“Deve servir como farol para os brasileiros e brasileiras” afirmou o artista ao conhecer de perto a experiência de conquista de moradia resultante das ocupações.

No início da noite desta sexta-feira, 12 de janeiro, Caetano Veloso conheceu e conversou com moradoras e moradores do Conjunto José Euclides, no bairro Jangurussu, em Fortaleza, onde o MTST do Ceará conquistou o direito a 200 moradias, das quais 100 já foram entregues. Durante a visita o cantor e compositor elogiou o movimento e contou como tinha uma imagem incompleta dos sem teto, já que a narrativa que a mídia transmite os rotula sempre como “vagabundos”.

“A maioria da classe média não sabe direito e precisa aprender melhor o significado do MTST e da questão habitacional brasileira. Eu via notícias sobre o MTST mas a imprensa sinceramente não faz justiça ao que de fato acontece em lugares como esse. Depois que fui na Ocupação de São Bernardo e vi pessoas se dispondo a trabalhar e vi a organização da solidariedade, como isso ensina muitas pessoas, eu passei a aprender mais e e pretendo aprender muito ainda. Esse é o espírito da luta, é fé!”

Na casa de Dona Mazé, militante de 64 anos que conquistou uma moradia no condomínio, Caetano conheceu sua história:

Foto: Mídia NINJA

“Quando passei na porta da ocupação vi um monte de Cabanas e minha filha me chamou, perguntei se podíamos entrar e já peguei uma enxada. Fiquei capinando o terreno no sol quente, enquanto minha filha foi pegar bambus pra fazer nossa cabaninha. Dormimos no chão, no relento, passamos sol, chuva, depois saímos do terreno e continuamos a luta fazendo manifestação, parando o trânsito, queimando pneu. Foi muita luta, mas nós conseguimos. Eu pagava 600 reais de aluguel e hoje pago 81 reais pra quitar a minha casa. Tô muito feliz aqui na minha casinha, com meus netos e minhas filhas. Hoje posso até ir no cinema ou passear, porque sobrou um dinheirinho. Tenho muito orgulho de vestir a camisa do movimento e mesmo nos momentos mais difíceis nunca pensei em desistir.”

As distorções da mídia, como afirmou Caetano, impedem que mais gente no Brasil acompanhe esse tipo de movimento.

“Isso é uma lição para todos os brasileiros. Ações como essa devem ser farol para a sociedade reagir contra essa tradição de opressão, de abuso e desorganização do poder”, afirmou.

Durante a conversa com os moradores contou também sobre o período que ficou exilado do país, a luta contra a ditadura e criticou o governo Temer. Sua companheira e produtora, Paula Lavigne, que também participou da visita e é ativista do movimento 342, complementou: “Dinheiro não falta, lei não falta, mecanismo não falta. Falta mesmo é vergonha na cara do Temer.