Foto: Arthur Marrocos

Depois da vitória emocionante no encontro eleitoral que definiu Marília Arraes como candidata ao governo de Pernambuco, segue o principal momento de enfrentamento, junto à direção nacional do PT.

Um dia antes, a executiva nacional resolveu rifar a candidatura de Marília em troca de um acordo de neutralidade com o PSB. O recurso foi interposto e será julgado pela direção nacional hoje. A celeuma reacendeu o debate sobre o pragmatismo da política.

Quem defende a aliança do PT com o PSB, o faz em nome de deliberações de ordem pragmática, a real politica que criou as condições para que fosse dado um golpe em Dilma e no país e colocado Lula na cadeia.

Como bem apontou Marcelo Neves, o que aconteceu no Brasil nunca foi governo de coalizão. Foi um governo de extorsão.

Os “aliados” escarneciam do PT, impunham condições absurdas o tempo todo, sob pena de inviabilizar o governo de Lula, travando a pauta do congresso, criando caos, ameaçando e determinando em boa medida o campo em que Lula podia ou não caminhar.

O golpe foi o preço alto que pagamos por alimentarmos o inimigo de que ficamos reféns.

Ao mesmo tempo, o golpe foi a comprovação cabal de que esse método aliancista tem limites claros e que conhecer e respeitar esses limites é questão de sobrevivência.

E se os olhos de todo o Brasil estão nesse momento voltados para Pernambuco, é porque o que está ocorrendo aqui é determinante para os próximos passos do PT nessa fase de reconstrução do partido.

Ouvi jornalistas de São Paulo alinhados com a orientação da executiva nacional afirmando que um interesse regional não poderia se sobrepor aos interesses nacionais do PT.

Para quem é acostumado a tratar o nordeste como inferiorizado, pode ficar surpreso com o que vou dizer, mas nesse momento, Pernambuco é o Brasil.

O que se decidir acerca de Pernambuco será decisivo para a orientação partidária em todo Brasil.

Será respondida a pergunta: o PT não aprendeu com seus erros?

A resposta da militância já foi dada.

Nós aprendemos.

Aprendemos a não baixar a cabeça para decisões da cúpula quando essas se mostram desconectadas da base e dos movimentos sociais e prejudiciais ao povo.

Real politik não é stupid politik. Pragmatismo é compreensível. Burrice, não.

Ou, como nossas avós ensinaram, quem muito se abaixa mostra as calcinhas.

A quem acha que a decisão da executiva nacional é uma questão de tática e cálculo, vou resumir: essa matemática está errada.

Calculam que o acordo com o PSB neutralizaria Ciro e ainda serviria para fazer uma bancada de deputados federais pernambucanos.

Entretanto, o PDT já anunciou que pretende lançar Túlio Gadêlha, o “namorado de Fátima Bernardes”, ao governo do estado, caso a candidatura de Marília não se consolide.

Pernambuco não tem tradição de votar em celebridades.

Mas o PDT enxergou o óbvio: se houver vácuo deixado por Marília, há uma estrada aberta para um eleitor furioso, que se sente traído e órfão e que não quer votar no golpista Paulo Câmara ou em Armando Monteiro.

Gostem ou não, Ciro Gomes vai ganhar um palanque de peso em Pernambuco, que é, até agora, o estado brasileiro em que a intenção de voto em Lula é maior.

Humberto Costa subirá no palanque com a mesma canalhada que que votou a favor do golpe e ainda dará as mãos a Jarbas Vasconcelos, anti-petista assumido e também candidato à vaga no Senado pela mesma chapa.

Aliás, os golpistas continuam dizendo que são anti-petistas e que não votam em Lula de jeito nenhum.

Conseguem imaginar um palanque esquizofrênico como esse? As vaias que Humberto levou ontem no encontro eleitoral vão se repetir todas as vezes ele subir num palanque.

Pior: se Gleisi Hoffmann vier a substituir Lula no pleito, ela também perderá o palanque em Pernambuco.

Esse acordo é burro porque troca o estado com maior intenção de votos em Lula e com maior possibilidade de transferência de votos em um estado hostil aos candidatos petistas.

Inclusive para nós que pleiteamos uma vaga a deputados e deputadas federais. Fizemos e refizemos esse cálculo várias vezes. A aliança com o PSB aniquila as chances de cumprirmos a tarefa de reforçar nossa bancada na Câmara Federal. Essa tarefa somente conseguiremos cumprir ao lado de Marília, que vai somar os anseios das urnas em Pernambuco: Lula + renovação da política e do partido.

Se a candidatura de Marília for rifada, mesmo que a própria Marília entre para acalmar os ânimos, a revolta da militância e do eleitorado pernambucano não será aplacada.

Porque ao fim e ao cabo essa disputa não é por Marília. É pelo PT. Pelo partido que queremos construir. Mas antes de tudo, é para demarcar nossa posição, de militantes, dentro do partido.

A cúpula pode não ter aprendido, mas nós aprendemos.

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