Foto: Daniel Marenco

O mundo gira no mesmo sentido e tem seus ciclos, fases e períodos. Para compreender o que estamos vivendo, é importante recordar que os fatos históricos são datados e circunstanciados. Em evidente ataque ao Estado Democrático de Direito, o “03” (zero três, Deputado Federal Eduardo Bolsonaro) declarou à jornalista Leda Nagle que poderia ser reinstaurado o terrível Ato Institucional nº 5 do regime militar. Só que ele parece ter esquecido que a ditadura aconteceu no contexto da Guerra Fria. O mundo era dividido em dois blocos, o da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS e dos Estados Unidos da América – EUA. Ele pode até pensar que é um príncipe dos Emirados Árabes, mas com um jipe, um soldado e um cabo o “03” não conseguiria implantar no Brasil uma ditadura.

A América do Sul sempre foi tratada como quintal dos Estados Unidos. Assim, nos anos 1960 e 70, inúmeros golpes de Estado foram arquitetados pelos norte-americanos, como o de 1964, no Brasil, os de 1973, no Uruguai e no Chile, e o de 1976 na Argentina. Recordamos que o primeiro aconteceu no Paraguai, em 1954, sendo que o ditador Alfredo Stroessner presidiu o país por 35 anos. Neste imenso Brasil, como poderia ser arquitetado um golpe por uma família de milicianos da Zona Oeste do Rio de Janeiro, ainda por cima de um capitão do Trump?

No “dia da mentira”, o golpe militar de 1964 foi realizado por generais e orquestrado pelo Império Americano.

Caminhando na história, depois das ditaduras, assistimos à ascensão do Neoliberalismo, com Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso no Brasil e Raul Alfonsín na Argentina. Quando FHC dizia que eram necessários 30 milhões de consumidores para que o Brasil entrasse no mercado internacional, perguntávamos: “e os outros 170 milhões de brasileiros?”. Vivíamos sob a égide da meritocracia do “horror econômico” neoliberal, segundo o qual somente os “melhores” sobreviveriam.

Depois, veio o ciclo dos líderes populares da América do Sul, quando Lula, Evo Morales, Hugo Chaves, Michele Bachelet, Nestor e Cristina Kirchner, Pepe Mujica, Rafael Correa chegaram à presidência. Agora, com o lawfare, as fake news e os golpes parlamentares, fascistas e/ou neoliberais como Bolsonaro, Macri, Piñera e Moreno chegaram ao poder. Felizmente, este pesadelo sul-americano não vai durar muito. Mauricio Macri perdeu a eleição no primeiro turno e não se reelegeu. No Chile, Sebastián Piñera está acuado, enquanto Lenín Moreno fugiu de Quito, capital do Equador.

Eis o desespero e o medo da família Bolsonaro: não conseguiram emplacar o “03” na embaixada norte-americana; o capitão do Trump é suspeito de ter mandado matar Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes; pra completar, Trump sofre processo de impeachment.

Na América no Sul, começa a crescer uma onda anti-neoliberal e antifascista.

Há fortes evidências de que Bolsonaro é o autor mediato dos assassinatos. Foi descoberto que, além de um deles ser vizinho do Presidente da República, os autores imediatos reuniram-se horas antes do crime no seu condomínio. A poderosa Rede Globo de televisão veiculou que a reunião em que foram combinados os últimos ajustes para o crime ali ocorreu e que a entrada de um deles no condomínio havia sido autorizada pelo Presidente, fato que vinha sendo abafado por dias por altos poderes da República e do estado do Rio de Janeiro. O Brasil pede a proteção do porteiro que declarou ter sido autorizado por Jair Bolsonaro a deixar entrar um dos autores do crime. Com a atual tecnologia, uma autorização como essa pode ser dada de qualquer lugar do planeta. Se já soava estranho que poderosas autoridades esconderam essa importantíssima informação da nação por dias, mais estranho ainda é o comportamento totalmente destemperado do Presidente ao ameaçar o delegado do caso e a testemunha, bem como a pressa do Ministério Público em apresentar como prova um áudio que não foi periciado pela Polícia Civil. E pasmem, o próprio suspeito Jair Bolsonaro confessou ter retirado os arquivos sonoros do sistema de vigilância do condomínio e ainda teve o desplante de dizer que fez isso para que o áudio, que consiste numa prova contra ele, não fosse adulterado. Por isso, o Presidente da República poderia ser preso por garantia da instrução criminal, um dos requisitos para a prisão preventiva.

Não se falou tanto de domínio do fato? O fim de Jair Bolsonaro pode ser no banco dos réus.

O assassinato de Marielle foi claramente um crime político que teve consequências no resultado das eleições. Se não tivesse sido assassinada, Marielle Franco teria sido a primeira mulher negra e favelada a ocupar uma cadeira do Senado da República.

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