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O skate é o segundo esporte mais praticado no Brasil e chegou a modalidade olímpica. A categoria feminina vem crescendo nas competições mas ainda tem um longo caminho na busca da equidade nas premiações, nos patrocínios e no reconhecimento. Após a repercussão do machismo escancarado na premiação da competição de skate, atletas se posicionam sobre a situação.

Lugar de mulher é onde ela quiser. Mas com as mesmas condições que os homens.

Karen Jonz, tetra-campeã mundial e uma das maiores referências do skate feminino no Brasil.

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“Quando recebemos a notícia de que o feminino seria incluído num campeonato importante, com cobertura enorme da grande mídia, vimos essa oportunidade como uma grande conquista para a nossa categoria. No entanto, o mundo inteiro questionou o fato da premiação dos homens ser três vezes maior que a das mulheres.

Passei boa parte da minha carreira participando de competições masculinas. Já fui barrada em competições masculinas porque não entendiam como é que uma menina poderia querer competir contra aqueles caras. Mas eu queria. E a única alternativa que eu tinha era me meter nessas competições, mesmo que o lugar destinado a mulheres nesses eventos fosse o da exceção à regra.

Estive à frente do skate feminino, lutando – às vezes quase que literalmente – para que as meninas ao menos tivessem um espaço na cena, e falhei inúmeras vezes. No entanto, esse esforço – que não foi só meu, mas de muita gente que eu nem poderia enumerar aqui – acabou trazendo para o skate feminino, aos poucos, a relevância que ele merece.

Hoje o skate está em todo lugar – é o segundo esporte mais praticado no Brasil – e as meninas são uma parcela muito grande desse público, que consome, se inspira, movimenta e vive o skate. A notoriedade do nosso estilo de vida nunca esteve tão em alta como agora que o skate virou modalidade olímpica, e isso trouxe muita atenção de um público ainda maior.

O mundo está em constante evolução, e nunca antes se fez tão necessário que paradigmas ultrapassados sejam derrubados. E o skate, mesmo sendo um esporte do futuro, ainda reproduz alguns conceitos que não têm mais lugar na versão 2018 do nosso planeta.

Nós, mulheres, treinamos tanto quanto os homens, vivemos isso com tanta intensidade e paixão quanto os homens, mas enfrentamos, além das dificuldade inerentes da vida da atleta, os desafios a mais que temos apenas pelo fato de sermos mulheres. Embora a gente já tenha conseguido avançar bastante na nossa luta, o espaço que nos é dado na mídia ainda é menor, sem falar na nossa participação nas competições – quando ela existe – que é sempre uma incerteza. É esse ecossistema de desigualdade que faz com que muita gente do nosso meio ache que ‘tudo bem’ uma premiação pagar três vezes mais para o campeão masculino. Nós, mulheres, que somos as filhas de homens, irmãs, amigas, esposas, mães de homens, valemos tão menos assim?

Muitas vezes não percebemos o quão bizarro isso soa, pois, como eu disse no começo desse texto, eu estou nesse meio desde que skate feminino era uma aberração, a exceção da exceção. Ao ver a comoção que a notícia do valor das premiações provocou no público, eu percebi que, mesmo que nós tenhamos avançados muito rumo à igualdade, ainda resta MUITO a ser feito. E isso só vai mudar se a gente se unir muito, oferecermos oportunidades e lutarmos juntas (e juntos, caras) para que a desigualdade deixe de ser o estado normal das coisas. Nada disso é normal, e o que nos mata é achar que o mundo é assim.

O mundo não é assim. O mundo apenas está assim. Nossa luta é para que metade das pessoas que habitam desse planeta (mulheres) sintam-se tão capazes de seguirem seus sonhos quanto a outra metade (homens)!