o misoprostol é de uso restrito. O feminismo chavista está estimulando o debate pela despenalização dentro da Assembleia Nacional Constituinte e, no entanto, a opressão econômica afeta diretamente a saúde reprodutiva das mulheres e as ligações que recebe a rede quadruplicaram nos últimos tempos. Os comprimidos os anticonceptivos e o DIU que recebem vem de articulações internacionais. O objetivo hoje é conseguir ampliar o leque de causas para uso da medicação.

Na Bolívia o debate começou na comissão de gênero das deputadas e senadores do governo de Evo Morales. Dentro das mudanças constitucionais propostas estava a modificação do código penal – que incluía a despenalização do aborto – e foi recusada pela sociedade em uma marcha com uma multidão no dia 21 de fevereiro deste ano.

Na Colômbia o aborto é legal em três casos: má formação congênita, risco para a mulher e estupro.

No Brasil, a nível jurídico, no dia 20 de Agosto será realizada uma audiência para abrir o debate no Supremo Tribunal Federal. O país com a maior população da América Latina vem com o impulso da primavera feminista no ano de 2016 e com a decisão de debater de forma estrutural a maneira com que as mulheres fazem política e se organizam.

O ponto de confluência é a questão ancestral do aborto: as mulheres abortam desde sempre, o debate é se ele será feito dentro da legalidade ou não . Em Florianópolis encontra-se o Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina onde há cartazes que explicam às mulheres que ali podem abortar quando a gestação é fruto de uma relação não consentida. Após uma consulta com um profissional, em torno em 15 dias conseguem encaminhamento médico para a interrupção. Muitas ativistas da área se encarregam de transmitir essa informação em diferentes pontos do país e ajudam mulheres que querem abortar para que possam cumprir os protocolos desse hospital. Embora não estejam organizadas em uma rede, o caminho já foi desbravado, assim como as socorristas na Argentina em outros lugares da América Latina.

Sexta feira passada completou 100 dias do assassinato de Marielle Franco e no Brasil rompeu o grito pelo aborto legal: Em São Paulo a primavera feminista voltou a florescer, em Santa Maria, Rio Grande do Sul houve uma grande mobilização. No Rio de Janeiro cidade absolutamente militarizada a polícia tirou as mulheres da escadaria onde estavam concentradas milhares de mulheres para manifestar-se pela legalização e em Porto Alegre também houve marcha e participaram centenas de mulheres.

Em Belo Horizonte, em torno das 18 horas do último sábado, 400 mulheres começaram um ritual entre pinturas e cantos e a marcha culminou na Praça da Liberdade, e de norte a sul da América estamos unidos para legalizar o aborto na Argentina e no Brasil. Assim soava alguns dos cantos feministas.

Fotos: Cobertura Colaborativa Congresso Fora do Eixo

A marcha encerrou com um “pañuelazo”, a tonalidade verde que derruba fronteiras e faz ressoar o grito de Ni Una Menos por uma terra com fome de lutas.