Por Tainá Aragão | Cobertura Colaborativa #EleNão

 

Foto: Isabela Dutra

Ontem, dia 29 de setembro, todos os estados da federação protestaram contra a possível candidatura do  presidenciável Jair Bolsonaro, fazendo ecoar a partir da diversidade dos corpos na rua uma única pauta, o #EleNão. O movimento suprapartidário e protagonizado por mulheres movimentou durante toda a semana tanto o ciberespaço das redes sociais, quanto a rotina viva e física das cidades. O ato em Brasília contou com aproximadamente sessenta mil manifestantes, e iniciou a partir de 14 hrs, com a concentração principal na rodoviária do Plano Piloto, mas em outros pontos da cidade também saíram aglomerados de manifestantes em direção à  Torre de TV,  ponto final da manifestação.

Mulheres de diferentes Cidades Satélites, do entorno de Brasília e Plano Piloto, estiveram como a maioria no ato pacifico que durou por volta de 4 horas. O #EleNão foi organizado por mulheres de diferentes bandeiras, organizações da sociedade civil não-partidários e movimentos sociais que não se sentem representadas ideologicamente pelo discurso que incita a desigualdade de gênero, raça  e econômica. As manifestantes reivindicam a não candidatura de Bolsonaro, que segundo as ultimas pesquisas do DataFolha está com  28% das intenções de voto no primeiro turno.

O #EleNão, para além do ato,  gerou uma serie de indagações e reafirmações identitárias nas mulheres manifestantes. Com a proposta de apresentar essas reflexões, entrevistamos cerca de trinta mulheres de Brasília pertencentes a diferentes categorias do eleitorado com intuito de desmitificar a ideia que o  discurso movimento corresponde a somente um partido, ou ideologia única. Os relatos falam por si, e mostram a importância de uma democracia participativa para a construção de um estado democrático e de direitos.

Foto: Isabela Dutra

PORQUE #ELENÃO- segundo as mulheres manifestantes

JOVENS

Denise, diretora de mulheres da UNE – “Hoje 29 de setembro é um dia muito importante, pois estamos lutando pata ter políticos que nos representam no congresso, e o Bolsonaro é o tipo de político que ficou trinta anos no governo e não aprovou nada relevante. Ele fala que defende os militares, mas nunca aprovou nada que beneficie ou melhore a qualidade de vida desses profissionais”.

Fernanda Ribeiro, “Eu jamais apoiaria um candidato com um discurso machista homofônico, um discurso de ódio e completamente equivocado em relação ao papel da mulher na sociedade, então independente de quem vai ter o meu voto ele não vai ter de jeito nenhum”

Lara Amorin,  “ Esse movimento é de uma importância única, pois são as mulheres que estão mostrando nas ruas que ele não vai ganhar, é um movimento que está unindo, que não é partidário em termos de sigla, por isso, acredito que  esse movimento é essencial pra ele não ganhar”.

“Luciana Melo, Nós somos a maioria da população e não podemos voltar atrás, não podemos retrocer, o nosso direto de ser quem a gente é, o voto não pode ser para um machista”.

Bianca Oliveira, “Sou artista, sou mulher e sou professora, e sou mulher e estou aqui hoje para mostrar a nossa força enquanto mulher, e toda vez que escuto algum pronunciamento do Bolsonaro direcionado a gênero percebo que ele possui a tentativa de nos calar, então nós representamos aqui a nossa voz. NÃO VÃO NOS CALAR!”.

Isis Moraes, “Nós estamos na rua contra um estado autoritário, anti-liberdades, porque somos uma das primeiras categorias que o direito será cortado. Existem aquelas pessoas que estão votando no Bolsonaro por um discurso de anti-corrupção, ainti-petismo, e não necessariamente estão votando porque concordam com a violência, com essas pessoas eu acho possível dialogar sobre outras possibilidades.”

Thalita Victor. “Somos nós, quem é capaz de parir, capaz de sangrar, nós que vamos derrotar  o facismo. E Teremos nessa eleição vários cornos eleitorais, que vão querer mandar no voto da mulher, e não podemos permitir que isso aconteça, chega! Nós, temos a capacidade de decidir sobre o destino desse país.”

MÃES

Foto: Isabela Dutra

Samara Araújo, “não atuo em nenhum movimento politico e é a primeira vez que participo de alguma passeata , de alguma manifestação, estou aqui reamnete porque a democracia está em jogo, e a nossa liberdade de escolha enquanto mulher, a nossa liberdade política também está aqui em questão. Eu tenho uma filha pequena que ficou em casa e é no futuro dela e no futuro nosso, das minorias, que a gente está aqui hoje, defendendo um futuro mais digno. Só defendo que a gente consiga encontrar um futuro diferente do Bolsonaro. Ele não, Ele nunca, Ele de jeito nenhum”.

Camila Guerra, “Especialmente agora que a gente tem uma filha é importante pensar no futuro da mulher nesse país, o futuro não pode ser tão sombrio quanto a gente está imaginando, a gente precisa lutar por alguma coisa melhor. Temos que lutar por alguém que não considere que somos inferiores que um homem, porque todo discurso de ódio, toda essa misoginia acaba gerando mais violência contra mulher, que já é uma população sobre muita violência.”

Alessandra Rivera – Nós estamos lutando a séculos por direitos, de geração em geração e todos esses  direitos estão ameaçados por um discurso irresponsável e altamente facista e se a gente não resistir e o que sera desses direitos? Eu tenho duas filhas, o que eu deixarei pra elas?

NEGRAS E INDÍGENAS

Foto: Isabela Dutra

Eloise Lepori, “Voce não precisaria estar em um rotulo pra estar aqui hoje,  hoje nós estamos por todos os direitos que conquistamos aqui até hoje, para manter os nosso direitos que conquistamos no decorrer de todos esses anos. Eu sou totalmente contra qualquer retrocesso, sou mãe, negra e engenheira civil e vivi na pele todo esse ranço do machismo de achar que não somos capazes, que não deveríamos estar no espaço onde eles habitam, e durante anos me distanciei até do espaço laboral pelas pressões que eu vivi por ser mulher.”

Lina Apurinã “ Sou do sul do amazonas e estou na rua contra o coiso, porque ele não respeita os direitos de nenhuma comunidade tradicional, ele não valoriza a nossa diversidade e não possui nenhuma politica integrativa, e não possui nenhuma tentativa de dialogo com as comunidades, por isso, #ELENÃO”.

“Calila das mercês. Vir pra rua hoje significa ser contra o fascismo e ser contra ideologias que se posicionam ao racismo, homofobia, e desigualdade de gênero. Eu acho que isso pode tocar os eleitores do Bolsonaro e fazer com que eles repensem o quão isso impacta nossas vidas, não se trata apenas da nossa vida individual, mas de um coletivo que está em jogo. A gente pensar no índice de genocídio da população negra, a gente pensar de tantas pessoas LGBTQI que precisam de uma representatividade maior, e que não coloquem em cheque as nossas individualidades e escolhas, e sobretudo a democracia.”

Sandra Cantonheite, “Estamos aqui para reafirmar o posicionamento das mulheres da luta, na luta contra tudo o que nos opime. Estamos aqui, entre outras coisas, para reafirmar que ele nunca e não atenderá as nossas demandas de mulheres do campo, de luta. Por isso, ELE NUNCA”

Foto: Isabela Dutra

Berenice Darc  “É importante estarmos na rua hoje para dizer não, não a essa condição que está sendo colocada hoje para nós nesse momento eleitoral de uma candidatura que desrespeita parte importante do eleitorado brasileiro, as maiorias, as mulheres negras, os homens negros, os homossexuais e todos os movimentos que se colocam nesse país de forma democrática. Essa candidatura pretende retalhar os movimentos sociais, e serão colocados em condição de ainda mais marginalidade. Por isso, estamos na rua, para dizer ELE NÃO, NÃO a um candidato que não nos representa, e estamos na rua para fazer o embate e mostrar que outro Brasil é possível, sem essa criatura como presidente.”

Renata Leal, é importante as mulheres na rua para defenderem alguns direitos históricos que foram historicamente negados a gente, que interfere nas nossas próprias vidas, possibilidades e horizontes de existência. Somos o maior grupo, então se tomarmos uma decisão coletiva, temos muita potencia para orientar o resultado. Estamos aqui para alertar aos possíveis eleitores do Bolsonaro os perigos dele ser eleito.

LGBTQI

Foto: Isabel Dutra

Leticia Plaza, “ Eu luto enquanto mulher e membro da comunidade LGBTQI, e mesmo me colocando em risco por lutar aqui e me expor, eu acredito que é importante, pois a nossa democracia está ameaçada, eu luto para sobreviver”.

Letícia Medeiros, “Luto contra o Bolsonaro e enfatizo #EleNão, pelo simples fato da minha vida estar sendo ameaçada a partir do seu discurso. Sou preta, lesbica e pobre, não lutar contra ele é renegar meu direito á vida”.

TERCEIRA IDADE

Foto: Isabela Dutra

Helena Greco, “A importância é defender os direitos que já conseguimos a duras penas, e não vamos entregar de graça por misoginia, machismo, racismo, ditadura. Nós não vamos nos entregar de graça”.

“Eu acredito que esse movimento pode tocar os eleitores do Bolsonaro, principalmente as mulheres que não se posicionaram podem refletir sobre a ameaça que ele representa pra nossa democracia. Esse movimento mostra a força que temos, é na rua que nós experimentamos isso”.- Maria, de sessenta anos.

Maria Aurea Miranda “Ele representa um período da história do Brasil que podemos considerar um dos piores períodos na nosso história, a ditadura, um tempo de repressão e muita dor para as famílias. Hoje ele representa uma insegurança ao nosso país, e ao povo brasileiro, pois está com um discurso anti-democratico.”

Luiza Volpini, “As mulheres devem estar na rua sim, porque primeiro, nós  somos a maioria e a gente não tem ideia da força que a gente tem, e que chega de estar em segundo plano, sendo que somos o primeiro plano. Nós temos que mostrar e reconhecer – nós somos muitas mesmo-, temos que deixar a submissão de lado, estamos no século 21. Somos mulheres e temos que batalhar”.

As justificativas do movimento #ELENÃO apresentam os posicionamentos de diferentes mulheres em torno da LUTA pela democracia, uma democracia ainda em construção, mas com vozes ativas de mulheres que apoiam a permanência de um estado de direitos.