Foto: Carla Castro

Carla Castro para Mídia NINJA

Cerca de 38 mil pessoas foram ao estádio Beira Rio, em Porto Alegre, para acompanhar a edição 241 do clássico Grenal, o maior do Rio Grande do Sul. Antes da bola rolar, foi realizado o lançamento da campanha “Cartão Vermelho para o Racismo. Ninguém ganha quando existe preconceito” de autoria da OAB/RS em parceria com Grêmio e Internacional. O gol contra de Paulo Miranda para o Inter na etapa inicial e a cabeçada de Luan no segundo tempo da partida para o tricolor deu tranquilidade para as duas equipes que ficaram no 1 a 1. Uma jogada após os 40 minutos do segundo tempo fez o árbitro acionasse o VAR antes do término do jogo. Ânimos acirrados e o resultado foi um cartão amarelo para o tricolor, além de dois minutos de acréscimos. A partida foi disputada, com lances típicos de Grenal, mas foi um episódio nas arquibancadas após o jogo que ganhou destaque.

Um vídeo que circulou nas redes sociais mostra uma torcedora gremista acompanhada de seu filho empunhando uma camiseta do Grêmio em espaço reservado para a torcida do Internacional. Instantes após ela sacudir a peça tricolor em direção a torcida do Grêmio, que estava no anel superior do estádio, é abordada de forma hostil e agressiva por uma colorada que usava um cachecol da torcida Antifascista do clube dono da casa. As duas são cercadas por colorados – um inclusive retira a camiseta do Grêmio. Em meio a essa cena, a criança (o filho) chora e se desespera ao ver sua mãe sendo agredida. Nas mesmas imagens, se ouve a torcida gremista imitando som de macaco, num ato de racismo.

Procurada pela equipe da Mídia Ninja, a assessoria de imprensa do Sport Club Internacional foi enfática e disse que o clube se pronunciou através de nota oficial no perfil do presidente Marcelo Medeiros e que está tomando as medidas jurídicas cabíveis após a análise das imagens internas do estádio. No texto, lamenta o episódio ocorrido e fala que houve, no mínimo, falta de senso e compostura dos adultos envolvidos em preservar uma criança diante do momento. Ainda de acordo com a nota, para abrandar a situação um funcionário do clube conduziu a retirada da mãe e da criança com segurança até a saída do estádio e devolveu a camiseta. Da mesma forma, a Inter Antifascista usou as redes sociais para se posicionar sobre o ocorrido e afirma não ser uma torcida e, sim, uma organização autônoma, gerida com recursos próprios, sem qualquer vínculo com o Internacional e com nenhuma de suas torcidas. O grupo explica que comercializa produtos para construir suas ações e que qualquer torcedor identificado com a causa antifascista pode adquiri-los, mesmo sem compor a frente. Por fim, afirma que acredita que uma falha em um protocolo de segurança causou a situação.

Questionado sobre o episódio, Thiago Floriano, supervisor do Departamento do Torcedor Gremista, disse que o clube não vai se manifestar, mas que está dando apoio à torcedora gremista e seu filho. “Vamos respeitar o que ela pediu. No momento, a preocupação é com a criança que está abalada emocionalmente”, afirma. Sobre o comportamento de parte da torcida durante o fato ocorrido, Flores disse que não existem casos de racismo dentro da Arena há muito tempo. Vale recordar que nesta edição do Campeonato do Brasileiro, o jogador Yony Gonzales, do Fluminense, sofreu ato de racismo na partida contra o tricolor gaúcho. Além disso, tem o caso notório contra o goleiro Aranha, à época jogando no Santos. Mas o dirigente diz que o clube está tratando a questão de forma institucional e que estão trabalhando ações para prevenir atos de racismo.

Identificada com a causa antifascista, a Tribuna 77, formada por torcedores do Grêmio, já teve a oportunidade de acolher pessoas de torcidas adversárias na sua sede e nos seus espaços, de acordo com Tiele Kawarlevski. “Quando vimos que pessoas estavam correndo perigo no entorno da Arena prestamos a assistência necessária. Entendemos que os poucos torcedores que se identificam com o antifascismo precisam fazer sua parte e agir de acordo para mostrar ao que viemos”. A gremista diz que mesmo um grupo autônomo deve ter cuidado. “Mesmo sendo independente e não falando em nome do clube, estamos carregando a imagem dele. Uma pessoa que comete algo no estádio não ficará conhecida pelo seu nome, mas como torcedora do time”.