Travesti, feminista, trabalhadora sexual, autora do livro "E se eu fosse puta" (Hoo Editora, 2016) e prestes a terminar o doutorado em teoria literária pela UNICAMP.
As pessoas vão percebendo que, para ser homem ou mulher, não é mais preciso ser hétero e, nisso, se dão conta também de que não é mais preciso criarem seus filhos e filhas para serem hétero.
Não é possível distinguir no olhômetro quem é travesti e quem mulher trans, sendo assim, é necessário ter cautela ao tentar estabelecer características que separariam uma identidade da outra.
Ao falarem do dia de hoje, lembrem-se de quem estava ali no batalhão da frente, dando a cara a tapa por não ter pra onde correr. Stonewall tem cor, tem etnia, tem classe, tem identidade de gênero.
Eu não sei se esse bebê vai ser cis ou trans, mas sei que ele vai crescer numa família em que, seja ele menino ou menina, tenha ele pipi ou pepeca, ele terá liberdade de sobra pra descobrir quem é e não será menos amado por isso.
Nossa compreensão de 'certo' e 'errado' segue pautada por um modelo canônico e engessado de português, não pelo português vivo e reinventado por seus falantes.
Assim que tomamos as rédeas de nossa existência, junto fomos nos apercebendo das limitações desse olhar patologizador e de o quanto ele nos impunha um eterno estado de subserviência em relação aos saberes médicos.
Pode estar por surgir a primeira geração de homens feministas, homens que sabem o que é ser criado para ser mulher e que devem, sim, participar dessa luta por um mundo onde sexo e gênero não hierarquizem indivíduos: os homens trans.