Em análise publicada neste sábado (13) no site no jornal Le Monde, economista francês alerta para as consequências nefastas para o país caso o candidato chegue ao poder

O candidato Jair Bolsonaro posando com militares, em outubro de 2018. Fonte: AFP

Por RFI

A democracia no Brasil está em risco, diz Thomas Piketty, autor do livro “O Capital no século XXI”. Militar, homofóbico e machista, o candidato também é contrário a políticas sociais e não gosta de pobres, lembra o economista francês, citando seu programa de governo.

Bolsonaro, diz, “surfa na nostalgia da ordem do homem branco, em um país onde os brancos não são mais maioria”. A população branca ainda representava 54% dos brasileiros em 2000, destaca. Segundo ele, diante das condições “duvidosas” da destituição da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e do impedimento da candidatura de Lula, em 2018, a eleição no Brasil pode deixar “traços terríveis”.

Ausência de reforma eleitoral

Em sua análise, Piketty também cita pontos positivos do governo do PT, como o aumento do salário mínimo, a criação do Bolsa Família e a retomada da economia acompanhada da queda da pobreza. Cita ainda a implantação de mecanismos de acesso preferenciais às universidades para as classes populares e para os negros.

O PT, entretanto, não realizou a reforma do sistema eleitoral, o que tornou inviável o combate à diminuição fiscal estrutural. Piketty dá como exemplo o imposto indireto que pode chegar a 30% nas faturas de eletricidade, enquanto a taxa sobre a herança é de 4%. O efeito, diz, é que desta forma a queda da desigualdade se torna o ônus da classe média, e não dos mais ricos.

De uma maneira mais ampla, hoje, no mundo, explica Piketty, o campo progressista, que no passado lutou para aplicar reformas políticas, sociais e fiscais, se recusa a organizar um debate sobre a democratização das instituições europeias, americanas ou brasileiras. Mas ele lembra que a democracia não pode ser salva se “o monopólio da ruptura do sistema” ficar nas mãos de reacionários como Bolsonaro.

Democracia frágil

O economista também lembra que foi somente com a reforma constitucional de 1988 que o voto se tornou um direito de todos os cidadãos no Brasil. Até então, analfabetos não tinham direito de votar.

“Na prática, foram os ex-escravos, e de uma maneira mais geral, os pobres, que foram excluídosdo jogo político durante um século”, ressalta. Essa exclusão, entretanto, não veio acompanhada de uma política educacional de inclusão. Isso porque as classes dominantes nunca “tentaram inverter a dura herança histórica”, diz.

Segundo Piketty, a eleição de Lula em 2002, com 61% dos votos no 2° turno, ele que recebia críticas constantes por sua falta de diploma, marca a entrada simbólica do país na era do voto universal. Um país, diz o economista francês, que tem uma democracia recente, frágil, e que atravessa uma grave crise.