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A liberdade de expressão é um direito fundamental previsto na nossa Constituição. Direito que se inscreve dentro de certos limites, também definidos na Carta Magna, e que são importantes para impedir que, sob a salvaguarda da liberdade de expressão, se propague o ódio, o preconceito e se permita que os poderosos grupos privados de comunicação imponham sua visão de mundo para a sociedade de forma despótica.

A mídia privada, no entanto, parece ignorar que seu papel social requer responsabilidade e que ela deve responder por seus erros e, inclusive, por seus abusos.

O editorial desta quarta-feira, 18 de abril, do jornal Folha de S.Paulo é para lá de abusivo. Truculentos e pueris é o título do texto no qual a Folha expressa sua opinião sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

O texto extrapola a crítica. É um manifesto público que criminaliza a ação política de organizações que têm pautas legítimas de reparação social e de luta em defesa de direitos – também fundamentais – como o direito à terra e à moradia. Incita os seus leitores ao ódio e ao medo, à medida em que atribui aos movimentos a organização de “sangrentas manifestações populares”.

A aversão ao direito à livre manifestação é algo que está no DNA dos barões da mídia.

Mas o que eles ocultam – propositadamente – é que o sangue, quando jorra, não é pela manifestação dos movimentos, mas pela ação – essa sim truculenta – das polícias militares que reprimem com violência o movimento social.

O editorial da Folha é uma peça exemplar da manipulação da opinião. Afirmam que os movimentos não têm líderes, que houve amplo apoio popular ao impeachment, e tentam afirmar que é fantasiosa a ideia de que o Brasil sofreu um golpe.

Ora, a ruptura institucional que ocorreu no Brasil foi um golpe, reconhecido como tal pela grande mídia internacional, como New York Times, The Guardian, Washington Post e outros grandes jornais do mundo. E que só não é chamado por este nome por Folha e Cia. justamente porque foi o consórcio entre os meios de comunicação oligopolizados do Brasil que construíram toda a narrativa para que o golpe pudesse ser efetivado. O golpe é midiático, jurídico – porque contou com a operação deslavadamente política de setor do Poder Judiciário, que conduziu a Operação Lava Jato –, e parlamentar, porque contou com o apoio do parlamento mais conservador e venal da história recente do país.

As ocupações, principal ação política do movimento social que luta pela terra e moradia, sempre são tratadas como invasões para dar um tom de ilegalidade e, com isso, levar a população a se colocar contra o movimento.

Ao usar da força simbólica da imprensa e de um veículo que se auto-declara responsável por produzir um “jornalismo profissional”, para construir sua credibilidade baseada na ideia de que produz um jornalismo apartidário, neutro e imparcial, a Folha de S.Paulo manipula de forma vil a opinião pública e estimula o preconceito da sociedade contra essas entidades e contra os movimentos sociais.

Em suas páginas noticiosas, não abre uma linha de espaço para ouvir as lideranças destes movimentos – que ela taxa de não terem ideias – e não cumpre seu papel de oferecer à sociedade um espectro mais amplo de olhares sobre os acontecimentos, dando espaço para o contraditório.

Estão, talvez lá no fundo, a Folha esteja se sentido traída pelo fato de o MTST ter feito – com a ocupação do Triplex do Guarujá – o que nenhum veículo da mídia hegemônica fez desde o início de todo este processo – mostrado o interior do apartamento e, com isso, apresentar jornalismo de fato, divulgando imagens que reforçam ainda mais a tirania do discurso da mídia e da Lava Jato sobre o processo que levou o ex-presidente Lula à prisão.

Quando o jornal utiliza suas páginas para constranger, diminuir, estigmatizar criminalizar e esteriotipar movimentos que reúnem dezenas de milhares de brasileiros e brasileiras, abusa da liberdade de expressão. É isso que o editorial da Folha fez: um ataque gratuito ao movimento social, em particular o MTST e ao MST. O jornal deveria, no mínimo, conceder a estes movimentos o direito de resposta, para que eles possam se defender do discurso do ódio exalado a cada linha do texto publicado nesta quarta-feira.

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