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Por Fatine Oliveira

Seria senso comum iniciar este texto falando sobre a importância das eleições para o país. Que este é a festa da democracia, onde escolheremos nossos representantes e fazer valer nosso voto. Sim, talvez seria ingênuo dizer para ficarmos atentos ao perigo da intolerância nas redes sociais, do discurso de ódio alimentado nas ruas e as consequências disso em nossas vidas.

Entretanto, acredito que teremos de resgatar velhos conceitos ao lidar com velhos perigos. “A história se repete” essa é uma expressão antiga entre os historiadores, porém não poderia ser mais correta. Em ciclos vemos a razão e a emoção tomarem conta das pessoas influenciando completamente o modo de se relacionarem e transformarem suas vidas. Em um desses períodos vimos o quão poderoso pode ser o medo, pois com ele negociamos nossa liberdade.

Quando nossa segurança é ameaçada, nosso lugar de conforto, recorremos de forma imediata a primeira mão que nos “socorre”. Entretanto, nem sempre essa mão será amiga. A maioria das vezes pode ser a mão que intitula o filme “a mão que balança o berço”.

Hoje vemos um tal candidato ganhar espaço com seu discurso de ódio, com suas ameaças a bandidagem, em uma saga pela defesa dos cidadãos de bem. Esse homem sustenta suas ideias na palavra de um deus, muito mais parecido com aquele tirano das primeiras páginas da bíblia, do que com Jesus e seu discurso de amor ao próximo. Aliás, bem sabemos como o Messias foi tratado pelos mesmos que seguiam as ideias do Antigo Testamento.

O problema é que ficamos um pouco anestesiados após o golpe. Aquela cena de festa na câmara dos deputados, as ruas tomadas pelas camisas amarelas da seleção e a retiradas a galope dos direitos nos deixou desesperançosos com a mudança.

Lutamos, resistimos e vimos uma de nossas companheiras sendo morta e, até o momento em que escrevo esse texto, ainda não foi investigado.

Como disse, pode ser clichê dizer sobre a importância das eleições, mas olha, terei de correr este risco. Temos muito a perder. Não dá para permitirmos que nosso país, um dos mais ricos culturalmente, sucumbir ao discurso do padrão. Não dá para abrir mão da diversidade, ela está nas ruas. Em nossa vida todos os dias.

Nós, pessoas com deficiência, vivemos durante anos com nossas escolhas definidas por um diagnóstico médico e cerceados pela superproteção de uma família. Não somos mais esse tipo de pessoa. A deficiência está no modo como somos recebidos pela sociedade, na falta de espaços acessíveis para todos os tipos de corpos. Somos antes de tudo pessoas que também tivemos nossos direitos afetados por toda esse momento em que vivemos.

Por esse motivo, precisamos nos posicionar. Entender que se colocar contra esse candidato não quer dizer que somos contra sua pessoa, mas sim ao seu discurso e tudo aquilo que ele representa. Se quiseram transformá-lo em um mito, em verdade o tornaram símbolo e referência de tudo que devemos combater seja na política ou no dia a dia.

Se colocar contra esse candidato não quer dizer que somos a favor deste ou daquele, contudo que não toleramos mais esse tipo de discurso. Conquistamos nossa liberdade de expressão a custo de muito sangue de jovens estudantes, de filhos desaparecidos, de artistas e não aceitaremos mais o cale-se.

Neste país não teremos mais o “ame-o ou deixe-o”, seremos o “ame-o e lute por ele”. Queremos ordem sim, mas com muito amor e inclusão no progresso.

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