Arte: Diêgo Arthunes / Design Ativistas

Antes de fazer ilações de que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), estaria envolvido (penso e acredito, sem ironias, de que não está) no episódio da apreensão de 39kg de cocaína em avião oficial do Grupo de Transporte Especial (GTE) da Força Aérea Brasileira (FAB), destinado ao transporte do próprio presidente e suas comitivas, em posse de um militar da Aeronáutica, membro da tripulação presidencial, as duas primeiras perguntas que faço são:

Se, em um voo comercial, passageiros e bagagens, incluindo as de mão, passam por vistoria e Raio X, isso não acontece em um voo presidencial? Não há protocolo de segurança em um voo que poderia estar transportando um Chefe de Estado e/ou assessores do primeiro escalão governamental?

É claro que há tal protocolo. Talvez até mais rigoroso do que aquele com o qual os civis estão habituados nos aeroportos. Se há, como explicar que alguém tenha passado despercebido com tamanha quantidade de drogas? Teria havido conivência de alguém? Teria, o sargento preso, agido em conluio com alguém?

Minhas dúvidas prosseguem, para além do protocolo de segurança de embarque e decolagem de uma aeronave presidencial. Vamos caminhar um pouco pra trás:

Um membro da tripulação de um avião presidencial é ou não é escolhido a dedo? Com certeza, sim. Se não pelo próprio presidente, em pessoa, seguramente pelo seu ministro de estado-chefe do gabinete de Segurança Institucional (no caso, o Gal. Augusto Heleno), a quem incube, por lei, dentre outras atribuições, a segurança pessoal do presidente e de sua família. Daí, pergunta-se:

Que tipo de segurança institucional é essa que permite que chegue perto do presidente da República, como membro da tripulação de um de seus aviões oficiais, um traficante de drogas? O GSI monitora e investiga membros do MST, do MTST, da CUT, do PT, do movimento estudantil, dos movimentos sociais e não teve capacidade de descobrir que um membro da tripulação presidencial poderia ser uma mula do tráfico internacional de drogas?

O Gal. Heleno, sem ter como justificar uma falha de tamanha magnitude de sua parte, primeiro alegou “não ter bola de cristal” para adivinhar que alguém iria embarcar com entorpecentes no avião presidencial. Não precisa bola de cristal, general! Bastava passar a bagagem no Raio X… Depois, tentando remendar a infeliz declaração, alegou ter sido “falta de sorte” o sujeito ter sido preso justamente às vésperas de um encontro internacional como a Reunião de Cúpula do G-20. Pergunto: foi falta de sorte o cara ser preso? Não era pra ter sido preso, então?

Outro aspecto que me chama a atenção é a capacidade da imprensa em utilizar eufemismos, para atenuar o efeito negativo da notícia, a depender da classe social ou da relação do suposto criminoso com o poder. Se um negro, pobre, de periferia, é preso na rua fumando um baseado, logo falam: “marginal, nóiado, tem que prender, mata, espanca.” Mas, se um militar da Aeronáutica é preso, em flagrante delito, praticando tráfico internacional de drogas, em um dos dois aviões oficiais do presidente, a manchete é : “Sargento é detido suspeito de transportar substâncias entorpecentes em aeronave reserva da presidência.” Talvez, se tivesse ocorrido durante os governos Lula ou Dilma, a manchete seria: “Militar foi preso por tráfico internacional de drogas, portando 39kg de cocaína em avião do presidente.” Percebem a diferença?

Já não bastasse a presença do presidente da República na lista de Furnas; as doações ilegais de campanha da JBS (lavadas no antigo partido e posteriormente recebidas por ele); a Wal do Açaí; os disparos ilegais em massa de fake news, por intermédio do aplicativo WhatsApp, pagos com recursos ilícitos oriundos de caixa 2 eleitoral; os laranjas do PSL; o envolvimento com milícias; o vizinho miliciano que assassinou Marielle e que armazenava fuzis em sua residência (situada ao lado da casa do Presidente); os parentes da ex-esposa empregados nos gabinetes parlamentares dos filhos; as sucessivas trapalhadas e deboches dos membros de seu gabinete ministerial, sobretudo por parte dos integrantes do núcleo dos olavetes lunáticos; agora ainda tem tráfico internacional de drogas no avião presidencial! Véi, na boa: é muito B.O. para um presidente da República só, mano!

Sem esquecer do Queiroz, claro! Aliás, cadê o Queiroz? E, por que não lembrar do Adélio? Ah, Adélio, Adélio… Conta a verdade pra nós, Adélio.

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