Foto: Mídia NINJA

Por Pedro Gorki

“O Brasil pega fogo” costumava ser apenas uma metáfora para retratar disputas políticas. Hoje, tem um sentido literal que reflete mais do que o descaso com o meio ambiente, o descompromisso total com o país, compromisso substituído por interesses sórdidos que têm no governo Bolsonaro sua máxima expressão.

A situação é tão grave que até mesmo o agronegócio faz questão de se desvencilhar das queimadas que ocorrem na Amazônia, pois sabem que as retaliações internacionais são inevitáveis. Países já declaram boicote aos produtos brasileiros, pois o respeito ao meio ambiente é um dos principais quesitos levados em consideração ao se decidir pela importação de algum produto.

As queimadas não são fruto apenas da seca. Reportagem publicada pelo jornal Folha de São Paulo, no dia 22 de agosto, mostra que os incêndios são provocados por fazendeiros, incitados pelas declarações do presidente da República. Um anúncio, publicado em jornal do município de Novo Progresso, no interior do Pará, convoca os fazendeiros para o “Dia do Fogo”.

Os reiterados ataques do presidente Jair Bolsonaro às políticas ambientais, aos ambientalistas e aos órgãos de fiscalização estimularam fazendeiros da região amazônica a promoverem o “Dia do Fogo”. Várias cidades foram cobertas por densas nuvens de fumaça.

Diante disso, o Ministério Público Federal (MPF) abriu quatro investigações para apurar as causas do aumento do desmatamento e das queimadas na região amazônica. Os inquéritos investigam a redução das fiscalizações ambientais na região e a publicação do anúncio da promoção do “Dia do Fogo”. Segundo o MPF neste dia, dezenas de produtores rurais teriam ateado fogo na mata para dar uma demonstração de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. A ausência do suporte da Polícia Militar no Pará inviabilizou que fiscais do Ibama atuassem para impedir a realização do Dia do Fogo.

A responsabilidade de um presidente da República vai muito além dos decretos e medidas que assina. Cada palavra, cada gesto, orienta o rumo para seus seguidores. As atitudes e declarações de Bolsonaro, questionando e tentando desmentir dados técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), são as responsáveis por essa tragédia na Amazônia. Os dados do respeitado Instituto apontam aumento de 278% no desmatamento em junho de 2019 em comparação com o mesmo mês de 2018. Em junho, o número de queimadas foi 84% maior.

Agora, em agosto, ainda não temos os percentuais, mas tivemos a chuva preta e o dia virando noite no Sudeste, resultado do corredor de fumaça que se formou na América do Sul devido às queimadas. Como um alerta, esse fenômeno climático está a nos dizer que é preciso fazer alguma coisa ou pagaremos muito caro pelas destruição da Amazônia. Não são apenas os índios, a vegetação e os animais que sofrerão as consequências, embora sejam os que mais sofram. As imagens dos animais queimados são chocantes.

Nós, estudantes, compreendemos a dimensão do problema em que Bolsonaro nos colocou. E sabemos que é preciso resistir para garantir a vida e o nosso futuro.

Os crimes ambientais são apenas mais um aspecto no desmonte da nação brasileira, embora seja o que chame mais atenção. Os ataques às empresas nacionais, à educação, à cultura, aos direitos dos trabalhadores e a tantos setores que fazem do Brasil um país soberano e respeitado no mundo.

Sabemos que precisamos agir rápido, mobilizando amplos segmentos para evitar a barbárie. Por isso, convocamos os estudantes a se manifestarem nas ruas pela Amazônia. Em diversos países do mundo acontecem protestos em frente às embaixadas brasileiras. Aplaudimos e agradecemos a mobilização. Mas essa luta é nossa, assim como a Amazônia que, generosamente, contribui para a vida no planeta.

Nós, estudantes, estaremos nas ruas no dia 7 de setembro para dizer que o Brasil precisa de uma nova independência, que garanta um país democrático, com respeito ao meio ambiente, com educação pública de qualidade, só possível com investimento e não com corte de verbas; um país onde a juventude de hoje não seja escravizada como quer o atual presidente; que tenha direito ao trabalho digno e bem remunerado; um país que invista na ciência e não duvide de dados científicos para impor sua ideologia de morte.

A juventude lutará, até onde for necessário, pela vida e pelo futuro.

Pedro Gorki é presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).

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