Pelo Estudante NINJA, Filipe Pavão

Segundo dia de manifestações contra os cortes do governo na rede federal de educação levou cerca de 100.000 pessoas às ruas do Rio Janeiro segundo as organizações estudantis que mobilizaram o ato nesta quinta-feira (30). Além de estudantes e professores, mães caminharam ao lado de seus filhos e filhas da Candelária à Cinelândia para reivindicar maior investimento na educação pública e, também, políticas de permanência para mulheres que se tornam mães durante os estudos.

Foto: Lia Castanho

Iamni Jager | Foto: Lia Castanho

A professora de Biologia da rede estadual do Rio de Janeiro e de escolas prisionais femininas, Iamni Jager, levou seus quatro filhos, entre 2 e 11 anos de idade, para mostrar noções de cidadania e que os direitos dos pobres não são permanentes. “Eu cresci falando que não teria oportunidades, mas estou aqui graças a algumas políticas públicas, como o Prouni, que foi minha forma de ingresso na faculdade. Então, quero que os meus filhos entendam como ações políticas podem definir o destino deles”, contou.

Iamni ainda enfatizou o papel dos pais neste processo e relatou a falta devagas nas creches do município, problema recorrente na cidade. “Dos meus quatro filhos, três estudam escolas públicas da Prefeitura. Somente a mais nova nãoestuda por não ter vaga nas creches da cidade. Então, nós que somos pais e mães conhecemos as precárias condições de trabalho dos professores e precisamos estar engajados porque podemos falar com propriedade”, concluiu.

Claudia Toledo e Vitoria | Foto: Lia Castanho

Claudia Toledo e Victoria | Foto: Lia Castanho

Já a técnica de laboratório Claudia Toledo acompanhou a filha Victoria, que é estudante secundarista no campus São Gonçalo do Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ. “Se há muito tempo, saímos às ruas de caras pintadas para lutar por nossos direitos, hoje, eu venho para ajudar minha filha a lutar pelos direitos dela que estão sendo cessados”, disse a mãe. “Estou engajada nesta campanha. Não vai ter corte, vai ter luta”, completou emocionada.

Para a estudante Victoria, o apoio dos pais e mães mostra que eles entendem a necessidade de uma educação pública e de qualidade. “O suporte deles faz toda a diferença para a comunidade que a escola está inserida”, contou

Rafaela Cecilia e seu filho | Foto: Lia Castanho

Mães universitárias também marcaram presença o ato para expor os desafios da maternidade no meio acadêmico. A estudante da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ e integrante do Coletivo de Pais e Mães da Rural – COPAMA Rafaela Cecilia contou que levar o pequeno Dimitri de 1 ano e 4 meses é uma forma de resistência. “Estou com meu filho 24 horas dentro da universidade e dentro da sala de aula, então, trazê-lo para o ato me dá forças para lutar contra esses cortes sobre nós alunos”, afirmou.

Ela ainda apontou demandas como o aumento do auxílio para mães e bandejão estruturado para os filhos se alimentarem, além do receio de perder conquistas recentes. “A Rural já está precarizada e nós mães temos várias pautas que vão ficando ainda mais para trás com esses cortes. Por exemplo, estamos na luta desde 2009 pela creche universitária que já foi aprovada, porém ainda não saiu do papel”, disse.

Pai e mães universitários no ato do Rio de Janeiro | Foto: Linha Castanho

Pai e mães universitários no ato do Rio de Janeiro | Foto: Linha Castanho

Já as alunas Camilla Cidade, estudante de Produção Cultural na
Universidade Federal Fluminense – UFF, e Mithaly Correa, licencianda em Geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, disseram que representar os coletivos de mães de suas universidades no ato tem o objetivo de sensibilizar a sociedade. “A gente entrou na universidade, mas como faz para gente sair?”, questionou Camila, integrante do Coletivo Mães da UFF.

Ainda segundo a estudante, as mães precisam de política de permanência do governo, além de leis que garantam o direito de estudar para meninas que engravidam no 1º ou 2º grau. “Se não fosse a empatia dos meus coordenadores e amigos da faculdade, eu não estaria conseguindo me formar”, desabafou. “Nós queremos políticas, por isso, a articulação dos coletivos de forma nacional é importante. Isso é uma rede de sororidade. Unidas, nós somos mais fortes”, completou.

Mães universitárias Mithaly Correa e Rafaela Cecilia | Foto: Lia Castanho

Mães universitárias Mithaly Correa e Rafaela Cecilia | Foto: Lia Castanho

Já a integrante do Coletivo Mães da UFRJ Mithaly Correa, que pesquisa o direito à cidade no Núcleo Interseccional de Estudos de Maternidade – NIEM, reafirmou as particularidades de cada instituição e a luta pelo ingresso de mães no ensino superior. “Nós dos coletivos já estamos na universidade, mas queremos que outras mães entram porque acontece muito de mães jovens não concluírem o Ensino Médio por exemplo”, disse.