Depois de atordoar tudo o que pensávamos sobre gênero, Pabllo confunde a imagem do homem branco heterossexual.

Cena do clipe Então Vai de Pabllo Vittar.

Podíamos fazer uma pergunta ainda mais perturbadora: do que ainda poderia ser capaz Pablo Vittar, a drag queen que conquistou audiência e fama recorde em tão pouco tempo no Brasil?

Os últimos assuntos mais comentados sobre a artista, pelo menos até o momento, são os clipes lançados recentemente em parceria com outros artistas.

Mal começávamos a levantar a discussão sobre os abraços quentes entre Vittar e o corpo viril de Lucas Lucco, ela tasca o beijo de língua em Diplo no clipe seguinte.

A resposta conservadora é esperada? Talvez. Mas agora vem de outro lugar as feridas que tocam uma sociedade ainda tão distante do que pensavam os teóricos queers da dita revolução sexual. Pablo vai além dos espetáculos drag queen e incita não somente uma relação possível entre corpos tão distintos, como se mostra produtora de desejos até mesmo no mais viril dos homens.

O fato é que corpos viris sempre foram sucesso de um público homossexual masculino, nas performances, nas boates, nos shows. Vittar pôde, desta vez, levar ao Fantástico e conquistar públicos antes imersos em outros tipos de vícios. Vale lembrar quem é Lucas Lucco (talvez você tenha precisado pesquisar isso, além de nós mesmos). Ele próprio não só constroi sobre si a imagem do homem branco cis heterossexual, como carrega um público sertanejo com as mesmas tradições. Este foi um dos xeque mates na coleção de Vittar.

Basta lembrar, em um primeiro choque, talvez Pabllo, pela fama e notoriedade, tenha sido a primeira a confundir a gramática da sexualidade de muitos de nós.

O “homem” que gosta de ser chamada de mulher, perturba o que aprenderam na escola quando se trata de sexualidade ou identidade de gênero. Vários profetas do assunto ditavam como deveríamos tratar Pabllo Vittar, ou em qual categoria devíamos encaixá-la.

O que seria agora então a “mulher em performance” que beija de língua, ou que desperta desejos sem desviar a heterossexualidade? Pois até onde se sabe, Lucas e Diplo se mantém na linha do padrão heterossexual.

À medida que ganha milhões de fãs, Vittar também movimenta uma reação furiosa que, já tendo esvaído suas críticas para fora das redes sociais, sempre volta ao reduto da web.

Era final do ano quando vi um último movimento de Vittar hatters ensaiando uma organização. Em Anápolis, interior de Goiás, a divulgação do show meses antes teria motivado uma marcha heterossexual em uma cidade que tem forjado uma série de conservadores nos postos de poder. Até onde soube, porém, eram cães que ladravam. Além de não levar mordida, Pablo Vittar foi coroada com outros prêmios que até pouco tempo o país jamais reconheceria.

Nós por aqui esperamos que o sucesso e agora a caminhada internacional possa importar algumas perturbações novas nos corações brasileiros.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Márcio Santilli

‘Caminho do meio’ para a demarcação de Terras Indígenas

NINJA

24 de Março na Argentina: Tristeza não tem fim

Renata Souza

Um março de lutas pelo clima e pela vida do povo negro

Marielle Ramires

Ecoturismo de Novo Airão ensina soluções possíveis para a economia da floresta em pé

Articulação Nacional de Agroecologia

Organizações de mulheres estimulam diversificação de cultivos

Dríade Aguiar

Não existe 'Duna B'

Movimento Sem Terra

O Caso Marielle e a contaminação das instituições do RJ

Andréia de Jesus

Feministas e Antirracistas: a voz da mulher negra periférica

André Menezes

Pega a visão: Um papo com Edi Rock, dos Racionais MC’s

FODA

A potência da Cannabis Medicinal no Sertão do Vale do São Francisco

Movimento Sem Terra

É problema de governo, camarada