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A sexta-feira começou com a oficialização do que eram até então rumores: Pezão, governador do Rio de Janeiro, implorou a Temer e Rodrigo Maia por uma intervenção federal, por meio das forças armadas, na segurança do estado. E pode ser que a medida passe a valer já a partir de sábado, dando carta branca para o Comando Militar do Leste coordenar as polícias militar e civil, além do Corpo de Bombeiros.

Não se pode dizer que os conflitos entre o crime organizado e as polícias não sejam, de fato, muito graves, e que representem um risco injustificável à segurança dos moradores sobretudo das comunidades carentes, como a Maré. Situação que precisa ser atacada urgentemente. No entanto, desde o agravamento dos conflitos, jamais Pezão foi a público para dizer o que pretendia fazer para contornar uma situação que nunca esteve sob controle. Na realidade, as políticas de segurança geridas pelo PMDB nas últimas décadas são diretamente responsáveis pelo estado de calamidade visto hoje, ao delimitar muito bem qual parcela da população tem proteção e políticas urbanas e qual parte da população vive à margem, sob coação das milícias policiais e do crime organizado.

Se a situação de crise foi historicamente construída, a solução não vai se resumir a uma intervenção do Exército, temporária, com grande risco de graves violações dos direitos civis da população pobre – o que não é uma hipótese e já acontece todos os dias durante as ações nas favelas -. Qual é a proposta, afinal? Qual é o plano? Que mudanças radicais terão que ocorrer daqui em diante? Pezão não explicou. E nem explicará. Esta é a tradição do partido de Temer e Pezão à frente do estado do Rio de Janeiro: ingerência!

Iniciativas como a instalação de UPPs obedeceram não a lógica de segurança pública, mas o interesse econômico de certos grupos, de promover a gentrificação de áreas de risco ou áreas adjacentes a elas, mas com localizações privilegiadas. O problema de segurança pública é consequência direta de um projeto de cidade tocado há décadas por gente corrupta, agremiada em partidos contaminados pela presença de chefes e representantes dos chefes do crime organizado. O que vai mudar agora? Não está óbvio que a mudança é urgente e não depende de decreto de intervenção?

O anúncio de um ministério específico para a segurança pública e o próprio decreto têm um cheiro de populismo no ar, em um ano em que, mais uma vez, o PMDB disputará sua manutenção no governo estadual. Temer, com isto, arrisca sua principal bandeira dos últimos meses, que é a reforma da Previdência Social, sabendo que não tem condições de aprová-la. Durante a vigência do decreto, a Constituição impede que qualquer PEC seja votada. Um recuo estratégico diante das exigências do mercado e da rejeição da população e uma tentativa de reverter os danos políticos à sua bancada.

A solução, de verdade, não é o foco de Pezão ou de Temer.

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