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Texto e fotos: Migrar Fotos e Fluxus Foto

“O dia da corrida” ou a ” descoberta da América ” coincide com os 10 dias da greve geral no Equador e com os mais de 500 anos de resistência dos povos indígenas. As mobilizações não têm apenas a ver com as novas medidas, o aumento da gasolina e o FMI. A brutal repressão contra os povos indígenas, a incapacidade de Moreno de governar para os mais vulneráveis, a falta de empatia do mestiço que diz “índios preguiçosos deixam o trabalho” seguidos por “os pobres são pobres porque querem” e o excesso de violência, nos lembram nesta data que a colônia continua, que a desigualdade é estrutural.

Até as 2 da manhã, eram relatadas nas redes sociais que sons de bombas de lacrimogênio eram ouvidos ao redor da Casa da Cultura, um local de acolhida de milhares de manifestantes. Depois de dias de tensão, o medo e a incerteza criam raízes, a indignação dá frutos.

Às 10 horas da manhã começava a marcha pacífica convocada pelas mulheres, ao mesmo tempo foram reportados saques e o fechamento de ruas e estradas na cidade de Quito. Repressão brutal, é anunciado que a sede da Controladoria está pegando fogo. As redes começam a especular: “os vândalos estão infiltrados, são os indígenas, são correístas, são venezuelanos, são soldados civis que querem deslegitimar o protesto”.

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Botam fogo na Teleamazonas, circulam números de feridos, mortos e desaparecidos, é solicitada a atenção da mídia, se denunciam abusos dos Direitos Humanos. As pessoas dizem “Não é assim que se protesta”, eles chamam os indígenas de terroristas. O protesto grita “Eles estão nos matando!” E eles estavam matando, vídeos circulam. Alguns parabenizam Moreno e pedem: “Que toda a força necessária seja usada, a situação merece isso”. Alguns choram pelo patrimônio, outros choram vidas.

Às 14 horas da tarde, o presidente anuncia que o toque de recolher começa às 15 horas e muitas pessoas voltam para suas casas, outras ainda estão no Parque Arbolito, muitas estão nos abrigos, esperando que não sejam atacadas novamente lá, como aconteceu antes. Os sons de bombas e balas atordoam, mesmo que por telefone, e o silêncio das ruas abandonadas também. A polícia rodea os centros de acolhimento e os voluntários e médicos fazem um cerco humano fora dessas instalações para proteger a comunidade indígena que se resguarda neles.

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Às 20:30, um panelaço é convocado, alguns slogans dizem “Fora Moreno, Fora!” como rechaço as medidas e a repressão ao povo, outros dizem ser pela paz e contra os protestos. As panelas batem por cerca de uma hora.

Esta data é novamente uma tragédia, marca um capítulo sombrio na história da repressão estatal no Equador. Hoje tivemos medo. Os equatorianos não deixaram suas casas por medo de outros equatorianos, sejam eles protestantes ou militares. Hoje lembramos que não é apenas pela gasolina, é por anos de desigualdade e opressão. É por estar profundamente dividido. Enquanto alguns dizem que os terroristas são aqueles que protestam, aqueles que fecham estradas ou aqueles que queimam edifícios, outros respondem com o corpo que terrorista é o sistema!”

Movimentos sociais denunciam cifras no dia 12:
– Temos 27 mortos por confronto com a polícia e exército;
– 860 feridos graves atendidos em casas de saúde ou ambulâncias;
– 1430 feridos sem gravidade;
– 120 desaparecidos, 62 menores de idade. Presume-se que foram assassinados;
– Mais de 1800 pessoas detidos em delegacias civis e militares, contrariando o estipulado pela Convenção de Direitos Humanos;
– 150 pessoas torturadas sadicamente nas delegacias civis e militares.