esse texto contém palavrões 🙂

Antes de mais nada, é preciso saber de que filme estamos falando. Pantera Negra é um fenômeno.

Superou “O Cavaleiro das Trevas” e se tornou o filme de super-herói mais aclamado da história no Rotten Tomatoes e Metacritic. Uma projeção mostrou que #BlackPanther arrecadará somente nos EU o que Liga da Justiça fez mundialmente. E no Brasil, o longa lidera a bilheteria dos cinemas, tendo arrecadado mais de R$ 30 milhões em sua semana de estreia. Mais 1,6 milhões de pessoas que já assistiram.

Se ficou dúvida, isso também significa muito dinheiro. E aparentemente gera muito ódio. Nos Estados Unidos, por exemplo, um bando de branco desocupado plantou relatos falsos no Twitter sobre agressões que “sofreram” ao tentar ir ao cinema. Aqui no Brasil, transmiti ao vivo o rolêzinho convocado para assistir ao filme no Shopping Leblon. Entre os comentários, tinha coisa do tipo “Imagine o tanto de celular que “sumiu”, ou então “Vai fazer rolezinho na escola”, como se a gente tivesse acesso real a educação.

Como bem sabemos, a casa grande pira.

Porém, aqui é atura ou surta e lotamos mais uma sala.

Foram avassaladores 134 minutos de efeitos especiais, figurinos impecáveis, locações formidáveis, atuações emocionantes e porra – todo mundo era lindo pra caralho. Digno de Hollywood mesmo, rios de dinheiro, pique espetáculo.

O importante mesmo é que Pantera é de fato um filme negro. A história de Wakanda foi dirigida por preto, com elenco preto, falando de uma terra preta, levando pretos ao cinema. Pantera Negra é um marco histórico na minha auto estima, mas principalmente, é marco histórico na normose de ser preto. É um filme sobre nós, para nós, mas também é um manifesto. O jeito mais “calmo” que encontramos de dizer “acorda brancos!”. A indústria anunciou em Formation e agora toma em Black Panther. Tomou $ 75,8 milhões de dólares para ser exata.

A película simplesmente fala com você. Black Panther reascende todos os sentimentos em torno de ser negro. Do humor ao ódio. Do amor próprio ao desejo romântico. Eu urrei junto de M’Baku quando ele disse “Você não pode falar!” ao branco tacanho e nada educado Everett. Eu fui os dois lados do embate entre T’Challa e Erick. Me vi até quando uma das crianças sugeriu vender umas das peças da nave.

Eu também sou todas as mulheres. Fui Okoye todas as vezes que precisei defender a mim e os meus de injustiça. Fui Nakia ao escolher traçar um caminho próprio e ser julgada por isso (ainda não engoli que ela ficou no fim, by the way). Fui Shuri ao provar seguidas vezes que era capaz. Fui Ramona ao resistir até o fim por todos aqueles que amo. E meu palpite é que T’Challa só vence seu primeiro desafio porque ele tem sua mãe. É o tipo de força que só a presença de uma mulher negra pode lhe conferir.

A vivência negra está nos detalhes. O traje do rei-herói por exemplo: Ela absorve os golpes que recebe e acumula a energia cinética para devolver ao seu oponente. É uma metáfora perfeita para pessoas oprimidas, usar aquilo que foi feito para prejudicá-lo como poder, como resposta, como luta. E o fato de que foi desenvolvido por uma mulher negra só torna as coisas mais poéticas.

Assistir aquilo dá uma sensação crescente de… Porra, como é bom se ver numa tela grande. Como é bom ser representado em uma complexidade maior, como é bom ser referência central de beleza, como é bom ver sua terra natal apresentada como digna e próspera. Como é bom… ser branco? Não. Como é bom ser normal.

Foi algo que senti raras vezes. Senti quando via Rihanna se vingar de homens em seus clipes. Quando Beyoncé admitia ter ciúmes nos que ela fazia. Quando ela se uniu a Nicki Minaj numa ode a masturbação feminina. Quando Dear White People estreou. Quando as Carois cantaram 100% feminista. Quando Elza perguntou cadê seu celular. Quando Aline e Karin fazem parte do Rouge. Quando Thais protagoniza pela primeira vez. Ou seja, quando a arte considera que somos parte importante da população mundial.

Saí da sala com um sentimento de “deve ser assim que os brancos se sentem”, mas estou lutando pra chegar num lugar que “é assim que as coisas são de fato”. Por roteiristas, dubladores, staff 100% negro, pelo fortalecimento de narrativas outras, urbanas, rurais, históricas, porque negros, como Killmonger bem disse, estamos em todos os lugares.

Porque nada que gera esse tipo de reação num cinema deve ser criminalizado. Porque nós não somos gatos domesticados, não cabemos em uma caixa.

Porque não queremos ser salvos para viver uma vida de escravidão. Porque queremos Wakanda para sempre, Colonizador.

 

via Instagram @okoyeforever

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