Performance 'Cegos' em Brasília. Foto: Mídia NINJA

Performance ‘Cegos’ em Brasília. Foto: Mídia NINJA

Inicio essa coluna com um tema recorrente, que já abordara em artigos anteriores, publicados em outros veículos: trata-se da postura dos chamados a-políticos, a-partidários, que desconstroem a política (mesmo fazendo parte dela) e se colocam, com seu niilismo despolitizador e reacionário, como arautos da moralidade, chicotes do povo, palmatórias do mundo, verdadeiros salvadores da pátria.

Destes, tenho ouvido, nesses tempos bicudos de turbulência, crise econômica e clima de total adversidade e descredibilidade da classe política, que não respondem ou não aceitam interferência de políticos A ou B ou de partidos C ou D.

Essa pseudo-independência é, na verdade, o discurso populista dos covardes, demagogos e hipócritas, que só adotam qualquer postura ou posição segundo a chamada “opinião pública”, formada, por sua vez, a partir do posicionamento via de regra tendencioso dos veículos da grande imprensa.

A independência política até existe. Mas, o bom político tem de ter lado.

Ter lado não significa dizer não importar-se com o povo, mas sim, defender o interesse público a partir de suas convicções, previamente tornadas públicas em campanha ou fora dela.

O que se espera de alguém que foi eleito defendendo ideias, constantes em uma determinada plataforma que, por sua vez, deve ser convergente com a ideologia do seu partido político ou coligação, é que as defenda. Postar-se “em cima do muro” ou amparar-se na chamada “voz das ruas” para adotar postura A ou B é, no mínimo, um ato de insegurança e covardia.

A democracia representativa existe, justamente, para que os representantes do povo filtrem, depurem, fermentem e promovam a digestão da chamada opinião pública, trazendo a voz da turba à luz e à razão, porque a voz do povo não é a voz de Deus: se fosse, a massa ensandecida não teria trocado Jesus por Barrabás. Logo, democracia participativa, que complementa a democracia representativa, não é a mera expressão da opinião pública: é algo bem mais complexo, que passa pela teoria da razão e da ação comunicativa, de que tratava Habermas.

Ser refém da opinião pública é, portanto, tornar-se refém da barbárie.

De modo semelhante agem aqueles que, na política, não se assumem políticos, negando a si próprios. Porque quem concorre a cargo eletivo é político e ponto final. Essa satanização da política gera subprodutos como Dórias, Calils, Trumps: empreendedores que, por conta de seu alegado e suposto “sucesso” na iniciativa privada, não precisariam “roubar”, portando assim um salvo-conduto que os isentaria de praticar atos de corrupção. Em verdade, um engodo, pois estes são como “radicais livres”, que impedem a junção das enzimas, mas não resistem aos efeitos das vitaminas.

Ao bom político também é essencial que publicize sua opinião a respeito de temas polêmicos.

Tornar público o que se pensa, por exemplo, sobre o Estado Laico, sobre a ingerência das religiões nos parlamentos e governos, sobre união homoafetiva, legalização das drogas, desmilitarização das polícias, desarmamento, pena de morte, prisão perpétua, dentre outros temas, é necessário.

Não ter coragem de assumir uma determinada posição com receio de se indispor com um determinado grupo ou segmento social, remetendo ao tribunal do povo (plebiscito, referendo) a decisão sobre temas polêmicos é uma falsa democracia. Na verdade, é “democratismo”: corresponde a jogar o gladiador aos leões.

Ao longo das próximas semanas, abordarei, aqui nesse espaço, a minha opinião, o que penso e defendo sobre diversos temas polêmicos.

Ao debate!

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