Por Brunella França / Copa FemiNINJA

Foto: Larissa de Carvalho

O ano é 2027. A Copa do Mundo Feminina chega mais uma vez e agora, maior do que nunca, são 32 seleções que entrarão em campo. Africanas; europeias; asiáticas; americanas de sul a norte; e a Oceania.

No Brasil, Maria Julia, que se inspirou no discurso de Marta após a eliminação para a França em 2019, chega pela primeira vez a um mundial jogando pela seleção adulta. Da Nigéria, inspirada por Oshoala, Ngozie quer fazer história por seu país. Da Coréia do Norte, Sun-Kim vem com a responsabilidade de ter sido a estrela da última Copa da Ásia.

Entre as europeias, federação com o maior número de seleções classificadas, a Turquia chega para um mundial inédito com uma delegação multicultural. E das ilhas Fiji vem o time mais jovem a disputar a competição.

Legado. Talvez, a estrela de 2027 tenha visto pela primeira vez as mulheres jogando futebol na Copa de 2019, transmitida para 135 países e assistida por mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo. No estádio de Lyon, na final, foram 57.900 pessoas!

Edições do Comentariado FC – programa de análise dos jogos feita por mulheres | Foto: Mídia NINJA

Gianni Infantino, presidente da Fifa, definiu a Copa do Mundo de 2019 realizada na França como um marco para o futebol feminino e antes mesmo de a Copa acabar já anunciou cinco medidas para o futuro da modalidade: dobrar investimento; mundial de clubes feminino; liga da nações feminina; aumentar para 32 seleções na Copa e dobrar as premiações na Copa de 2023, que ainda não tem sede definida.

Em campo, 552 atletas de 24 seleções. Na primeira fase, foram 36 jogos e 106 gols marcados, média de 2,9 por partida. E com direito a maior goleada de todas as Copas: Estados Unidos 13 X 0 Tailândia. Na segunda fase, foram 16 jogos, considerando a final e a disputa do terceiro lugar, e mais 38 gols, média de 2,375 por partida.

Com algumas décadas de atraso, o mundo finalmente parece ter descoberto que elas em campo sabem jogar muita bola!

E que no comando de seleções ou na cobertura esportiva, as mulheres sabem muito sobre o esporte mais popular.

Jill Ellis, bicampeã do mundo, Sarina Wiegman, campeã europeia e um dos nomes mais respeitados no futebol hoje. Duas mulheres a frente das melhores seleções do mundo hoje: Estados Unidos e Holanda.

E como não se encantar com a intensidade do jogo coletivo dos Estados Unidos, com seus gols antes dos 15 minutos de partida e quatro títulos em quatro Copas? Como não se apaixonar pelo toque de bola holandês, pela entrega, pela superação?

Como não enaltecer as campanhas de Suécia e Inglaterra, que decidiram o terceiro lugar? Como não dizer que o nome da copa foi Megan Rapinoe, que incomodou ninguém menos do que Donald Trump e a Casa Branca?

Como não reverenciar Miraildes Maciel Mota, a Formiga, com 41 anos e sete mundiais no currículo, jogando pelo Brasil desde 1999? Como não se juntar à sua majestade, Marta Vieira da Silva, em seu manifesto pela igualdade entre homens e mulheres? Marta, aliás, marcou o 17º gol dela em Copas, a maior artilheira, entre mulheres e homens.

Épico. Monumental. Inédito. Foi espetacular o que vimos dentro de campo.

Chuta, rola, passa, corre, dibra, voa, pedala. Gol! Gols! Golaços! A bola encanta a si mesma ao encontrar o talentoso toque dos pés de chuteiras que pedem igualdade, que querem reconhecimento, que demandam serem vistos com a grandeza que eles têm.

E se o combustível da vida é o sonho, a do futebol, também. O sonho do tetra, do tri, do bi, do título inédito. O sonho de marcar o primeiro gol numa Copa. Nunca nos esqueceremos da Tailândia pelo gol marcado, não pelos gols levados. O sonho de impedir um gol que mudaria a história do jogo, como Van Veenedaal fez na final inédita desta Copa.

Foto: Go Equal

Futebol é o sonho de vencer. De superar a marca anterior. De estar em campo. De vestir uma camisa e ser a extensão de tantas outras sonhadoras de todas as idades. A imagem da final? Becky Sauerbrunn, sangrando dentro de campo, abriu o supercílio numa dividida de bola, colocou um curativo e voltou para comandar o sistema defensivo de sua seleção com maestria.

E como elas jogaram! Elas todas, as 552 atletas. Com garra, com vontade, saindo da falta, sem fazer cera, sem resenha com a árbitra, mantendo-se de pé, buscando o próximo passe, o drible, o espaço, a bola. É Arte, assim mesmo, em maiúsculo! E elas querem mais. Nós queremos mais!

Mais incentivo. Mais clubes com times femininos. Mais trabalho de base. Mais campeonatos organizados. Mais condições de jogo. Mais estádios para jogar. Mais torcida. Mais profissionalismo. Mais projeto. Mais treinadoras. Mais comentaristas. Mais narradoras. Mais histórias sendo escritas e sendo contadas dentro e fora das quatro linhas.

Mulheres assistindo futebol por todo país | Foto: Erika Borba / Mídia NINJA

Queremos uma Copa com mais africanas, mais latinas, mais asiáticas, mais representantes da Oceania. Mais diversidade. Mais representatividade! Queremos placares surpreendentes, viradas de tirar o fôlego, campeãs inéditas, queremos futuro sem nos esquecermos do presente. Queremos que as meninas que hoje estão sonhando em jogar bola saibam que, um dia, num futuro não muito distante, elas possam levantar uma taça de campeãs do Mundo!

É indescritível poder encerrar um mundial feminino dizendo ano que vem tem Olimpíadas. E tudo isso que está acontecendo em torno do futebol feminino não acaba aqui. A bola da vez são ELAS!