Os governos de Jair Bolsonaro (PSL) e Gladson Cameli (PROGRESSISTAS) estão absolutamente parados. São quatro meses de imobilismo e inércia.

Foto: Daniel Marenco

No caso Federal, o mandatário maior da República está dependurado em uma única brocha: a reforma da Previdência. Se não conseguir aprová-la, perde o apoio dos segmentos sociais mais abastados e que, até o momento, ainda se mantém firmes ao seu lado: militares, servidores públicos de alto escalão, banqueiros, rentistas, financistas, grandes conglomerados da indústria e comércio e a grande mídia familiar, tradicional, conservadora e sonegadora de impostos do país, todos ávidos por, de um lado, a manutenção de seus privilégios; e, de outro, pelas desonerações que a reforma lhes permitirá, às custas do sacrifício de seus empregados.

Na hipótese de não aprovação da reforma e em se concretizando o desembarque de tais forças do governo, com elas vai a classe média, eterna massa de manobra dos ricos e poderosos.

Porque no meio do caminho em que se encontram entre a Casa Grande e a Senzala, sempre acreditaram estar mais próximos da primeira quando, em verdade, sempre estiveram e estarão eternamente mais próximos da segunda.

Ao mesmo tempo, é progressiva à baixa na popularidade de Bolsonaro junto às camadas mais humildes da população (a exceção da Região Norte). Contrários, desde o princípio, à reforma da Previdência, a insatisfação de tais segmentos sociais também se dá em virtude do citado imobilismo do governo, que resulta em ineficiência e ineficácia nas ações concretas de suas áreas mais sensíveis: educação, saúde, assistência & seguridade social e segurança pública.

Essa aposta ao estilo “tudo-ou-nada”, em uma única bala de prata, pode resultar em desastre para o governo.
No caso do Acre, os dados do Relatório Resumido da Execução Orçamentária — RREO, publicados pela Secretaria do Tesouro Nacional, relativos ao primeiro bimestre de 2019, mostram que, se por um lado, o governo estadual fez o dever de casa ao cortar despesas de custeio, incluindo gastos com a folha de pagamento; por outro, não redirecionou tais economias para novos investimentos, gerando retração da receita total, mesmo diante de uma ampliação significativa dos repasses constitucionais da União.

Os dados do RREO explicam as razões em virtude das quais o PIB acreano se retraiu e os empregos diminuíram em mais de 1.000 postos formais de trabalho, com carteira assinada, nesse início de ano. Em 4 meses de gestão, a administração de Camelo ainda não conseguiu induzir a recuperação da geração de empregos, uma vez que o denominado “consumo do governo” (fator importante no PIB) foi trocado pela “nova poupança”, fato confirmado especialmente pela ausência absoluta de novos investimentos.

E sem investimento público em um bom pacote de obras de infraestrutura e em programas sociais, não há como a iniciativa privada, sozinha, gerar empregos e, consequentemente, distribuir renda, reduzir as desigualdades e promover a inclusão social.
Mesmo na visão mais extremada da direita brasileira (liberal na economia e conservadora nos costumes, como eles mesmos gostam de se intitular), o Estado não pode deixar de desempenhar um papel de fomento, de indutor e de regulador da economia. Mesmo sem intervir ou atuar diretamente nos domínios do mercado, o Estado deve apontar caminhos: realizar investimentos públicos; fomentar a iniciativa privada com incentivos fiscais e outros estímulos; e impor regras que impeçam, tanto a autofagia típica do capitalismo selvagem; quanto os abusos e excessos que, na ausência de regras estatais, podem ser cometidos para com os consumidores.

Ao invés de focar suas atenções nisso, ambos os governos, estadual e federal, preferem concentrar suas energias no supérfluo: no plano nacional, as disputas de poder entre o núcleo dos militares, de um lado, e dos olavetes lunáticos, de outro; as barbeiragens e trapalhadas dos membros da Famíglia; e o envolvimento dos Bolsonaro nos esquemas de laranjas do PSL e com milícias e milicianos do Rio de Janeiro acabam drenando as energias da equipe de governo e dominando a pauta diária da imprensa.

Gasta-se mais tempo comentando-se as declarações diárias e desastrosas do presidente do que discutindo economia.
No plano estadual, debates sobre a “despetização” da gestão; disputas internas por cargos e a consequente descoesão da base de situação na ALEAC, impondo derrotas precoces ao governo; e a mudança de nomes, de cores e até a supressão de placas de inaugurações antigas de prédios públicos dominam a atenção dos governantes, que deixam de se concentrar naquilo que de fato interessa: como fazer para que a situação dos serviços públicos melhore em relação aos governos anteriores. Por enquanto, só piorou.

Ao fazerem isso, ambos os governos cometem os erros dos quais nos acusam sempre: governam sob orientação de um forte “viés ideológico”, que acaba lhes cegando a vista e impedindo-os de enxergar o horizonte. A eles, lhes parece mais importante adotar medidas persecutórias para impedir que o PT e as forças progressistas de esquerda retornem ao poder do que, propriamente, governar para fazer o bem ao povo, a maioria seus eleitores, que neles depositaram expectativas e esperanças de um futuro melhor.

Como diria o poeta, “o ódio cega, mas ninguém percebe”.

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