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Ilustração de Heitor Vilela

As imagens que mostram as agressões do capitão da Polícia Militar de Goiás, Augusto Sampaio de Oliveira Neto, contra Mateus, estudante de Ciências Sociais da UFG, rodaram o Brasil e chocaram as pessoas por tamanha violência.

Eu estava a poucos metros dele quando recebeu aquele golpe. Essa cena de horror ficará marcada. O cacetete do PM partiu-se e o estudante caiu ensanguentado no chão. Quando todos entenderam o que tinha acontecido, parecia que um silêncio profundo havia tomado conta das ruas. Em seguida, palavras de ordem contra a PM e mais confronto.

Mateus está nessas condições por ter escolhido o lado certo da luta: contra a retirada de direitos, a repressão e os fascistas, mas em favor da liberdade, dos direitos individuais e coletivos. Posicionar-se contra ideias ultrapassadas e conservadoras para aliar-se a um ideal revolucionário e comprometido com as agendas das juventudes, pode ser perigoso.

Com o fim da ditadura, essas violências seletivas contra estudantes e professores que se manifestam contra este ou aquele governo deveriam ter cessado! Talvez Belchior nos ajude ver melhor o quadro dessa incoerência: “Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

NÃO É APENAS UM ERRO INDIVIDUAL DO CAPITÃO SAMPAIO

A Secretaria de Segurança Pública de Goiás e seu secretário, Ricardo Balestreri, querem nos fazer acreditar que o erro é individual, como se fosse apenas um desvio de norma por parte do capitão Augusto Sampaio de Oliveira Neto. Vejamos:

A SSP errou ao mentir após os atos de violência cometidos pela PM, dizendo que o confronto aconteceu entre os próprios manifestantes e que a polícia não entrou em conflito com ninguém. Como esperado, imediatamente a imprensa local fortaleceu a narrativa do estado: Mateus teria sido agredido por outros “vândalos”.

Assim que vídeos e fotos de midiativistas surgiram, PM e imprensa tiveram que recuar. Mateus já não poderia ser taxado de vândalo, o agressor estava devidamente identificado e a agressão comprovada. Não fossem os midiativistas, atentos a tudo, jamais saberíamos quem foi o agressor – o capitão Augusto Sampaio de Oliveira Neto.

Estado, imprensa e um indivíduo desequilibrado erraram juntos. Erraram quando acertaram a cabeça daquele rapaz, acobertaram o crime e não prenderam o agressor imediatamente, por tentativa de homicídio.

Sampaio, em especial, tentou contra a vida de um jovem estudante. Deveria ser expulso da PM e processado por tentativa de homicídio. Contudo, o absurdo: mesmo diante da gravidade dos fatos e da evidente tentativa de homicídio, o capitão nem mesmo foi recolhido em seu quartel. Sampaio ficará afastado da rua enquanto seus companheiros de farda o investigam, mas poderá exercer trabalhos administrativos.

luiz da luz

Sequência de fotos que mostra o momento do ataque à Mateus.

PORQUE EU QUERO O FIM DA PM?

A formação militar da polícia a transforma em um espaço hierarquizado e corporativista, que pode esconder e proteger dentro de seus escritórios e repartições algumas pessoas do calibre do capitão Sampaio. Acontece que essas pessoas se envolvem em escândalos públicos, ficam na geladeira por um tempo e depois tem a chance de retornarem às ruas.

A PM existe para nos defender quando nossos direitos forem colocados em xeque, não para reprimir opiniões contrárias aos interesses do estado. Acontece que a PM é uma plataforma viciada, onde há muito abuso de autoridade, má conduta, ataque aos Direitos Humanos e corrupção.

É certo que existem bons policiais, mas infelizmente o problema já está engendrado nas corporações, no treinamento, na herança cultural de alguns PMs e na identidade que mantém esse grupo unido.

Eu quero uma polícia que nos defenda quando nossos direitos forem ameaçados, quero uma polícia mais humana e que viva em harmonia com as comunidades. Desejo policiais que tenham senso crítico para entenderem que o que está em jogo não são as vidraças dos bancos e, sim, as vidas e a dignidade das pessoas. Se por um lado as vidraças não fazem cócegas na arrecadação dos bancos, a vida e a dignidade das pessoas deveriam valer tudo para o estado.

Eu quero o fim da Polícia Militar pela vida do menino Robertinho, pela liberdade de Rafael Braga, pela dignidade de Mateus, pela infância da menina Gabi e para que a juventude viva e possa se manifestar livremente.

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