Victória Freire é socióloga e coordenadora do Observatório de Gêneros e Políticas Públicas (OGyPP)

Na próxima quinta-feira, 6 de junho, Jair Bolsonaro, chega na Argentina. Aliado e admirador de Mauricio Macri, Bolsonaro fará sua primeira visita oficial ao país irmão. Movimentos sociais, jornalistas, artistas e políticos estão se organizado para fazer uma grande demonstração de repúdio à sua figura. Entre eles, estará Victória Freire, socióloga e coordenadora do Observatório de Gêneros e Políticas Públicas (OGyPP),e una ícone do feminismo argentino. Fiz-lhe algumas perguntas para saber qual é a visão que uma militante popular e feminista tem de um personagem tão sombrio.

Que reflexão você faria, desde uma perspectiva feminista, da figura de Jair Bolsonaro?

Tanto feministas como ativistas populares viram com grande preocupação a ascensão de Jair Bolsonaro, porque sabemos que ele é uma figura que expressa o mais conservador e o mais retrógrado da cena política latino-americana. Mas não é só por isso. Além da sua misoginia, seu racismo e sua homofobia, Bolsonaro planeja levar na frente políticas públicas que, na Argentina, levantaram uma enorme resistência, como a reforma previdenciária e a reforma trabalhista.

O prefeito de Nova York o impediu de realizar um jantar de homenagem e declarou-o persona non grata. O que você acha dessa atitude?

Esta semana Bolsonaro vai visitar a Argentina e uma mobilização de repúdio está sendo organizada. Então, neste ponto, podemos chegar a um acordo. Não queremos naturalizar uma pessoa que reivindica as coisas que ele reivindica, como o torturador de Dilma Roussef, a quem prestou homenagem durante o impeachemt. Não queremos naturalizar que uma pessoa dessas chegue no nosso pais como e fosse qualquer um, e é por isso que estamos organizando nosso repúdio na rua.

Você acha que a relação de admiração mútua que ele tem com Mauricio Macri é casual?

De fato, o reconhecimento mútuo que existe entre Macri e Bolsonaro não é uma coincidência. Isso tem a ver com um plano político-econômico que eles estão buscando, que buscam realizar na América Latina. Ambos representam a ponta de lança da política econômica que o FMI e os representantes das economias dominantes buscam desenvolver em nossa região. E isso, claro, também tem como consequência a perseguição judicial de políticos populares como Lula, no Brasil, e Cristina Kirchner, na Argentina. Então não, não é por acaso. Eles são personagens semelhantes. Talvez a diferença seja que Bolsonaro é mais explícito para manifestar sua misoginia, seu racismo e sua homofobia. São diferentes formas de violência em si.

Em 6 de junho, Bolsonaro chega à Argentina e associações civis, jornalistas, artistas e políticos se reúnem em um ato de repúdio. Como você vê essa ação? Você pensa em se adicionar?

No próximo 6 de junho faremos parte. Eu também participarei contra a chegada de Bolsonaro. Acredito que estas manifestações não sejam apenas um ato de repúdio contra sua figura, mas também ações que buscam construir pontes com aqueles que estão sofrendo hoje no nosso país irmão as consequências de seu modelo político e econômico.

O que você diria a um cidadão brasileiro sobre as consequências de um plano econômico neoliberal?

Desde que, em nosso país, a Argentina, um governo implementou um plano econômico neoliberal, essas políticas levaram ao fracasso. Se criaram níveis muito altos de endividamento e enorme dependência econômica dos Estados Unidos, os quais, portanto, condicionam as decisões políticas e a nossa autonomia. Isso resultou no condicionamento de orçamentos para direitos básicos, como educação, saúde etc. Isso significou um crescimento muito forte do desemprego e uma queda nos salários. Também um corte nas políticas sociais e no bem-estar social. Então a imagem é realmente desastrosa em todos os planos. Mesmo para os pequenos comerciantes e setores empresariais, essa combinação é terrível, porque o mercado interno entra em recessão, as pessoas não têm dinheiro para comprar e as condições de todos os setores sociais são precárias. Portanto, temos que ser muito atentos e muito cuidadosos para não permitir que este tipo de propostas triunfem na Argentina nas próximas eleições. Espero que sejamos capazes de reverter a história e conseguir que outro tipo de governo assuma a liderança de nosso país.

A eleição de Bolsonaro no Brasil resultou no aumento de todos os indicadores de violência de gênero, racista e homofóbica. Femicídios e transveticidios atingiram números recordes este ano. O plano do governo do presidente brasileiro inclui privatizações e redução de direitos trabalhistas e previdenciários. Os argentinos são cientes disso e já preparam uma grande manifestação para dizer não às politicas da violência social e econômica.

*Cineasta, escritor e jornalista baseado no Brasil.

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