Quinze pessoas foram mortas no Rio Grande do Sul pelo simples fato de serem mulheres.

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por Carla Castro / Mídia NINJA

A taxa de feminicídio, que são mortes de mulheres envolvendo questões de gênero, subiram 87,5%, já que em 2019 totalizaram 15 e no ano passado foram registradas 8 no estado gaúcho. Os dados foram apresentados pela Secretaria de Segurança do Pública (SSP), na semana em que a Lei Maria da Penha completou 13 anos.

Anterior à consumação da morte de mulheres, as agressões são cada vez mais presenciadas, conforme aponta a 2ª edição da pesquisa Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Instituto de Pesquisas Datafolha. O estudo mostra que a maioria das mulheres continua sendo vítima dentro de casa (42%). Chama a atenção, o fato que 60% da população, sem diferenciação entre homens e mulheres, afirmou ter visto situações de violência e assédio contra mulheres nos últimos 12 meses em seu bairro ou comunidade. Quando falamos em vitimização da direta feminina testemunhada por terceiros, 27,4% de mulheres reportaram ter sofrido violência ou agressão no último ano.

Este é o caso da produtora cultural Andressa Pereira, 32 anos, que foi vítima de agressão enquanto trabalhava em um dos pontos turísticos mais conhecidos da capital gaúcha, a Casa de Cultura Mario Quintana. Conforme relata no boletim de ocorrência, foi empurrada contra uma parede por um homem que trabalha na Cinemateca Paulo Amorim. Procurada, a Casa de Cultura informou que está realizando os trâmites internos e que não se pronunciará sobre o fato. Já a Cinemateca, falou através da gerente Adriane de Araújo Rosa. Conforme ela, não é no tipo de comportamento que se espera de um funcionário e está aguardando as imagens das câmeras de segurança sob posse Casa de Cultura. A Secretaria de Estado da Cultura deve abrir uma sindicância interna para apurar o acontecido, de acordo com o diretor da Casa de Cultura, Jessé Oliveira.

Presente no local, a professora Cássia Serpa conta que estava no local no momento que a situação aconteceu. “Olhamos para o lado quando notamos o agressor com a voz alterada com a mulher, ao mesmo tempo em que vimos a ausência da movimentação de seguranças para intervir em defesa da vítima. As poucas intervenções a favor foram de pessoas que estavam prestigiando o evento”, afirma. Ainda de acordo com Cássia, é inadmissível que isso aconteça com qualquer mulher, em qualquer situação, e quando ocorre em um ambiente onde a cultura deveria ser oferecida gratuita e pluralmente, e não a violência ser o palco do espetáculo, isso se torna ainda mais intragável.

Na contramão, o super ministro Sergio Moro afirmou durante a abertura de uma jornada de estudos sobre a Lei Maria da Penha que os casos de violência doméstica contra a mulher são em grande medida produtos de uma “distorção cultural”, decorrente de um papel de maior destaque feminino na sociedade atual. Vale lembrar que conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres são alvo de diversos tipos de violência, desde o assédio até a morte. A entidade indica que 7 em cada 10 mulheres no mundo já foram ou serão violentadas na vida. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considera que a violência contra as mulheres uma das violações de direitos humanos mais presentes no mundo. “Una-se pelo fim da violência contra as mulheres”.

O Movimento de Mulheres Olga Benario que atua nas pautas ligadas as mulheres vê esse cenário de forma preocupada. “A cada mês mais mulheres são praticamente expulsas de seus lares em função de agressões. Por isso, entendemos que é de suma importância que se tenha locais como a Casa de Referência Mulheres Mirabal, onde essas mulheres encontram atendimento e podem recomeçar suas vidas”, declara Nana Sanches, coordenadora da Casa de Referência Mulheres Mirabal e integrante do Movimento de Mulheres Olga Benário.