Kellyan Costa / Mídia NINJA

O zelador que diz ter ouvido o Presidente da República autorizar a entrada de um dos acusados de matar Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes trabalha no condomínio “Vivendas da Barra” há treze anos. O encontro dos coautores Élcio Queiroz e Ronnie Lessa, negado até então por ambos, foi confirmado pelo porteiro. Em primeiro lugar, é de se estranhar que o atual Presidente da República tenha feito toda a sua campanha naquele lugar durante meses, com seus seguranças, policiais federais, estaduais e guardas municipais, sem que ninguém, nem mesmo os policiais do sistema de informação, soubesse que o vizinho do candidato era o provável assassino de Marielle, que negociava grande quantidade de fuzis. De fato, na casa de um amigo de Ronnie Lessa foram encontrados nada menos que 117 fuzis desmontados.

Cabe observar que o Presidente da República queria autorizar a venda de fuzis para civis no país.

Além dessa estarrecedora descoberta pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, saber que o motorista e o executor do assassinato da Marielle encontraram-se horas antes do assassinato no condomínio do Presidente da República foi ainda mais surpreendente. A confirmação de que a voz era de Bolsonaro consistiria numa prova direta de que o Presidente da República mandou matar Marielle Franco. Não sendo a voz dele, o caso contra Bolsonaro não estaria encerrado. As circunstâncias e o local do encontro são indícios contra o Presidente e essa linha de investigação deve ser aprofundada. Os indícios de autoria existem, pois o assassinato de Marielle foi um crime político e Jair Bolsonaro já destilava abertamente ódio contra o PSOL, mulheres, bissexuais, negros e moradores das favelas, tudo que Marielle representava. Bolsonaro chegou ao ponto de dizer que iria metralhar a Rocinha e que a ditadura deveria ter matado mais 30 mil pessoas. Ele trata seus adversários políticos como inimigos que devem ser eliminados.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro verificou que constava na planilha do condomínio o encontro do motorista e o atirador, que estão sendo processados pelo IV Tribunal do Júri pelos assassinatos de Marielle e Anderson. E mais, tomou o depoimento do porteiro que declarou ter falado com o Presidente da República, que autorizou a entrada de Élcio Queiroz no condomínio “Vivendas da Barra” para encontrar Ronnie Lessa.

Conhecido há tempos pelos poderes do Estado e da República, o “furo” foi divulgado pela Rede Globo de Televisão.

Daí veio uma reação altamente suspeita do Presidente da República, que fez declarações ameaçadoras contra o Delegado do caso e a emissora que veiculou a notícia. O mais grave ainda foi o fato de Jair Bolsonaro ter apreendido os áudios do condomínio e explanar que a voz não era dele, como se isso resolvesse o caso. Afinal, as provas não foram analisadas pela Perícia Técnica da Polícia Civil do Rio de Janeiro, como declarou seu sindicato, que ainda verificou que os áudios foram cortados, em outras palavras, adulterados. Se o porteiro falou ou não com Bolsonaro não termina essa linha de investigação. O Presidente da República atrapalhou a instrução criminal e, além de ser um requisito para prisão preventiva, isso só fortalece o depoimento do porteiro.

Mais suspeita ainda foi a atuação do Ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, que mandou instaurar inquérito por falso testemunho contra o porteiro. É importante esclarecer que o artigo 211 do Código de Processo Penal estabelece que o juiz do processo, após a sentença, pode determinar a instauração de inquérito por falso testemunho. A inteligência da norma é óbvia, pois, se o juiz determinar ou prender alguém por falso testemunho antes da sentença, o mesmo está antecipando a decisão final.

A instauração do inquérito por falso testemunho, ainda mais existindo um processo criminal em tramitação, consiste numa coação e abuso de autoridade contra o porteiro, que pode estar falando a verdade ou mentindo, o que só pode ser verificado após a “sentença final” e depois da instrução criminal com as provas submetidas ao contraditório.

A linha de investigação contra o Presidente da República deve continuar a ser desenvolvida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro para não deixar qualquer dúvida se Jair Bolsonaro mandou ou não matar Marielle Franco.

Todo julgamento é público, pois a sociedade tem o direito de saber se o Poder Judiciário está ou não fazendo justiça. O Brasil tem o direito de saber se o Presidente da República mandou ou não matar Marielle Franco!

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