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O mais curioso nessa história toda que envolve o ex-motorista e segurança Fabrício José Carlos Queiroz, nomeado assessor parlamentar no gabinete do então Deputado Estadual e hoje Senador eleito, Flávio Bolsonaro; a futura Primeira-Dama do Brasil, Michelle Bolsonaro; e o Presidente da República eleito, Jair Bolsonaro, além do misterioso sumiço do primeiro, é que as explicações e as contas não batem. Senão vejamos:

Fabrício Queiroz tinha dois vínculos empregatícios, em tese acumuláveis por lei: em um, recebia algo em torno de R$ 8.517,00; em outro, R$ 12.600,00. Isso dá uma receita anual bruta aproximada de R$ 281.479,61. É uma renda alta, considerando a(s) função(ões) que ele desempenhava, mas é quase 5 vezes menor do que a quantia que ele movimentou, em um ano, em sua conta bancária.

Pois bem. Tendo movimentado R$ 1,2 milhão (5 x mais do que seus rendimentos), ainda assim se sentiu impelido – por força, talvez, de alguma necessidade – a contrair um empréstimo de R$ 40.000,00.

Com todo esse lastro de movimentação bancária, ele poderia ter solicitado tal empréstimo ao próprio banco ou a qualquer outra instituição financeira.

Porém, solicitou ao pai de seu patrão – o então Deputado Federal e Presidente eleito, Jair Bolsonaro – que, sendo seu amigo pessoal desde o ano de 1984, quando se conheceram em um curso no Exército, prontamente, lhe atendeu.

A suposta necessidade de Fabrício foi tamanha que ele recebeu “ajuda”, na forma de vultuosas e frequentes transferências ou depósitos bancários de, ao menos, 8 colegas assessores parlamentares do mesmo gabinete (o de Flávio Bolsonaro), incluindo sua própria esposa, duas filhas e ex-mulher e o esposo da ex-mulher. Uma das filhas de Fabrício, Nathalia Melo de Queiroz, foi tão generosa com seu pai que chegou a transferir o valor equivalente a quase 99% de sua receita anual líquida para seu genitor!

Prossigamos: o mesmo assessor teria realizado 176 saques em um único ano, que sempre ocorriam após transferências ou depósitos feitos pelos colegas assessores em valor similar e em espécie, geralmente na véspera dos saques. As datas das transferências ou depósitos, por sua vez, coincidiam com as datas do pagamento da Alerj.

Fabrício resolveu honrar com o empréstimo que lhe fora supostamente concedido por Jair Bolsonaro. E o fez em 10 cheques de R$ 4.000,00.

Mas, como Fabrício Queiroz talvez seja uma pessoa muito esquecida – ou mesmo desorganizada – pagou novamente a dívida dando um cheque de R$ 24.000,00 a Dona Michele Bolsonaro, esposa de Jair Bolsonaro e futura Primeira-Dama do Brasil.

Mas, ainda não acabou: no mesmo relatório em que o Coaf aponta as movimentações bancárias suspeitas de Fabrício, aponta também que um de seus colegas assessores, que teriam transferido dinheiro para sua conta (Wellinton Sérvulo), passou mais de 400 dias, em 3 anos, fora do Brasil – em Portugal – no período em que deveria estar trabalhando na Alerj; e que Nathalia, a filha generosa de Fabrício, também exercia os empregos de recepcionista em uma academia de ginástica e de personal trainner de famosos, concomitantemente com as suas atribuições de assessora parlamentar.

Agora, analisemos a situação: o empréstimo de Jair Bolsonaro e as altas somas de transferências ou depósitos dos colegas assessores talvez expliquem o montante movimentado na conta de Fabrício. Explicam, mas não justificam. O valor, a frequência e as datas das transferências e depósitos, assim como a inassiduidade habitual de alguns desses assessores demonstram uma prática comum nos parlamentos.

É a devolução de parte do salário dos membros de um gabinete – ou mesmo do salário integral – ao parlamentar, na pessoa de um assessor, o famoso “laranja” ou “coletor do pedágio”, que o faz em uma “conta de passagem”, onde o verdadeiro destinatário do dinheiro não é o titular da conta.

Tal prática, conhecida como “cachorro”, “gafanhoto”, “caixinha”, coleta da “xixica”, do “jabaculê”, da “lambidela”, da “bola”, do “faz-me-rir” ou, simplesmente, “mensalinho”, configura o crime de peculato, previsto no art. 312, do Código Penal. Sendo assim, Fabrício Queiroz parece ser o PC Farias de Bolsonaro. E os R$ 64.000,00 (40 + 24) de Michelle Bolsonaro, o Fiat Elba de Roseane Collor.

Some-se a isso a assessora fantasma de Jair (a Wal do Açaí), contratada para alimentar os cachorros do patrão em sua casa em Angra dos Reis; o recebimento de doação ilícita de R$ 200 mil da JBS, lavado no partido e devolvido ao parlamentar; o uso ilegal de disparos em massa de mensagens de WhatsApp, durante a campanha, pagos, ilicitamente, com recursos de caixa 2 eleitoral; o patrimônio da família, declarado em R$ 6 milhões, porém, avaliado em R$ 15 milhões e… Voilá: temos robustos indícios de corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio, elisão fiscal, sonegação de tributos e falsidade ideológica. Motivos mais do que suficientes para que o presidente eleito e, agora, já diplomado, sequer tome posse.

Por fim, na quinta-feira, 13/12, dia do aniversário de 50 anos do AI-5, o Presidente eleito teria dito: “Se tiver algo errado, que paguemos”. Então pode começar a se coçar – e a coçar os bolsos – Presidente! Afinal, por muito menos, Fernando Collor foi impechmado. Por menos ainda, Dilma Roussef foi impeachmada.

É isso ou ser governado pelo chefe dos Irmãos Metralha: um contumaz e recorrente ladrão de galinhas.

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